A ressurreição do vinil
O disco de vinil regressou ao mercado de forma estrondosa, alcançando aumentos de vendas que surpreendem tudo e todos. Para os investidores, é a altura para reavaliar a sua estratégia.
Éuma das mais espantosas histórias do mercado. O disco de vinil, dado como morto duas vezes, primeiro pelo CD, depois pelo ficheiro, e efectivamente agonizante nos primeiros anos deste século, voltou às lojas e às estantes dos melómanos. Os números da ressurreição são múltiplos, espectaculares, e partilhados por entidades seguras. A Deloitte, no seu relatório anual de previsões, garante que em 2017 as vendas globais de discos de vinil chegarão, muito possivelmente, aos 900 milhões de dólares, correspondendo a uma previsão de venda de 40 milhões de álbuns, ou seja, o maior pico dos últimos 25 anos. A tendência de regresso e crescimento começou a ser desenhada em 2005, e atingiu o nível mais alto em 2016, quando foram vendidos, um pouco por todo o mundo, álbuns que geraram uma receita de 416 milhões de dólares, um aumento de 53% em relação a 2015. Os Estados Unidos da América são o mercado mais forte do vinil, seguidos por Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Neste último país, as vendas em 2017 vão já em 3 milhões de libras, confirmando a tendência ascendente detectada em 2015 e 2016. Os especialistas apontam várias razões fundamentais para o regresso do formato, também conhecido por LP, criado em 1948, e que dominou a reprodução e distribuição de música até 1990, criando um culto entre os consumidores e dores de cabeça a mães e outras santas quando chegava a hora da arrumação. Dos motivos principais, o primeiro é a necessidade de sobrevivência dos músicos e das bandas. Esmagados pelo “streaming ” digital, sem possibilidade de obterem receitas, as bandas mudaram para os espectáculos ao vivo, mas também para um formato cativante para os fãs. Ao mesmo tempo, começando a ressurgir como um culto de saudade da geração hoje entre os 40 e os 60 anos, o vinil começou a cativar as gerações mais novas, devido à sua materialidade. Ao contrário do digital, sem forma, e do CD, meramente um objecto de transmissão, o vinil tem a materialidade do disco, mas também de toda a arte da capa, e das notas do álbum. Pode ser tocado e admirado. Esta tendência é confirmada pelos álbuns mais vendidos em 2016, em todo o mundo. Estão lá clássicos como os Beatles, David Bowie e Bob Marley, mas também contemporâneos como os Twenty One Pilots, Adele e Radiohead. No entanto, a razão mais provável do recomeço do vinil como fonte primordial de audição de música é que o objecto tem um valor. As edições hoje são limitadas, extremamente cuidadas do ponto de vista gráfico, e existe um cuidado enorme em realizar edições especiais, tanto dos velhos clássicos da pop, do rock, do jazz e da clássica, como das bandas que dominam a cena actual. O que é curioso é que, obviamente, o regresso em massa do vinil tira valor ao objecto como activo do mercado. Ou seja, quantos mais forem disponibilizados, menor será o valor de cada um. Descobrir, a partir de agora, quais os álbuns mais valiosos é tarefa para investidores com conhecimento.