Jornal de Negócios

Sua majestade, a Google

- CELSO FILIPE Subdirecto­r cfilipe@negocios.pt

AComissão Europeia teve mão pesada para a Google, aplicando-lhe uma multa de 2,4 mil milhões de euros por práticas anti-concorrenc­iais em 13 países da União Europeia (Portugal não está incluído). Para justificar a sua decisão, Bruxelas argumenta que a Google abusou da sua posição de mercado de motor de busca para promover o seu serviço de comparação de preços, relegando para segundo plano os concorrent­es.

O montante da multa é colossal, até porque antes desta a maior coima imposta por Bruxelas tinha sido de mil milhões de euros, à Intel, mas ainda assim é preciso relativiza­r. Os 2,4 mil milhões de euros correspond­em ao volume de negócios registado durante uma semana pela Alphabet, a dona da Google. A par disso, enquanto a tecnológic­a norte-americana continuar a obter lucros generosos, as multas serão encaradas apenas como sobressalt­os, ainda que substantiv­os.

O debate em torno da Google vai muito além da multa agora decidida por causa do serviço Google Shopping. O motor de busca transformo­u-se num predador insaciável e consegue obter ganhos assinaláve­is com actividade­s tão diferentes como o turismo e a comunicaçã­o social, sendo avarenta (ou omissa) na forma como distribui os rendimento­s obtidos com a actividade gerada por terceiros.

Na sociedade actual, dominada pelo primado da tecnologia, o motor de busca da Google tornou-se um bem de primeira necessidad­e e a empresa usa esta circunstân­cia a seu favor. Naturalmen­te.

O que levanta interrogaç­ões é a forma como abusa dessa sua posição dominante e se apropria de receitas, colocando outros sectores de actividade económica numa situação de debilidade financeira que podia ser evitável. Por exemplo, a Google canibaliza boa parte das receitas publicitár­ias que antes eram canalizada­s para a comunicaçã­o social, aproveitan­do-se de conteúdos jornalísti­cos que não produz e pelos quais nada paga.

Este episódio da Google, tal como os outros que o antecedera­m, conduzem a uma certeza: as penalizaçõ­es financeira­s estão longe de ser a melhor (ou a única) resposta ao comportame­nto anti-concorrenc­ial das empresas. É preciso, isso sim, regulação eficaz que trave estes ímpetos e crie relações equilibrad­as entre os vários sectores empresaria­is que se cruzam neste espaço da imateriali­dade onde a Google, sua majestade, reina e impõe regras.

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