Santa Casa e mutualista divergem na avaliação do Montepio
Na venda dos 2% do Montepio à economia social, a associação mutualista tem em conta o valor bruto da caixa económica. Já a Santa Casa, que vai investir 18 milhões, refere-se a uma avaliação que alinha com as imparidades constituídas para a instituição.
Estamos a pegar em dinheiro de apoio aos mais carenciados para pagar imparidades da banca. RUI RIO Presidente do PSD
Não achamos admissível que, de repente, haja notícias de um facto consumado, aparentemente sem que os responsáveis políticos que tutelam a Santa Casa da Misericórdia nos digam como e porque é que a Santa Casa entra no capital do Montepio. ASSUNÇÃO CRISTAS Presidente do CDS
Não é isto que salva um banco. É para nós uma questão de investimento financeiro. EDMUNDO MARTINHO Provedor da Santa Casa
As contas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Montepio Geral – Associação Mutualista não batem certo no que diz respeito ao investimento a realizar na Caixa Económica Montepio Geral. No final da semana passada, Edmundo Martinho assumiu, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, a divergência, ainda que sem dizê-lo explicitamente. A Santa Casa, disse, “entrará numa dimensão que está em linha com aquilo que foi a própria decisão da Associação Mutualista que decidiu autorizar a direcção da Associação Mutualista a alienar até 2% do seu capital, ou seja, estamos a falar de uma coisa que anda entre os 30 e os 40 milhões de euros e a Santa Casa seguramente entrará com uma parte desse valor”. Edmundo Martinho admite que os 2% da caixa económica que serão vendidos pela associação representam um valor entre 30 e 40 milhões de euros. Os números previstos pela associação mutualista, e que foram transmitidos ao conselho geral, não são estes. São de valores de investimento na ordem dos 45 e 48 milhões de euros pelos mesmos 2%. António Tomás Correia revelou os valores em entrevista à RTP3 a 15 de Março, sendo que 2% é a percentagem de capital a alienar a entidades do terceiro sector, e apenas uma parte dela, ainda que possa ser a mais substancial, à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Ora, como o Negócios noticiou, os números referidos por Tomás Correia não antecipam nenhum desconto. Se 2% representam um montante entre 45 e 48 milhões, a totalidade da caixa vale entre 2,25 e 2,4 mil milhões de euros. É precisamente esse o valor bruto de investimento da caixa económica no ba- lanço da mutualista: 2,4 mil milhões de euros, segundo o relatório e contas de 2017. Um valor bruto que não tem em conta a imparidade de 498 milhões de euros, que baixa o valor líquido da Caixa Económica Montepio Geral no balanço da associação para menos de 1,9 mil milhões de euros. Tendo em conta este valor, uma parcela de 2% já seriam 38 milhões. O que está dentro do intervalo avançado por Edmundo Martinho que, aos jornalistas, tinha já dito que a entrada na instituição financeira seria feita com um desconto face ao valor registado no balanço da mutualista. Na entrevista, o provedor da Santa Casa afiançou que iria investir entre 3% a 4% do activo da entidade neste negócio o que, à luz do balanço de 2016, coloca a parcela da Misericórdia entre 22 e 30 milhões de euros. Mas, segundo afirmou à SIC Notícias, o investimento deverá ficar nos 18 milhões de euros. “Não é isto que salva um banco”, defendeu naquela entrevista, acrescentando que se trata de uma “questão de investimento financeiro”. “Não é uma intervenção ou operação de especulação financeira, não [é] comprar hoje para vender amanhã.”
PSD quer comprometer Governo
O caso continua a ganhar contornos políticos. Rui Rio afirmou que o dinheiro dos pobres está a ser utilizado para cobrir perdas na banca. O PSD pediu, aliás, ao Governo para proibir a operação. O CDS, por Assunção Cristas, mostrou estupefacção: “Como se a Santa Casa actuasse por sua conta própria, sem ter de prestar contas ao Governo ou receber indicações por parte do Governo numa matéria tão sensível quanto esta.” Só o PS se tem mostrado favorável ao negócio, com PCP e Bloco de Esquerda a levantarem dúvidas.