Roger Tamraz explica porque quer o EuroBic: “Em Portugal fica-se dentro da UE”
O investidor, mais ligado aos petróleos, assume o interesse no EuroBic. Diz que já tem o acordo com Isabel dos Santos. Ao Negócios, diz que é relevante ficar dentro da União Europeia e que o financiamento vai ser através de cotadas na Europa.
Roger Tamraz é um investidor ligado à indústria petrolífera que está interessado em comprar o EuroBic, cuja venda ao Abanca abortou já este ano.
A notícia foi avançada pela SIC
Notícias na semana passada, não tendo sido possível confirmar junto de Isabel dos Santos nem do EuroBic, mas que o Negócios confirmou pelo investidor ligado à Netoil. Numa conversa telefónica ao Negócios, Roger Tamraz assume o interesse em comprar o EuroBic, não se ficando pela posição de Isabel dos Santos com quem diz já ter o acordo de venda. “Estou interessado [em comprar o EuroBic], mas até agora só conclui o bloco que pertence a Isabel dos Santos, o que é apenas de 42,5% do capital, e por isso estou à espera dos outros.” Em relação à restante participação revela estar em negociações para ficar também com elas. “Estamos à espera que cada um deles tome a decisão de forma autónoma.” Fernando Teles, um dos fundadores do BIC com Isabel dos Santos, detém uma posição de 37,5%. Quando o espanhol Abanca esteve prestes a comprar o EuroBic já tinha acordo para ficar com 95%, além da posição de Isabel dos Santos e Fernando Teles iria ficar, também, com as posições (de 5% cada) de Luís Cortez dos Santos, Manuel Pinheiro Fernandes e Sebastião Lavrador.
Roger Tamraz quer ficar também com essas posições. Recusa avançar, para já, os valores, que, garante, serão divulgados quando ficar concluído o processo, o qual espera que seja “relativamente rápido. Não devemos esperar muito”, ainda que possa demorar “algum tempo até os outros acionistas decidirem que não têm melhor alternativa”.
Não revela números, mas assume: “Tudo tem o seu preço na vida”, diz Roger Tamraz, garantindo que “não vou fazer uma oferta para ser rejeitada, como o Abanca”. Mas o sistema bancário mudou, como já tinha acontecido em 2008, recorda, dizendo que volta agora a acontecer com a crise pandémica que infligiu a banca. “Obviamente o mercado contraiu por causa da covid e da instabilidade.” Roger Tamraz – que segundo dados biográficos realçam como um dos seus primeiros grandes feitos empresariais a recuperação, em 1967, do banco libanês designado
Intra Bank, que tinha, um ano antes, entrado em insolvência – diz já ter feito as suas “due diligence” (avaliações) ao EuroBic, o qual “conheço bastante bem” e que, segundo avisa, começa “agora a ter perdas”.
Os dados até junho do EuroBic ainda não mostram perdas. Nas contas do primeiro semestre, ainda assinadas por Teixeira dos Santos, o EuroBic revelou lucros de 410 mil euros, o que compara com 35 milhões de resultados positivos um ano antes.
A incerteza dos reguladores
Roger Tamraz está consciente de que este processo tem de passar não apenas pela aprovação dos bancos centrais como também tem de ir ao tribunal, onde se encontra o dossiê da investigação ao caso Luanda Leaks, que congelou as participações societárias de Isabel dos Santos em Portugal . O investidor diz ao Negócios que, embora o acordo com a empresária angolana tenha sido alcançado, “temos de ir ao tribunal porque as ações [da empresária] não têm direito de voto e estamos a falar com o tribunal para substituir as ações por fundos, que ficarão depositados em tribunal até ao fim do caso”.
Além disso, diz já ter avançado com a submissão do processo junto do Banco de Portugal. O banco central, agora liderado por Mário Centeno, “está interessado em que sejam encontrados novos acionistas”, já que “gostariam de ver uma estrutura acionista mais estável”, diz o investidor. Mas “nunca se pode ter a certeza de nada com os reguladores. Contudo, vamos fazer os possíveis e vamos fazer o trabalho de casa.” Contactado pelo Negócios, o Banco de Portugal remete para as suas responsabilidades na apreciação de aquisição de bancos nacionais. “A decisão final relativamente a qualquer aquisição de participação qualificada em instituição de crédito cabe exclusivamente ao BCE, sem prejuízo da participação do Banco de Portugal na verificação do cumprimento dos requisitos legais.”
O interesse de Portugal
Não tendo investimentos em Portugal, o que levou Roger Tamraz a interessar-se por um banco português? “No novo enquadramento europeu, vir para Lisboa tem certas vantagens fiscais e melhor situação de preço, e uma vez em Portugal fica-se dentro da União Europeia”, assumindo a expansão europeia como objetivo. O investidor tentou comprar uma participação no banco letão PNB Bank, mas o BCE congelou as ações da instituição antes que tomasse posse do controlo. “Não aconteceu.”