Jornal de Negócios

Gestoras das estradas têm de limpar até dez metros da berma

A Infraestru­turas de Portugal, que gere directamen­te uma rede com 13.500 km de extensão, garante que corta a vegetação uma vez por ano antes do período críticos dos incêndios. Autarcas e académicos desconfiam da aplicação da lei

- ANTÓNIO LARGUESA alarguesa@negocios.pt

As entidades responsáve­is pelas redes viárias, como a Infraestru­turas de Portugal (IP) ou as empresas concession­árias, estão obrigadas a fazer a limpeza dos terrenos até a uma distância de dez metros para cada um dos lados da via nas estradas incluídas por cada município nos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios. Autarcas e académicos desconfiam do cumpriment­o da legislação, enquanto a antiga Estradas de Portugal, que tem sob jurisdição directa uma rede com cerca de 13.500 quilómetro­s de extensão, garante que, pelo menos uma vez por ano, faz essas intervençõ­es de limpeza, desramação e correcção de densidades. A obrigatori­edade e as regras para a gestão do combustíve­l estão bem explícitas no decreto-lei de 2006 e que já foi alvo de várias actualizaç­ões, que estabelece as medidas no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Um tema que voltou à agenda depois das 47 mortes registadas na Estrada Nacional 236, subconcess­ionada à Ascendi, embora todas as autoridade­s garantam que neste caso, mesmo que todas essas intervençõ­es fossem feitas conforme a lei, não seriam suficiente­s para evitar a tragédia. O diploma, que é um dos que está neste momento no Parlamento no âmbito da reforma da floresta para, entre outros aspectos, ser reforçado o pilar da prevenção operaciona­l (vigilância, detecção e alerta de fogos), prevê que essa limpeza deve ser selectiva, de forma a garantir a descontinu­idade horizontal e vertical do material combustíve­l, mas não obriga ao corte de árvores. O vereador do Ambiente da Câmara de Santa Maria da Feira, Vítor Marques, critica as entidades responsáve­is pelas estradas por não cumprirem estas normas e por se “[limitarem] a efec- tuar a limpeza das valetas”. “É muito pouco cumprido ou não se faz com a frequência ideal, tal como as pessoas não fazem as limpezas em torno das suas habitações”, concorda Paulo Fernandes, investigad­or do departamen­to de Ciências Florestais da Universida­de de Trás-osMontes e Alto Douro (UTAD). Fonte oficial da IP garantiu ao Negócios o cumpriment­o destes trabalhos de limpeza, assegurado­s através dos Contratos de Conservaçã­o Corrente, que abrangem a totalidade da sua rede em cada distrito. A ceifa e corte de vegetação numa faixa até três metros ao longo da via, assim como a limpeza do lixo nas bermas, são feitos “duas vezes por ano na maioria das estradas, sendo sempre efectuada uma vez por ano em todas as estradas”. Na faixa dos três aos dez metros, em que há um corte selectivo de vegetação e a desramação de árvores como previsto na lei – deve ser de 50% da altura da árvore, até que esta atinja os oito metros, altura a partir da qual a desramação deve alcançar, no mínimo, quatro metros acima do solo –, a IP assegura que a limpeza é feita “uma vez por ano na época que antecede o período crítico de incêndios”.

As responsáve­is pelas redes viárias normalment­e limitam-se a efectuar a limpeza das valetas. VÍTOR MARQUES Vereador do Ambiente da Câmara de Santa Maria da Feira Na faixa até aos dez metros, os trabalhos são feitos uma vez por ano na época que antecede o período crítico de incêndios. FONTE OFICIAL DA IP

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Miguel Vidal/Reuters As gestoras das redes viárias são obrigadas a fazer a gestão de combustíve­is nas estradas definidas pelas autarquias.

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