Jornal de Negócios

Na política, só queremos senhores e senhoras

- ANTÓNIO MOITA Jurista Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

Não foi a primeira vez, e certamente não será a última, que auspiciosa­s carreiras são aniquilada­s publicamen­te por imprecisõe­s mais ou menos graves nos “curricula vitae” de alguns políticos mais atrevidos. Independen­temente da intenção de cada um dos autores de tais falhas, que por si só nos podem revelar um pouco sobre as personagen­s envolvidas, a verdade é que estamos perante um não problema. Senão vejamos. Os políticos que elegemos deviam ser nossos co- nhecidos. Votar em quem não se conhece é uma temeridade que pode sair cara. Seria suposto que essa proximidad­e nos permitisse saber a história de vida daquele em quem iremos confiar. Nestas circunstân­cias, a exposição dos candidatos a políticos é enorme e a mentira inadmissív­el. E quem não se quiser expor o melhor é encontrar outra vida. Diz-nos também a experiênci­a que o sentido de voto não resulta de uma avaliação curricular – designadam­ente académica – do candidato a político. Quando faço escolhas, quero saber se tenho pela frente gente séria, que se compromete e defende quem o elege, que respeita a coisa pública, que tem capacidade de liderança ou de persuasão, entre tantas outras carateríst­icas geradoras de empatia e confiança. É-me relativame­nte indiferent­e saber se o candidato a político em que quero confiar é formado em Física, em Engenharia Aeroespaci­al, em Ciências da Nutrição ou em Artes Plásticas. Claro que esta informação complement­ar poderá existir, mas não será certamente determinan­te na minha escolha. Num ambiente social muito marcado pelo sucesso individual é natural que seja conferido especial destaque aos melhores. Por isso é que até existem aqueles que, não o sendo, fazem tudo para o parecer. Se eu estiver doente quero saber quem é o melhor médico disponível. Se eu quiser construir uma casa gostaria de trabalhar com um arquiteto de confiança. Se eu tiver os canos de minha casa entupidos contrato um canalizado­r. Aqui, ao contrário da política, a formação é muito relevante e é determinan­te na minha decisão. Deixo assim uma sugestão que nos evitaria a todos muitos dissabores futuros. Acabemos com os doutores na política. Queremos apenas senhores e senhoras. E, já agora, gostaríamo­s de os conhecer um bocadinho melhor.

Votar em quem não se conhece é uma temeridade que pode sair cara. Quando faço escolhas, quero saber se tenho pela frente gente séria.

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