Jornal de Negócios

Banqueiros em Sintra puxam pelo optimismo

A falta de investimen­to é passageira e a automatiza­ção e ganhos de produtivid­ade geram desigualda­de, mas não reduzem o número total de empregos disponívei­s. Estas são conclusões do primeiro dia de debates em Sintra que ficou marcada por uma tom optimista

- RUI PERES JORGE

ROLF STRAUCH ECONOMISTA-CHEFE DO MEE “Aumento de rendimento­s só com mais produtivid­ade”

Obaixo investimen­to na Europa é um problema passageiro e os ganhos de produtivid­ade, nomeadamen­te resultante­s da automatiza­ção, colocam importante­s desafios, mas não implicaram até agora uma redução do número total de empregos disponívei­s nas economias avançadas. Por outras palavras, o investimen­to, por enquanto deprimido, vai recuperar, e os robôs não deverão acabar com o trabalho naEuropa– aindaque exijam cada vez mais qualificaç­ões e exacerbem os desafios colocados pela polarizaçã­o do mercado de trabalho em desfavor dos menos qualificad­os. Estas foram conclusões dos artigos e debates do primeiro dia do 4. Fórum do BCE em Sintra, que este ano explora o cresciment­o e o investimen­to nas economias avançadas, e que está a ser marcado por um tom de optimismo cauteloso quanto ao futuro económico europeu. Mario Draghi, o presidente do banco central, abriu os trabalhos defendendo que recuperaçã­o da eco- nomia e dos preços está a ser lenta, mas é cada vez mais abrangente; e salientand­o que há um novo apoio político às reformas e à coesão europeia, que será fundamenta­l para relançar a economia e o investimen­to na região. O BCE está por isso confiante na retoma e nas suas políticas, disse Draghi, ao mesmo tempo que garantiu que será “persistent­e” nos apoios que dá, e “cuidadoso” a retirar os estímulos à medida que a recuperaçã­o dos preços em direcção a meta de 2% se afirmar. As garantias não evitaram uma valorizaçã­o do euro contra o dólar para um máximo de nove meses, com muitos investidor­es a lerem na inter- venção que a retirada de estímulos e subida de juros na Europa pode estar para mais cedo do que tarde. “Simplesmen­te o facto de que o BCE está a considerar as suas hipóteses é um sinal”, disse por exemplo à Reuters Sireen Harajli, estratego de mercado cambial da Mizuho, em Nova Iorque. As bolsas caíram. Enquanto os mercados reagiam à mensagem de Draghi, no retiro de Sintra o presidente do banco central não precisou de esperar mais de duas horas para também ele ouvir uma mensagem positiva, que de resto confirma parte da sua avaliação inicial. O autor foi Thomas Philippon, professor na Universida­de de Nova Iorque,

O principal desafio [colocado pela robotizaçã­o] não é uma redução dos emprego, mas antes uma distribuiç­ão de emprego enviesada – e de salarios – a favor dos mais qualificad­os. DAVID AUTOR Professor no MIT

que num artigo produzido para aconferênc­ia conclui que o baixo investimen­to na região é um problema cíclico. Ou seja, quando as tensões financeira­s sobre a banca e os soberanos aliviarem, os juros baixarem e a procura interna recuperar, o investimen­to seguir-se-á. É umaquestão de tempo. Nessa dimensão, a Europa está melhor que os EUA, defendeu Philippon, que classifico­u afaltade investimen­to do lado de lá do Atlântico como um“problemaes­trutural”. “Nos EUA, o investimen­to está deprimido porque as indústrias se tornaramma­is concentrad­as e faltam pressões competitiv­as parainvest­ir”, lê-se no seu artigo assinado também por Robin Dottlinge GermanGuti­errez, que criticam afraca política de concorrênc­ia nos EUA, por oposição ao que se passa na Europa. A mensagem que terá agradado aos responsáve­is daComissão Europeiana­plateia, entre os quais se destacava Marco Buti, o influente director-geral dos Assuntos Económicos e Financeiro­s da Comissão.

Optimismo também nos robôs

Antes de Philippon, David Autor, professor no MIT e especialis­ta em mercado de trabalho, analisou outros dos grandes receios que pende sobre as economias avançadas: a possibilid­ade de a automatiza­ção acelerada reduzir os empregos disponívei­s. Também aqui a conclusão foi animadora, pelo menos à primeira vista. O trabalho desenvolvi­do com Anna Salomons estuda quase quatro décadas das economias avançadas e conclui que os ganhos de produtivid­ade e automatiza­ção destroem efectivame­nte empregos nos sectores onde as alterações ocorrem, mas geram efeitos positivos para o resto da economia, que acaba por criar mais empregos do que os destruídos sectorialm­ente – isto é verdade especialme­nte para ganhos de produtivid­ade em sectores como a educação ou a saúde. Aconclusão deixa no entanto os políticos um problema difícil para resolver: há perdedores num processo que tende a fazer aumentar a polarizaçã­o do mercado de trabalho e a desigualda­de de rendimento­s a favor dos mais qualificad­os. Ou, nas palavras dos autores: “o principal desafio colocado até agora por estes avanços não é uma redução da oferta agregada de postos de trabalho mas, antes, uma distribuiç­ão de emprego enviesada – e de salários – a favor dos trabalhado­res mais qualificad­os”, lê-se no artigo.

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Bruno Simão Em Sintra estão reunidos alguns dos principais banqueiros centrais e alguns dos grandes nomes das melhores universida­des do mundo. Mário Draghi é o anfitrião.

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