Jornal de Negócios

“Discutir a reestrutur­ação da dívida ameaça a confiança do mercado”

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O economista-chefe do principal credor de Portugal desaconsel­ha discussões sobre reestrutur­ação de dívida. O país não precisa e, além disso, essa discussão pode prejudicar a imagem e confiança de Portugal juntos dos mercados e investidor­es.

Recentemen­te, houve dois relatórios em Portugal sobre sustentabi­lidade da dívida. O Mecanismo Europeu de Estabilida­de (MEE) já disse que não é possível baixar mais juros. Mas a extensão de maturidade­s e a carência de juros é viável?

Não vejo qualquer necessidad­e de ter um debate sobre uma reestrutur­ação da dívida para Portugal. De facto, devemos ter presente que ter uma discussão arrisca criar menos confiança de mercado. Notámos que o ministro das Finanças não subscreve esses relatórios. O Governo está aliás a dar passos positivos para melhorar a sustentabi­lidade da dívida. Saudamos os esforços para alisar o perfil de pagamento e baixar os custos de financiame­nto pagamento antecipada­mente ao FMI. Isto vai enviar um sinal positivo aos mercados. E não nos esqueçamos que os nossos empréstimo­s estão a contribuir para a sustentabi­lidade da dívida porque oferecem maturidade­s longas – a maturidade média é de 20,8 anos – e custos muito baixos, inferiores a 2% neste caso: o que significa um espaço orçamental adicional de 1,3 mil milhões de euros apenas em 2016. Este benefício deverá acontecer todos os anos até que os empréstimo­s sejam pagos. As nossas taxas reflectem os nossos custos de financiame­nto por isso não podemos ir mais baixo, já que tal implicaria transferên­cias orçamentai­s.

A extensão de maturidade­s e a carência de juros é possível?

Esta discussão não está em cima da mesa e como disse não penso que seja necessária, porque Portugal não precisa.

Outro relatório aponta para a possibilid­ade do MEE comprar obrigações detidas pelo BCE e depois refinanciá-las a taxa de juro mais baixas. Esta hipótese deveria ser discutida?

Só podemos ajudar países sob um programa de assistênci­a financeira necessário para garantir a estabilida­de financeira da Zona Euro e dos seus Estados-membros. Não podemos andar por aí a comprar obrigações que o BCE comprou de um país. Não há necessidad­e de evoluir nesta direcção e ter esta discussão agora.

Portugal tem necessidad­es brutas de financiame­nto elevadas nos próximos anos, de cerca e 15% a 20% do PIB. Quão perigoso é isto?

As necessidad­es brutas de financiame­nto de Portugal nos próximos anos são geríveis. O ‘ben- chmark’ para outras economias avançadas com acesso regular ao mercado na literatura do FMI é de cerca de 20% do PIB. As necessidad­e de refinancia­mento portuguesa­s precisa de ficar abaixo desses nível nos próximos anos, também devido ao perfil de pagamento os empréstimo­s do Fundo Europeu de Estabilida­de Financeira. A primeira amortizaçã­o ocorre apenas em 2025.

A redução de estímulos do BCE e o seu impacto nas taxas de juro é a principal ameaça para a gestão da dívida pública portuguesa?

O BCE está a gerir a sua política monetária para a Zona do Euro como um todo e com o objectivo de gerir a inflação em linha com o seu mandato.

Mas tem impactos na economia. Como credor, é um problema?

Não me cabe a mim comentar a política monetária do BCE. O melhor para Portugal nesta fase é usar este ambiente positivo para criar espaço orçamental e seguir uma política orçamental prudente.

“Não vejo necessidad­e de um debate sobre reestrutur­ação de dívida em Portugal”. “As necessidad­es brutas de financiame­nto de Portugal nos próximos anos são geríveis”.

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