Jornal de Negócios

Camac não paga a credores, mas diz que vai entrar em projecto de 250 milhões O líder da Camac garante que os lucros chegam este ano e a facturação vai duplicar.

Sem conseguir cumprir o plano de reembolso prometido aos credores, a empresa está novamente em PER, com dívidas de 17,9 milhões de euros. Mas o líder da fabricante de pneus promete que “há uma nova Camac” em curso.

- RUI NEVES ruineves@negocios.pt

Vamos transforma­r a Camac numa multinacio­nal. Através de uma parceria com um grande grupo mundial, iremos instalar uma fábrica noutro país, num investimen­to de 250 milhões de euros. JORGE RODRIGUES Presidente da Camac

Aúnica fabricante de pneus de capital português continua a rolar, apesar do acumular de prejuízos, do incumprime­nto do plano de reembolso dos credores e das promessas falhadas dos gestores. Desde que a fábrica de Santo Tirso reabriu, em Março de 2010, a empresa tem vivido sempre em depressão financeira e comercial. Ainda em Agosto passado, o presidente da Camac garantia ao Negócios que esta iria, finalmente, chegar ao “break even” em 2017. Na realidade, fechou o último exercício novamente no “vermelho”, com prejuízos próximos de um milhão de euros. E a facturação, apesar de ter subido meio milhão, ficou-se por uns magros 2,7 milhões de euros, dos quais “80% são exportaçõe­s”. Resultado: em incumprime­nto total do plano de reembolso acordado com os credores, em sede de um Processo Especial de Revitaliza­ção (PER) apresentad­o em 2015, a Camac acaba de apresentar um segundo PER. Desta vez, a dívida já atinge os 17,9 milhões de euros, dos quais “cerca de seis milhões” são relativos a créditos reclamados por actuais e antigos trabalhado­res, que a empresa não reconhece. A última palavra cabe ao juiz do processo, que ainda não se pronunciou. Entretanto, a empresa conseguiu arregiment­ar uma série de credores num acordo que prevê que só começará a reembolsar no final do terceiro exercício consecutiv­o com EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciaçõ­es e amortizaçõ­es) positivo. E que apenas 50% desse resultado é que será afectado à amortizaçã­o do passivo. “Isto significa que, na prática, não vai pagar nada aos credores”, reagiu fonte conhecedor­a do processo. Qual é a posição do Estado sobre a Camac? Afinal, além de deter 37,5% do capital da empresa, tendo lá injectado quatro milhões de euros em 2010, é também o seu maior credor, tendo a haver mais de cinco milhões de euros. “Asituação da Camac é muito difícil. Continuamo­s a acompanhar a situação com preocupaçã­o”, afirmou, ao Negócios, fonte oficial do IAPMEI, que gere o Fundo para a Revitaliza­ção e Modernizaç­ão do Tecido Empresaria­l (FRME), o sócio estatal dos empresário­s e irmãos Jorge e Fernando Rodrigues. Como aconteceu no Verão passado, Jorge Rodrigues volta a garantir um futuro radioso para a empresa. “É uma nova Camac. Este ano já vamos ter lucros e facturar, ‘a brincar’, cinco milhões de euros, tendo conseguido dois contratos que vão gerar seis milhões anuais. E, de certeza absoluta, vamos conseguir reembolsar os credores”, afiançou o empresário ao Negócios. E subiu a fasquia, sem detalhar: “Vamos transforma­r a Camac numa multinacio­nal. Através de uma parceria com um grande grupo mundial, iremos instalar uma fábrica noutro país, num investimen­to de 250 milhões de euros”, contou. O IAPMEI irá saber “quando estiver tudo ‘preto no branco’”.

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Paulo Duar te Os irmãos Jorge e Fernando Barros Rodrigues têm como sócio um fundo estatal, que detém 37,5% do capital da Camac.

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