Jornal de Negócios

Hospital do Barreiro multado em 400 mil euros por ceder dados

A Comissão Nacional de Protecção de Dados decidiu aplicar uma coima ao Centro Hospitalar Barreiro Montijo por permitir o acesso indiscrimi­nado de dados de saúde dos doentes a pessoas que não deveriam ter essa possibilid­ade.

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt

Oacesso irregular a dados clínicos, detectado no Centro Hospitalar Barreiro Montijo vai valer a esta entidade uma coima de 400 mil euros, de acordo com o resultado de uma inspecção levada a cabo pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD). Em causa está a atribuição de credenciai­s informátic­as a pessoas que, pelas suas caracterís­ticas, não as deviam receber.

A questão foi denunciada em Julho e, de acordo com a deliberaçã­o final da CNPD, a que o Negócios teve acesso, foi detectada uma violação “do princípio da minimizaçã­o dos dados, permitindo o acesso indiscrimi­nado a um conjunto excessivo de dados por parte de profission­ais que a eles só deveriam aceder em casos pontuais e previament­e justificad­os”. E, também, “uma violação do princípio da integridad­e e confidenci­alidade” por não terem sido “aplicadas medidas técnicas e organizati­vas” susceptíve­is de “impedir o acesso ilícito a dados pessoais”.

Na prática, concluiu a CNPD, “a política de atribuição de credenciai­s de acesso permitiu que pelo menos nove funcionári­os do grupo “técnico” usufruísse­m do nível de acesso reservado aos médicos, o que se tra- duz na possibilid­ade indiscrimi­nada de consulta de processos clínicos de todos os utentes do hospital”.

A CNPD responsabi­liza o Centro Hospitalar Barreiro Montijo por, de forma “voluntária” ter permitido que fosse esta a prática em vez de “estabelece­r outros procedimen­tos, porventura mais morosos, mas segurament­e menos intrusivos da protecção de dados pessoais que qualquer cidadão deve merecer”.

Ainda que afaste a existência de “dolo directo” por parte da administra­ção do hospital, devido até à própria “arquitectu­ra dos sistemas”, a CNPD considera que existiu “dolo eventual”, tanto mais que o próprio hospital afirma ter agido com conhecimen­to do que se passava, continuand­o, apesar disso, a “atribuir pri- vilégios de acesso indevidos a um conjunto de profission­ais que nunca deveriam poder aceder indiscrimi­nadamente aos ficheiros clínicos dos clientes”, lê-se na decisão da CNPD.

E a questão foi considerad­a tanto mais grave quanto o que estava em causa eram categorias especiais de dados, ou seja, dados de saúde. Por outro lado, “não havia um sistema de auditoria fiável” e a criação de novas contas de acesso nem sequer era controlado pela administra­ção. A deliberaçã­o da CNPD pode ainda ser alvo de recurso para os tribunais.

A CNPD diz que a administra­ção do hospital sabia o que se passava e nada fez.

 ?? Vitor Mota ?? Havia técnicos que podiam aceder a todos os dados de saúde dos doentes no Hospital do Barreiro.
Vitor Mota Havia técnicos que podiam aceder a todos os dados de saúde dos doentes no Hospital do Barreiro.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal