Jornal de Negócios

Campo Grande e o Montijo

- CELSO FILIPE Director adjunto cfilipe@negocios.pt

Nos anos 20, Portugal começou apensar naconstruç­ão de um aeroporto internacio­nal. A primeira solução encontrada foram os terrenos do Jockey Club, no Campo Grande, que por essa altura eram uma espécie de arredores de Lisboa. Andou-se às voltas, como de costume, até surgir a hipótese da Portela de Sacavém, que foi sendo protelada porque os campos de aviação de Alverca e Sintra ainda satisfazia­m as necessidad­es.

Os anos foram passando até que, na década de 30, Duarte Pacheco, que na altura acumulava a presidênci­a da Câmara de Lisboa com o cargo de ministro das Obras Públicas, mandou iniciar a terraplana­gem dos terrenos. Depois, mais do mesmo, ou seja, o tempo a passar, até o aeroporto ser finalmente inaugurado, a 25 de Outubro de 1942.

Ahistória repete-se. As bolandas são agora com a alternativ­a àPortela. AANAjácomu­nicou ao Governo ter alcançado em 2017 todos os factores de capacidade no aeroporto de Lisboa que permitem a apresentaç­ão de uma solução, mas o Governo só deverádeci­dir sobre o Montijo nasegundam­etade deste ano.

Em matérias de aeroportos, primeiro falou-se em Rio Frio, em paralelo existiu a opção Ota e depois escolheu-se, em definitivo, Alcochete, projecto travado pela crise, sendo que nos últimos três anos se recuperou a hipótese da base aérea do Montijo, a qual continua em cima da mesa.

O argumento superlativ­o para avançar com o Montijo tem que ver com os custos. Àluz do erário público, trata-se de uma explicação irrebatíve­l que ainda assim revela vistas curtas. O Montijo é uma opção de curto prazo e terá um tempo de vida limitado. Poupa-se agora, mas adia-se o futuro.

O aeroporto da Portela foi sendo construído por módulos de acordo com as necessidad­es, tendo terrenos que permitiram a sua expansão até aos dias de hoje. É por isso que o projecto do aeroporto de Alcochete devia ser retomado, na medida em que poderia ser desenvolvi­do por fases, acauteland­o as questões financeira­s e respondend­o às dinâmicas do transporte aéreo. Com certeza que o Governo e o concession­ário da ANA, os franceses da Vinci, conseguiri­am encontrar uma solução de compromiss­o que viabilizas­se este investimen­to.

O Montijo é hoje o que o Campo Grande era na década de 20. A solução mais à mão de semear, mas a menos previdente no longo prazo. Mas o mais triste, no meio de tudo isto, é que se anda há mais de uma década a ver os aviões passar, o que no caso em apreço significa protelar a decisão sobre a localizaçã­o do novo aeroporto de Lisboa.

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