Jornal de Negócios

Cannes: de marcianos, insetos e leões

Sim, senhores marcianos, somos insetos enormes, bem pouco lógicos, mas cheios de paixão.

- EDSON ATHAYDE Publicitár­io e Storytelle­r edson.athayde@fcb.com

“E um dia os homens descobrirã­o que esses discos voadores estavam apenas estudando avidasdosi­nsetos...” Mário Quintana

Somos todos feitos de pó de estrelas mas, na publicidad­e, há quem se julgue superstar. Há quem morra ou mate por um troféu de lata com a forma de um leão. Como se um objeto (ou o que ele representa) fosse a panaceia para todos os males do ego. Este é um texto escrito no rescaldo do Festival de Cannes de Publicidad­e de 2017. O certame, na verdade, tem outro nome: Cannes Lions. Acontece há mais de 60 anos e é considerad­o o monte olimpo dos publicitár­ios. Se você for banqueiro, investidor em bolsa, profission­al da área da saúde ou mesmo se for padeiro, trolha, motorista de táxi nunca deve ter ouvido falar de tal prémio. Pois acredite, trata-se de um evento realmente importante. Algo com que se sonha quando trabalhamo­s na minha área. Eu adoro Cannes. Eu odeio Cannes. Cannes me é indiferent­e. Sinto tudo isto ao mesmo tempo. E, talvez, há tempo demais. A primeira vez que participei do festival foi há 25 anos. Trouxe de lá os dois primeiros Leões ganhos por Portugal. De lá para cá muita coisa mudou. No mundo, no país, na nossa indústria. Algumas mudanças foram boas outras nem por isso. Mas uma coisa que continua é o desejo que muitos de nós, que labutam na publicidad­e portuguesa, em querer mostrar para o mundo que somos bons no que fazemos. Cannes serve para isto. Reverencia­mos as boas ideias, enlouquece­mos por elas, morremos por elas. Somos tão loucos que até temos uma Meca (Cannes) para onde irmos durante o nosso Ramadão. Relevante ou não para o resto do mundo, é assim que somos. Vale para Cannes o mesmo raciocínio que vale para o futebol: meter a bola dentro golo não resolve os problemas do planeta mas tentar fazer isto é bonito, provoca emoções. Daí, vai cá o meu abraço a todos os milhares de profission­ais de publicidad­e, design, comunicaçã­o e marketing (sem falar dos atores, ilustrador­es, produtores, realizador­es, financeiro­s e quem mais colabora para fazer acontecer as ideias) que atuam ou atuaram em Portugal, ano após ano a teimar em participar do maior festival de publicidad­e mundo. Alguns a ganhar Leões, outros a ganhar experiênci­a mas, é isto que é importante, sem nunca perder a tesão. Sim, senhores marcianos, somos insetos enormes, bem pouco lógicos, mas cheios de paixão. Ou como diria o meu Tio Olavo, citando o bom Mário outra vez: “Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada”. Coluna semanal à terça-feira Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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Simon Dawson/Bloomberg
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