“O download obrigatório da app levanta outra questão: a quem interessa tudo isto?”
“As medidas só são autoritárias se as pessoas não as fizerem já, espontaneamente.” A frase não é de 1960. É de ontem, proferida pelo primeiro-ministro. A propósito de se querer tornar obrigatório o download da aplicação StayAway Covid. Com direito a multa que vale quase um salário mínimo em caso de incumprimento.
Os leitores já me viram qualificar o primeiro-ministro de pretor (artigo de 15/06/2020 – “O pretor António Costa”). Os que não gostaram devem-me um pedido de desculpas. Porque a tirada de ontem mostra que António Costa não suporta mesmo que alguém se lhe atravesse no caminho.
Vejamos: a app é eficaz a combater a pandemia? Não: quem lá mete dados fica em quarentena. Ou seja, o esquema introduz um incentivo perverso: quem é que quer ficar 10 dias em casa sem poder sair à rua? Além do receio com a proteção de dados...
Mas a questão não se esgota aí: a obrigatoriedade mexe com os direitos fundamentais do cidadão, ciosamente protegidos pela Constituição. O que leva a concluir que o problema do primeiro-ministro é outro: defendeu a app com unhas e dentes (sabe-se lá porquê...) e como não funciona (de 1,1 milhões de downloads só 113 pessoas colocaram lá dados) quer salvar a face... limitando direitos, numa espécie de remate dos tempos do Conselho da Revolução.
O download obrigatório levanta outra questão: a quem interessa tudo isto? E que interesses existem pelo meio...?
Provavelmente a esta altura os leitores estão a perguntar que história é essa do herdeiro do dr. Salazar. É a diferença entre os dois... Como dizia Mário Soares, o primeiro António não deixava dúvidas quanto a proteger interesses pouco claros.