Da trapaça em política
O Governo anunciou que a possibilidade de alguém se reformar antecipadamente, sem os cortes de 6% ao ano até à idade legal de reforma (66 anos), não é para todos. É apenas para os que ao completarem 60 anos tenham 40 anos de descontos. Na prática isto significa que quem tenha, por exemplo, 39 anos de descontos mas tenha completado 60 anos, não pode beneficiar da isenção quando completar os tais 40 anos de descontos (aos 61 anos).
Esta versão é diferente da que o Governo apresentou e que o Bloco de Esquerda e PCP venderam na última semana como cedências de Costa e Centeno nas negociações do Orçamento do Estado para 2019.
O Bloco não tardou a reagir, dizendo que não pode transformar “uma boa notícia num pesadelo para o conjunto dos outros pensionistas”. O PCP protestou, mas disse logo que isso não impede a aprovação do OE.
Qual a análise que esta situação merece? A mesma da de outras “trapaças” cometidas pelo Governo: promete umacoisapara, no final, cumprir outra. Foi assim com a legislação laboral, com aantecipação daidade de reforma sem penalizações para quem tem 46 anos de descontos e começou atrabalhar aos 14 anos. E houve mais situações ardilosas: deu aentender aos professores que haveriarepo- sição integral do tempo de serviço, prometeu baixar o adicional ao ISP se o petróleo subisse, prometeu estimular o investimento público e não cumpriu (as cativações servem para tirar com umamão o que se deu com aoutra).
Curiosa foi a reação do Bloco de Esquerda. O Bloco não gostou da trapaça de Centeno e Costa? Tem bom remédio: chumbe o orçamento! Até para não ficarmos todos a pensar que foi tudo combinado com o Governo “behind closed doors” e que esta tomada de posição pública é mera “fita” para acalmar a sua clientela.
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