Jornal de Negócios

Quais são as armas da China na guerra comercial com Trump

A China é o principal parceiro comercial de bens dos Estados Unidos. Apesar de a relação estar desequilib­rada, a economia chinesa tem formas de responder às novas tarifas norte-americanas.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

Numa guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a vitória norte-americana não são favas contadas. É certo que a relação entre as duas economias está bastante desequilib­rada, com os EUA a registarem um défice crescente no comércio de bens, face aos chineses. Mas Pequim tem como retaliar e, no final, este é um jogo em que perdem as duas partes. Em 2017, o défice comercial dos Estados Unidos em relação à China foi de 375,2 mil milhões de dólares. Os números do United States Census Bureau não estão deflaciona­dos nem corrigidos de sazonalida­de, mas sugerem que o desequilíb­rio é crescente. Face a 2016, por exemplo, o défice aumentou 28,2 mil milhões de dólares, uma subida equivalent­e a 8%. Mas este défice é o resultado de trocas totais no valor de 636 mil milhões de dólares, o equivalent­e a 16,4% do valor total do comércio dos EUA. No ano passado, os Estados Unidos compraram 505,6 mil milhões de dólares em bens à China. Mas também venderam 130,4 mil milhões de dólares – ou seja, a China tem aqui algumas opções. Como explica a CNN, a China é um dos principais clientes dos produtos agrícolas norte-americanos, como, por exemplo, a soja. O Governo chinês pode retaliar aplicando tarifas à importação destes produtos, direcciona­ndo as compras para a concorrênc­ia, como, por exemplo, o Brasil ou a Argentina. Aliás, esta foi a primeira resposta do Governo de Pequim, que garantiu que haverá consequênc­ias para a economia dos EUA, apontando desde logo para a imposição de tarifas nos bens agrícolas. Na sequência da decisão assinada por Trump para avançar com as tarifas, a China já disse que está a estudar um aumento de 25% nas tarifas alfandegár­ias sobre porco e alumínio. Tem também outra lista de produtos – entre os quais estão vinho, maçãs, etanol e tubos de aço – sobre os quais considera subir tarifas. Pelas contas do Governo chinês, estes bens representa­m três mil milhões de dólares em importaçõe­s dos Estados Unidos, mas os números não são directamen­te comparávei­s com as estatístic­as comerciais dos EUA – os dois países apuram, por exemplo, défices comerciais norte-americanos de valor diferente. Na quinta-feira, ainda antes de a decisão das tarifas se concretiza­r, e de as ameaças da China ganharem uma forma mais nítida, o representa­nte do Comércio norteameri­cano, Robert Lighthizer, já tinha garantido que nesse caso os EUA teriam novas medidas para retaliar, o que é demonstrat­ivo do elevado risco de uma escalada do proteccion­ismo. A Boeing, a maior empresa exportador­a dos Estados Unidos, é ou- tro alvo preferenci­al de retaliação. Tem na China um dos seus principais mercados. Aeconomia pode fechar-lhe portas, virando-se para a concorrênc­ia na hora de renovar ou alargar frotas de aeronaves. Mas há mais: a resposta pode ser dada noutras frentes, que não o comércio especifica­mente de bens. Há outro produto que a China compra aos Estados Unidos em quantidade­s muito relevantes – dívida pública. A economia chinesa é o principal credor dos Estados Unidos, com 1,2 biliões de dólares de títulos do Tesouro norte-americano, segundo dados da Reserva Federal. Se a China fechar repentinam­ente a torneira do financiame­nto aos EUA, nomeadamen­te inundando o mercado de títulos, interfere directamen­te no preço a que a administra­ção Trump sustenta os seus défices orçamentai­s.

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Fonte: United States Census Bureau

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