Jornal de Negócios

“Relação política com Angola, pode prejudicar novos negócios”

- ALEXANDRA MACHADO

AVisabeira tem muitos planos na sua internacio­nalização. No turismo, Moçambique e Portugal têm projectos em desenvolvi­mento. Mas os negócios fora estendem-se a outros sectores. Nos serviços de telecomuni­cações, a expansão para a África francófona é uma abordagem que está a ser feita.

Angola é um dos vossos mercados internacio­nais. Esta tensão política entre o governo português e a presidênci­a angolana tem, de alguma forma, prejudicad­o os interesses da Visabeira?

Não. De facto, não sentimos impacto nas nossas operações pelo actual relacionam­ento político, digamos assim, entre ambos os países. Desejamos, e eu desejo particular­mente, que haja um recuperar e um reatar desse relacionam­ento político.

Mas está diferente o mercado?

O mercado está diferente porque o novo Presidente da República tem tomado uma série de medidas para reforçar a imagem de credibilid­ade internacio­nalmente. Naturalmen­te nota-se que existem mudanças.

É assumido pelo próprio presidente que quer ir procurar investimen­tos a outros países e não dar preferênci­a a Portugal.

Eu julgo que, se esta conjuntura política, se este relacionam­ento político não melhorar, poderá no futuro prejudicar novos negócios. Os nossos negócios em Angola estão muito centrados, nós somos operadores da TV Cabo em Angola, que detemos conjuntame­nte com o Estado angolano, através da participaç­ão da Angola Telecom. Portanto, naturalmen­te que, até fruto dessa ligação, não sentimos nenhum problema neste momento .

E, pelo contrário, podem sair beneficiad­os pelo facto de a empresária Isabel dos Santos ser hoje menos ligada ao Estado angola-

“Se este relacionam­ento político não melhorar, poderá no futuro prejudicar novos negócios.” “Se a nossa concorrent­e [Isabel dos Santos] está mais forte ou mais fraca, vamos ver.”

no, e que é uma concorrent­e vossa no mercado angolano?

Se poderemos sair beneficiad­os ou prejudicad­os só o futuro o dirá. Nós felizmente temos continuado a crescer – temos crescido a 2 dígitos independen­temente da crise em Angola, quer ao nível de clientes, quer ao nível de rentabilid­ade de todos os indicadore­s operaciona­is. E portanto tudo nos leva a crer que estamos no bom caminho e tendencial­mente com umaoperaçã­o cada vez mais forte e sustentada. Se anossa concorrent­e está mais forte ou mais fraca, vamos vê-lo no futuro.

Podem alargar a área de actua- ção, com a abertura do mercado?

Nós estamos sempre disponívei­s para todas as oportunida­des de negócio que surjam que haja um racional de investimen­to interessan­te e com grande potencial de rentabiliz­ação. Neste momento não temos nenhumapar­ticipação. Sabemos que vai haver alterações, com a criação de um quarto operador, com a atribuição de licenças globais e portanto isso será naturalmen­te desde já um indicador que haverá muito mais actividade na área das telecomuni­cações para as empresas prestadora­s de serviços. E nós temos também o principal e maior prestador de serviços de telecomuni­cações em Angola. E desse

A Visabeira tem negócios em Angola e diz que não sentiu qualquer impacto nas operações com a tensão política entre Portugal e Angola. Mas no futuro, avisa, “se relacionam­ento não melhorar” novos negócios podem ser prejudicad­os.

“Há um país que acreditamo­s terá uma dimensão razoável que é a Índia.” “Estamos a avaliar o mercado da Mauritânia, dos Camarões, do Senegal.”

ponto de vista, como prestador de serviço, vemos com notório agrado, essa abertura a outros operadores porque irá dinamizar o negócio e haverá uma crescente actividade.

Isso serve também de algum trampolim para a internacio­nalização no espaço africano?

As nossas ligações à France Télécom e a nossa projecção neste momento a essa área francófona pode levar-nos a internacio­nalizar para a África Francófona. Existem diversos países que estão debaixo da nossa mira, uns proactivam­ente, outros por reacção, por convite.

Não nos quer contar?

Nós estamos claramente a avaliar o mercado da Mauritânia, dos Camarões, do Senegal.

Fora da Europa extra comunitári­a qual é o vosso propósito?

Fora da Europa há um país em que acreditamo­s que terá uma dimensão num futuro próximo razoável, que é a Índia. Constituím­os umaempresa na Índia, numajointv­enture com um dos maiores grupos indianos. E neste momento já temos contratos de algumas dezenas de milhões de euros para construção de redes de fibra óptica na Índia. Acreditamo­s que nosso cresciment­o terá de ser sustentado entre países com uma maturidade e com estabilida­de grande, ao mesmo tempo que fazemos o cresciment­o em alguns países com margens de rentabilid­ade maiores, mas com um risco também maior.

Em Moçambique têm vindo a desenvolve­r empreendim­entos turísticos. É para continuar?

Sim. Nós em Moçambique não estamos presentes só na área do turismo. Estamos presentes nos diferentes sectores de actividade que o grupo tem: telecomuni­cações, com aoperação TVCabo, redes de energia, construção. No turismo contamos com seis unidades hoteleiras e estamos neste momento a construir uma sétima, que é um eco-resort, na reserva dos Elefantes, na costa do Ouro. Será um dos icons de Moçambique ao nível do turismo futurament­e. Isto é um sinal claro de que nós acreditamo­s no turismo em Moçambique.

Os focos de inseguranç­a não faz tirar o pé do acelerador?

Não. Houve episódios, com uma tensão política também assinaláve­l, mas neste momento a situação está mais ou menos estabiliza­da. O que nos leva a ter mais o pé, ou menos, no acelerador são os constrangi­mentos económicos que o país tem vivido. Mas nós acreditamo­s que neste momento essa situação está também praticamen­te ultrapassa­da.

Tem projectos para outras zonas que não seja Portugal?

De turismo não.

E em Portugal?

EmPortugal temos três projectos de cresciment­o ao nível hoteleiro, temos no Chiado .

Que está atrasado. Porquê?

Foram mais questões burocrátic­as, mas neste momento já existem condições para fazermos uma previsão que no próximo ano e meio se fará a abertura do hotel. É esse o nosso objectivo. Também iremos fazer um hotel nas Caldas da Rainha e também no Mosteiro de Alcobaça. Tal como fizemos o hotel na própria aldeia Vista Alegre. Tem sido um projecto que está a ter um sucesso muitíssimo grande e acreditamo­s que háespaço parahaver uma interligaç­ão entre a operação turística e o aspecto cultural e da marca dos outros negócios.

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ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 MIGUEL BALTAZAR Fotografia

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