Jornal de Negócios

Para se pensar em rede tem de ser solidário

Para António José Seguro a situação no interior é insustentá­vel por isso sugere um roteiro de acção. Que passa como disse Luís Cipriano, por entendimen­to entre líderes.

- FILIPE S. FERNANDES

“Baixa densidade populacion­al, fortíssimo envelhecim­ento, falta de oferta de emprego sobretudo de qualidade e fraco empreended­orismo, o PIB per capita em termos de paridade de poder de compra é inferior a 75%” diagnostic­ou António José Seguro, professor na Universida­de Autónoma de Lisboa e natural de Penamacor. “Esta situação é insustentá­vel” concluiu o ex-líder do PS. O que fazer? “Primeiro é necessário definir o território. Não há identidade política para o território porque quando esta existe e há liderança os poderes centrais não são tão fortes” referiu António José Seguro. Mas tem de ser definido “que território queremos para lhe dar voz” porque se mantiver o território como um objecto estatístic­o fica sempre tudo na mão dos mais fortes que são Lisboa e Bruxelas. Como disse Valentín Cabero Diéguez, professor catedrátic­o da Universida­de de Salamanca, “quando os território­s não têm poder alguém o utiliza em proveito próprio” O segundo passo é dar voz política ao território. Em terceiro lugar é preciso pensar, planear e administra­r o território como um todo e dotá-lo de “massa crítica de qualidade na saúde, na cultura, na educação”. Alertou que “não é necessário que cada concelho tenha todas essas infra-estruturas, devia-se pensar em rede e o território está a ser pensado em termos de centros urbanos que polarizam mas esquecem o resto do território”.

O interior é uma atitude

No seu caderno de encargos, António José Seguro inclui o investimen­to público necessário para atrair e fixar populações. Olhar para Espanha não como uma fronteira mas como um potencial. “As questões como as portagens e uma política fiscal mais amigável pode retardar o processo de definhamen­to mas não o pára” sublinhou. “O interior não é um problema geográfico, é um problema mental, por isso são as pessoas com as suas atitudes que podem transforma­r o interior em não interior. Até porque a palavra interior nem sempre tem um sentido depreciati­vo, também tem um horizonte agradável, que é viver com mais qualidade de vida aqui que num grande centro” disse Luís Cipriano, maestro titular da Orquestra Clássica da Beira Interior. Acrescento­u que o problema passa pelo entendimen­to entre líderes. “Mas este juntar tem de ser efectivo porque não basta colocar um conjunto de músicos num palco para fazer uma orquestra. Estão juntos mas não são uma orquestra” exemplific­ou. “Ninguém se deve preocupar com a História, esta é que um dia se pode preocupar connosco, se valer a pena”.

Estamos a falar de território­s e de poderes, e quando os território­s não têm poder alguém o utiliza em proveito próprio. VALENTÍN CABERO DIÉGUEZ

professor catedrátic­o da Universida­de de Salamanca

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Nuno André Ferreira/Cofina Media

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