“Relação política com Angola, pode prejudicar novos negócios”
AVisabeira tem muitos planos na sua internacionalização. No turismo, Moçambique e Portugal têm projectos em desenvolvimento. Mas os negócios fora estendem-se a outros sectores. Nos serviços de telecomunicações, a expansão para a África francófona é uma abordagem que está a ser feita.
Angola é um dos vossos mercados internacionais. Esta tensão política entre o governo português e a presidência angolana tem, de alguma forma, prejudicado os interesses da Visabeira?
Não. De facto, não sentimos impacto nas nossas operações pelo actual relacionamento político, digamos assim, entre ambos os países. Desejamos, e eu desejo particularmente, que haja um recuperar e um reatar desse relacionamento político.
Mas está diferente o mercado?
O mercado está diferente porque o novo Presidente da República tem tomado uma série de medidas para reforçar a imagem de credibilidade internacionalmente. Naturalmente nota-se que existem mudanças.
É assumido pelo próprio presidente que quer ir procurar investimentos a outros países e não dar preferência a Portugal.
Eu julgo que, se esta conjuntura política, se este relacionamento político não melhorar, poderá no futuro prejudicar novos negócios. Os nossos negócios em Angola estão muito centrados, nós somos operadores da TV Cabo em Angola, que detemos conjuntamente com o Estado angolano, através da participação da Angola Telecom. Portanto, naturalmente que, até fruto dessa ligação, não sentimos nenhum problema neste momento .
E, pelo contrário, podem sair beneficiados pelo facto de a empresária Isabel dos Santos ser hoje menos ligada ao Estado angola-
“Se este relacionamento político não melhorar, poderá no futuro prejudicar novos negócios.” “Se a nossa concorrente [Isabel dos Santos] está mais forte ou mais fraca, vamos ver.”
no, e que é uma concorrente vossa no mercado angolano?
Se poderemos sair beneficiados ou prejudicados só o futuro o dirá. Nós felizmente temos continuado a crescer – temos crescido a 2 dígitos independentemente da crise em Angola, quer ao nível de clientes, quer ao nível de rentabilidade de todos os indicadores operacionais. E portanto tudo nos leva a crer que estamos no bom caminho e tendencialmente com umaoperação cada vez mais forte e sustentada. Se anossa concorrente está mais forte ou mais fraca, vamos vê-lo no futuro.
Podem alargar a área de actua- ção, com a abertura do mercado?
Nós estamos sempre disponíveis para todas as oportunidades de negócio que surjam que haja um racional de investimento interessante e com grande potencial de rentabilização. Neste momento não temos nenhumaparticipação. Sabemos que vai haver alterações, com a criação de um quarto operador, com a atribuição de licenças globais e portanto isso será naturalmente desde já um indicador que haverá muito mais actividade na área das telecomunicações para as empresas prestadoras de serviços. E nós temos também o principal e maior prestador de serviços de telecomunicações em Angola. E desse
A Visabeira tem negócios em Angola e diz que não sentiu qualquer impacto nas operações com a tensão política entre Portugal e Angola. Mas no futuro, avisa, “se relacionamento não melhorar” novos negócios podem ser prejudicados.
“Há um país que acreditamos terá uma dimensão razoável que é a Índia.” “Estamos a avaliar o mercado da Mauritânia, dos Camarões, do Senegal.”
ponto de vista, como prestador de serviço, vemos com notório agrado, essa abertura a outros operadores porque irá dinamizar o negócio e haverá uma crescente actividade.
Isso serve também de algum trampolim para a internacionalização no espaço africano?
As nossas ligações à France Télécom e a nossa projecção neste momento a essa área francófona pode levar-nos a internacionalizar para a África Francófona. Existem diversos países que estão debaixo da nossa mira, uns proactivamente, outros por reacção, por convite.
Não nos quer contar?
Nós estamos claramente a avaliar o mercado da Mauritânia, dos Camarões, do Senegal.
Fora da Europa extra comunitária qual é o vosso propósito?
Fora da Europa há um país em que acreditamos que terá uma dimensão num futuro próximo razoável, que é a Índia. Constituímos umaempresa na Índia, numajointventure com um dos maiores grupos indianos. E neste momento já temos contratos de algumas dezenas de milhões de euros para construção de redes de fibra óptica na Índia. Acreditamos que nosso crescimento terá de ser sustentado entre países com uma maturidade e com estabilidade grande, ao mesmo tempo que fazemos o crescimento em alguns países com margens de rentabilidade maiores, mas com um risco também maior.
Em Moçambique têm vindo a desenvolver empreendimentos turísticos. É para continuar?
Sim. Nós em Moçambique não estamos presentes só na área do turismo. Estamos presentes nos diferentes sectores de actividade que o grupo tem: telecomunicações, com aoperação TVCabo, redes de energia, construção. No turismo contamos com seis unidades hoteleiras e estamos neste momento a construir uma sétima, que é um eco-resort, na reserva dos Elefantes, na costa do Ouro. Será um dos icons de Moçambique ao nível do turismo futuramente. Isto é um sinal claro de que nós acreditamos no turismo em Moçambique.
Os focos de insegurança não faz tirar o pé do acelerador?
Não. Houve episódios, com uma tensão política também assinalável, mas neste momento a situação está mais ou menos estabilizada. O que nos leva a ter mais o pé, ou menos, no acelerador são os constrangimentos económicos que o país tem vivido. Mas nós acreditamos que neste momento essa situação está também praticamente ultrapassada.
Tem projectos para outras zonas que não seja Portugal?
De turismo não.
E em Portugal?
EmPortugal temos três projectos de crescimento ao nível hoteleiro, temos no Chiado .
Que está atrasado. Porquê?
Foram mais questões burocráticas, mas neste momento já existem condições para fazermos uma previsão que no próximo ano e meio se fará a abertura do hotel. É esse o nosso objectivo. Também iremos fazer um hotel nas Caldas da Rainha e também no Mosteiro de Alcobaça. Tal como fizemos o hotel na própria aldeia Vista Alegre. Tem sido um projecto que está a ter um sucesso muitíssimo grande e acreditamos que háespaço parahaver uma interligação entre a operação turística e o aspecto cultural e da marca dos outros negócios.