Jornal de Negócios

Governo aperta o cerco a contratos a prazo

Conheça as medidas que o ministro deverá apresentar hoje aos parceiros sociais.

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt

Os embates entre os patrões e a esquerda nos primeiros anos da legislatur­a foram um ensaio paraas negociaçõe­s que agoracomeç­am. Vieira da Silva desafia esta sexta-feira os parceiros sociais a chegar a acordo sobre alterações à lei laboral, que mais tarde terão de ser aprovadas no Parlamento. Aredução dos motivos e da duração dos contratos a prazo (possivelme­nte para dois anos), os limites às renovações dos contratos de trabalho temporário, o fim do banco de horas individual e os prazos para acaducidad­e das convenções colectivas estão em cima da mesa . Hádois anos que o Governo promete limitar “fortemente” o uso de contratos a prazo. Além de revogar a norma que permite a contrataçã­o a prazo de jovens à procura de primeiro emprego e de desemprega­dos de longa duração (sem que seja necessária qualquer outra justificaç­ão), o Executivo quer mexer naduração dos contratos a termo certo. Em cima da mesa está a redução da duração máxima dos actuais três para dois anos, tal como o Negócios noticiou há duas semanas. O fim do banco de horas por negociação individual, uma das poucas medidas que contraria o programa da troika, tem sido muito contestado pela CIP, mas vai avançar. E apesar de estar contra o fim da caducidade das convenções colectivas, Vieira da Silva pode aproveitar as sugestões da UGT para alargar prazos nos processos que podem levar à caducidade do contrato (a “sobrevigên­cia”). Carlos César, presidente do PS, sugeriu re- centemente que a ideia é facilitar a arbitragem.

Trabalho temporário e taxa de rotativida­de?

A estratégia da redução dos contratos de duração limitada não deverá passar ao lado do trabalho temporário. Apesar de ser tratada de forma passageira no Programa do Governo, a questão foi muito debatida nas reuniões entre o PS e o Bloco de Esquerda que deram origem a um relatório conjunto, que Catarina Martins exigiu este fim-de-semana que seja considerad­o. O Bloco propunha a limitação do número de renovações no tra- balho temporário até ao máximo de três. O Governo pode aproveitar o princípio, mas não deverá ir tão longe, permitindo mais renovações. Com a esquerda a rejeitar qualquer redução da taxa social única (TSU), não haverá condições políticas para avançar com a diferencia­ção já prevista no código contributi­vo: um aumento de três pontos para quem contrata a prazo (para 26,75%) compensado por umaredução de umponto para quem contrata sem termo (22,75%). Há cerca de um mês o Negócios noticiava que o Governo desistiu da medida. Vieira da Silva garantiu no

dia seguinte que ainda nada estaria afastado. O formato poderá passar por incentivos à contrataçã­o sem termo apresentad­os no âmbito das medidas activas de emprego. À Visão, António Costa anunciou “uma taxa que incidirá sobre as empresas que abusem da rotação relativame­nte ao respectivo sector” mas que, ao contrário do que propôs o “economista” Mário Centeno, não incidirá naTSU.

Patrões não vêem razão para acordo

Este formato da taxa de rotativida­de poderá ser mais favorável aos empregador­es. Mas na véspera da reunião onde o Governo deverá finalmente assumir propostas, os patrões reclamaram outras contrapart­idas. A CIP endureceu o tom, consideran­do em comunicado “especialme­nte gravosaaat­itude condescend­ente do Governo em relação aos parceiros sociais”. Em causa está o facto de António Costa ter assumido no Parlamento que vai acabar com o banco de horas individual. João Vieira Lopes, da Confederaç­ão do Comércio (CCP), que em entrevista ao Eco admitiu já negociar a duração máxima dos contratos a prazo, desde que se flexibiliz­em as causas, pede novas contrapart­idas. “Só discutirem­os a legislação laboral integrada num pacote às empresas que inclua medidas fiscais”, nomeadamen­te ao nível do IRC ou através das tributaçõe­s autónomas, segundo explicou ao Negócios. Francisco Calheiros, da CTP, considera um “erro” admitir alterações à legislação laboral quando a economia está a criar emprego. “Sou contra abrir a discussão. É dar um sinal errado”. Na reunião desta sexta-feira, que começará pela “reforma do código do processo de trabalho” também estará a ministra da Justiça. Nem Arménio Carlos, da CGTP, nem Carlos Silva, da UGT, fizeram comentário­s.

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Mariline Alves Vieira Lopes, que ontem tomou posse pela terceira vez como presidente da CCP, quer envolver Mário Centeno nas negociaçõe­s.

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