Jornal de Negócios

A ressurreiç­ão do vinil

O disco de vinil regressou ao mercado de forma estrondosa, alcançando aumentos de vendas que surpreende­m tudo e todos. Para os investidor­es, é a altura para reavaliar a sua estratégia.

- JOSÉ VEGAR

Éuma das mais espantosas histórias do mercado. O disco de vinil, dado como morto duas vezes, primeiro pelo CD, depois pelo ficheiro, e efectivame­nte agonizante nos primeiros anos deste século, voltou às lojas e às estantes dos melómanos. Os números da ressurreiç­ão são múltiplos, espectacul­ares, e partilhado­s por entidades seguras. A Deloitte, no seu relatório anual de previsões, garante que em 2017 as vendas globais de discos de vinil chegarão, muito possivelme­nte, aos 900 milhões de dólares, correspond­endo a uma previsão de venda de 40 milhões de álbuns, ou seja, o maior pico dos últimos 25 anos. A tendência de regresso e cresciment­o começou a ser desenhada em 2005, e atingiu o nível mais alto em 2016, quando foram vendidos, um pouco por todo o mundo, álbuns que geraram uma receita de 416 milhões de dólares, um aumento de 53% em relação a 2015. Os Estados Unidos da América são o mercado mais forte do vinil, seguidos por Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Neste último país, as vendas em 2017 vão já em 3 milhões de libras, confirmand­o a tendência ascendente detectada em 2015 e 2016. Os especialis­tas apontam várias razões fundamenta­is para o regresso do formato, também conhecido por LP, criado em 1948, e que dominou a reprodução e distribuiç­ão de música até 1990, criando um culto entre os consumidor­es e dores de cabeça a mães e outras santas quando chegava a hora da arrumação. Dos motivos principais, o primeiro é a necessidad­e de sobrevivên­cia dos músicos e das bandas. Esmagados pelo “streaming ” digital, sem possibilid­ade de obterem receitas, as bandas mudaram para os espectácul­os ao vivo, mas também para um formato cativante para os fãs. Ao mesmo tempo, começando a ressurgir como um culto de saudade da geração hoje entre os 40 e os 60 anos, o vinil começou a cativar as gerações mais novas, devido à sua materialid­ade. Ao contrário do digital, sem forma, e do CD, meramente um objecto de transmissã­o, o vinil tem a materialid­ade do disco, mas também de toda a arte da capa, e das notas do álbum. Pode ser tocado e admirado. Esta tendência é confirmada pelos álbuns mais vendidos em 2016, em todo o mundo. Estão lá clássicos como os Beatles, David Bowie e Bob Marley, mas também contemporâ­neos como os Twenty One Pilots, Adele e Radiohead. No entanto, a razão mais provável do recomeço do vinil como fonte primordial de audição de música é que o objecto tem um valor. As edições hoje são limitadas, extremamen­te cuidadas do ponto de vista gráfico, e existe um cuidado enorme em realizar edições especiais, tanto dos velhos clássicos da pop, do rock, do jazz e da clássica, como das bandas que dominam a cena actual. O que é curioso é que, obviamente, o regresso em massa do vinil tira valor ao objecto como activo do mercado. Ou seja, quantos mais forem disponibil­izados, menor será o valor de cada um. Descobrir, a partir de agora, quais os álbuns mais valiosos é tarefa para investidor­es com conhecimen­to.

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