Famílias estão a gastar mais em hospitais e farmácias
Embora o Estado financie dois terços da despesa em saúde, 27,4% é paga pelas famílias. A maior parte deste dinheiro é gasto em hospitais e consultas privadas. Farmácias também pesam muito no orçamento das famílias.
As famílias pagam do seu bolso 27,4% dos gastos totais em saúde em Portugal – qualquer coisa como 4,45 mil milhões de euros. O restante é pago, essencialmente, pelo Estado, que suporta cerca de dois terços da despesa global. E em que prestadores de cuidados de saúde é que as famílias gastam o seu dinheiro? Os dados da Conta Satélite da Saúde, referentes a 2015 e 2016, que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou ontem, permitem ir mais longe e perceber em detalhe para onde vai o orçamento que as famílias dedicam à saúde. A principal rubrica de despesa são as consultas privadas e outros prestadores de cuidados de saúde em regime ambulatório, que representam cerca de 40% da despesa das famílias em saúde. Porém, apesar de ser a principal despesa, os portugueses não têm vindo a aumentar os gastos nos consultórios privados. É nos hospitais privados que a subida é mais evidente: os gastos nestas unidades já representam 14,7% do total, contra 14,4% em 2014. Mas o aumento é sobretudo impressionante quando visto em perspectiva: em 15 anos, as despesas com hospitais privados quase triplicaram, subindo 182%. A despesa nas farmácias também voltou a aumentar. Depois de um período de sucessivas quebras, fruto das várias medidas legislativas e do alargamento dos genéricos, os custos dos agregados familiares nas farmácias ganharam um ligeiro
Taxas fizeram disparar gastos no sector público Cuidados curativos são a principal despesa
Já ficou claro onde é que as famílias gastam o seu dinheiro, sobra agora outra pergunta: em quê? Segundo os dados do INE, os cuidados curativos, de reabilitação e continuados constituem a principal despesa dos agregados familiares. São 2,5 mil milhões de euros (dos 4,45 mil milhões), a maior parte (82%) dos quais se destinam a cuidados sem internamento. Os artigos médicos que as famílias têm de comprar registam também um peso muito relevante, representando cerca de um terço das despesas das famílias. Em termos de evolução, são os custos com cuidados curativos e de reabilitação que mais aumentaram ao longo do tempo, mais do que duplicando em 15 anos. peso na factura global das famílias com saúde em 2015: passou de 24,2% para 24,4%. É sobretudo no sector privado que as famílias gastam o dinheiro. Não porque usem mais os serviços privados do que os públicos, mas apenas porque aqueles lhes saem muito mais caro do que os cuidados prestados pelo SNS (excluindo o custo indirecto que suportam pela via fiscal). Assim, o peso dos gastos em hospitais públicos é de apenas 1,8% e nos centros de saúde não vai além de 2%. Apesar disso, este é um nível recorde que se explica pelo enorme agravamento das taxas moderadores em 2012, em pleno programa de ajustamento da troika. Nesse ano, os gastos nos centros de saúde, por exemplo, dispararam 150%. Como os dados são de 2015, ainda não reflectem a redução destas taxas operada em 2016.