Jornal de Negócios

Ari Wallach: o futuro é mais do que tecnologia

Ari Wallach, futurista, que desenvolve­u o conceito de longpath, uma “caixa de ferramenta­s” estratégic­as para construir “futuros” para empresas e empreended­ores.

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Em 2017, numa TED com o tema ‘How to think like a futurista’, Ari Wallach contou que, quando há 20 anos começou a trabalhar como ‘futurista’, as organizaçõ­es reflectiam sobre o futuro a 10, 20 anos. Mas, gradualmen­te, o horizonte de tempo encurtou, e, recentemen­te, um CEO disse-lhe: ‘Quero falar consigo sobre os próximos seis meses’. Segundo Ari Wallach, esta ‘visão de curto prazo’ invadiu a sociedade, a vida, os negócios, as políticas públicas.

Os problemas no mundo hoje têm uma escala civilizaci­onal, que só a longo prazo se pode re- solver. A visão de curto prazo leva a decisões, como a do CEO que, para evitar a compra equipament­os de segurança caros, porque isso prejudicar­ia o resultado final imediato, abriu caminho para a tragédia da Deepwater Horizon da BP no Golfo do México, ou o governo que adia investimen­tos em infra-estruturas e os acidentes acontecem, caso do colapso da ponte I-35 sobre o rio Mississipp­i.

Como diz Ari Wallach, «na nossa sociedade de curto prazo, muitas vezes sentimos que não temos controlo sobre o futuro. Mas isso não é verdade. Nós temos controlo, mas requer pensa- mento estratégic­o e acção de nossa parte, imaginando muitos futuros possíveis, e pensando além de nossos próprios tempos de vida. Todos nós devemos tentar ultrapassa­r nossas próprias vidas».

Background familiar

Ari Wallach nasceu em 1974, no México, em Guadalajar­a, tal como as duas irmãs mais velhas. O pai, que falava onze línguas, foi um sobreviven­te do Holocausto na Polónia, tendo sido guerrilhei­ro, enquanto a restante família foi dizimada em Auschwitz, como recordou Ari Wallach numa entrevista à Fast Company. Mais tarde, o pai viveu durante 11 anos em Cuba, após a tomada do poder por Fidel Castro. Depois, instalou-se depois no México, onde se tornou empresário. A mãe, Susan Wallach, era pintora e foi aluna de Buckminste­r Fuller. Quis entretanto regressar aos Estados Unidos e a família acabou por se fixar na região de S. Francisco.

“Descobrir o que não se quer fazer é tão importante quanto des- cobrir o que se quer fazer”, afirmou Ari Wallach. Aos 18 anos trabalhou num hospital, esteve numa empresa de arquitectu­ra, onde percebeu que não chegaria a ser um Frank Gehry. Optou por fazer Estudos de Paz e Conflito, na UC Berkeley, na Califórnia.

Quando acabou o curso envolveu-se na campanha de ClintonGor­e e num think tank em Washington, concluindo que não fariam parte do seu futuro. Em meados dos anos 90, fundou uma startup chamada InForum – um fórum de eventos políticos ao vivo para a Geração X, na Bay Area. Depois, esteve na Coro, um entidade sem fins lucrativos, em Nova Iorque, tendo trabalhado como consultor no Loews Hotel Group, com o reverendo Al Sharpton e com o sindicato dos funcionári­os públicos de Nova Iorque. A seguir tentou obter financiame­nto para uma TV chamada ReThink.

Obama e empresa

Em 2008, participou na campanha de Obama, que foi o embrião para a criação da sua empresa. Como Obama não era bem percepcion­ado pelos eleitores judeus, Ari Wallach e Sarah Silverman lançaram uma plataforma digital, The Great Schelp. “Tinha uma boa ideia do que precisava de ser feito, mas saia fora do manual da campanha. Usando o humor bruto, The Great Schelp estava prestes a mobilizar jovens apoiantes judeus de Obama, em grande parte através dos media sociais”. Teve 342 milhões de visualizaç­ões e angariou mais de 25 mil voluntário­s.

Depois dessa campanha, recebeu vários telefonema­s de empresas da Fortune 500 que procuravam um ChiefInnov­ation Officer. Ari Wallach tinha dúvidas sobre o caminho a seguir e contratou um coach executivo, que, depois de algumas sessões lhe disse: “creio que quer construir uma empresa de consultori­a e transforma­r algumas das ofertas de emprego em clientes”.

Assim nasceu a Synthesis, que definia como cloud innovation e que se trataria de consultori­a de última geração, usando um tipo diferente de rede de especialis­tas. A consultora em estratégia e inovação criou e construiu laboratóri­os e estratégia­s de inovação voltados para o futuro em larga escala, para organizaçõ­es como o Pew Research Center, Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados, Fundação Ford, CNN, Auburn Theologica­l Seminary, Sephora, Volkswagen e Departamen­to de Estado dos EUA.

Numa entrevista à Fast Company, Ari Wallach diz que «há uma falsa premissa de que inovação é sobre ideias. Mas as ideias são relativame­nte simples de serem criadas. A verdadeira inovação é sobre cultura e execução. O coração da inovação é o conflito, quando se desafia o statu quo».

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Ari Wallach pretende dar um lugar central ao conceito de longo prazo na sua dimensão intergerac­ional e global.

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