Para se pensar em rede tem de ser solidário
Para António José Seguro a situação no interior é insustentável por isso sugere um roteiro de acção. Que passa como disse Luís Cipriano, por entendimento entre líderes.
“Baixa densidade populacional, fortíssimo envelhecimento, falta de oferta de emprego sobretudo de qualidade e fraco empreendedorismo, o PIB per capita em termos de paridade de poder de compra é inferior a 75%” diagnosticou António José Seguro, professor na Universidade Autónoma de Lisboa e natural de Penamacor. “Esta situação é insustentável” concluiu o ex-líder do PS. O que fazer? “Primeiro é necessário definir o território. Não há identidade política para o território porque quando esta existe e há liderança os poderes centrais não são tão fortes” referiu António José Seguro. Mas tem de ser definido “que território queremos para lhe dar voz” porque se mantiver o território como um objecto estatístico fica sempre tudo na mão dos mais fortes que são Lisboa e Bruxelas. Como disse Valentín Cabero Diéguez, professor catedrático da Universidade de Salamanca, “quando os territórios não têm poder alguém o utiliza em proveito próprio” O segundo passo é dar voz política ao território. Em terceiro lugar é preciso pensar, planear e administrar o território como um todo e dotá-lo de “massa crítica de qualidade na saúde, na cultura, na educação”. Alertou que “não é necessário que cada concelho tenha todas essas infra-estruturas, devia-se pensar em rede e o território está a ser pensado em termos de centros urbanos que polarizam mas esquecem o resto do território”.
O interior é uma atitude
No seu caderno de encargos, António José Seguro inclui o investimento público necessário para atrair e fixar populações. Olhar para Espanha não como uma fronteira mas como um potencial. “As questões como as portagens e uma política fiscal mais amigável pode retardar o processo de definhamento mas não o pára” sublinhou. “O interior não é um problema geográfico, é um problema mental, por isso são as pessoas com as suas atitudes que podem transformar o interior em não interior. Até porque a palavra interior nem sempre tem um sentido depreciativo, também tem um horizonte agradável, que é viver com mais qualidade de vida aqui que num grande centro” disse Luís Cipriano, maestro titular da Orquestra Clássica da Beira Interior. Acrescentou que o problema passa pelo entendimento entre líderes. “Mas este juntar tem de ser efectivo porque não basta colocar um conjunto de músicos num palco para fazer uma orquestra. Estão juntos mas não são uma orquestra” exemplificou. “Ninguém se deve preocupar com a História, esta é que um dia se pode preocupar connosco, se valer a pena”.
Estamos a falar de territórios e de poderes, e quando os territórios não têm poder alguém o utiliza em proveito próprio. VALENTÍN CABERO DIÉGUEZ
professor catedrático da Universidade de Salamanca