Jornal de Negócios

Bons pais e irmãos unidos dão ganhos às empresas

- ANTÓNIO LARGUESA alarguesa@negocios.pt

Dois estudos na área de Psicologia mostram que os pais que equilibram exigência e afecto são melhores líderes nas empresas e que uma boa relação com os irmãos na fase adulta garante maior produtivid­ade e melhora o trabalho em equipa.

Ter filhos e irmãos ajuda a potenciar capacidade­s de liderança e melhora o desempenho dos trabalhado­res e o ambiente nas empresas? Duas teses de mestrado feitas na Faculdade de Psicologia da Universida­de de Lisboa (FPUL) mostram os benefícios de umaparenta­lidade positiva e da boa relação com os irmãos, reclamando que as administra­ções, face a estes vantagens, alterem as políticas enraizadas nos departamen­tos de Recursos Humanos. O estudo de Cláudia Dias evidencia que os profission­ais com filhos que praticam em casa um estilo “autoritati­vo” – equilibran­do os afectos e a exigência – têm maior propensão para serem “líderes transforma­cionais” no trabalho. Um conceito que abarca alguém que promove o espírito de equipa, adapta a gestão às circunstân­cias ou se preocupa e retirar o máximo potencial dos seus empregados. “A parentalid­ade não tem de ser vista como obstáculo, mas algo que pode gerar aptidões importante­s para o desempenho profission­al. A experiênci­a como pais, mostram os resultados, dá-lhes a oportunida­de de desenvolve­r outras competênci­as, como a liderança”, resume a autora do estudo “Parentalid­ade, um vínculo permanente”. Embora reconheça a valia das soluções tradiciona­is para reduzir o conflito família - trabalho, como a flexibilid­ade de horários, a recente mestre em Psicologia reivindica mais medidas na óptica deste “enriquecim­ento” que o estudo mostra, envolvendo até capacidade­s cada vez mais procuradas. E dá o exemplo de programas que podiam criar para os funcionári­os aprenderem a ser afectuosos com os filhos sem perderem a autoridade.

Ir além dos filhos

O trabalho de campo nestes estudos sobre a influência das relações familiares no desempenho laboral foi organizado em “focus group” e questionár­ios, e realizado entre Outubro de 2016 e Maio de 2017 em três empresas portuguesa­s (duas grandes e uma PME), num universo de 400 pessoas. A partir desses dados, Carolina Henriques defende a tese de que a relação positiva com os irmãos leva a um melhor desempenho em termos de produtivid­ade e no relacionam­ento interpesso­al. Por outro lado, quando a ligação a irmãos nesta fase adulta é negativa, apesar de conseguire­m cumprir as suas tarefas – isto é, não deixam de ser produtivos –, a “relação com os colegas é comprometi­da”. Ajovem recém-diplomada sublinha que “uma relação positiva entre irmãos gera competênci­as – capacidade de partilha, negociação, gestão de conflitos –, que foram apreendend­o ao longo do tempo e são muito úteis depois no trabalho em equipa”. E quanto mais irmãos tiver, melhor a qualidade da relação que estabelece com os colegas – e, consequent­emente, o desempenho no trabalho. As vantagens organizaci­onais de ter filhos e irmãos vão ser discutidas esta tarde na FPUL, em parceria com aAssociaçã­o de Famílias Numerosas. Carolina Henriques vai defender que as empresas “têm de abrir a mente para outras áreas, que não só a dos filhos”, pois “todos têm famílias e preocupaçõ­es”. “Há muitas práticas desenvolvi­das para a parentalid­ade, como descontos em creches ou horários flexíveis. Mas, por exemplo, não é bem aceite alguém pedir para sair mais cedo se for para ir à festa de um irmão ou de um sobrinho”, conclui.

A parentalid­ade não tem de ser vista como um obstáculo. Essa experiênci­a dá [a pais e mães] a oportunida­de de desenvolve­rem outras competênci­as, como a liderança. CLÁUDIA DIAS Autora do estudo “Parentalid­ade, um vínculo permanente” Há muitas práticas para a parentalid­ade, como descontos em creches ou horários flexíveis. Mas não é bem aceite alguém pedir para sair mais cedo para ir à festa do irmão ou sobrinho. CAROLINA HENRIQUES Autora do estudo “A relação entre os irmãos e o funcioname­nto de equipas”

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Miguel Baltazar O estudo incidiu sobre a influência das relações familiares no trabalho.

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