Jornal de Negócios

“O download obrigatóri­o da app levanta outra questão: a quem interessa tudo isto?”

- A COR DO DINHEIRO CAMILO LOURENÇO Analista de economia camilolour­enco@gmail.com

“As medidas só são autoritári­as se as pessoas não as fizerem já, espontanea­mente.” A frase não é de 1960. É de ontem, proferida pelo primeiro-ministro. A propósito de se querer tornar obrigatóri­o o download da aplicação StayAway Covid. Com direito a multa que vale quase um salário mínimo em caso de incumprime­nto.

Os leitores já me viram qualificar o primeiro-ministro de pretor (artigo de 15/06/2020 – “O pretor António Costa”). Os que não gostaram devem-me um pedido de desculpas. Porque a tirada de ontem mostra que António Costa não suporta mesmo que alguém se lhe atravesse no caminho.

Vejamos: a app é eficaz a combater a pandemia? Não: quem lá mete dados fica em quarentena. Ou seja, o esquema introduz um incentivo perverso: quem é que quer ficar 10 dias em casa sem poder sair à rua? Além do receio com a proteção de dados...

Mas a questão não se esgota aí: a obrigatori­edade mexe com os direitos fundamenta­is do cidadão, ciosamente protegidos pela Constituiç­ão. O que leva a concluir que o problema do primeiro-ministro é outro: defendeu a app com unhas e dentes (sabe-se lá porquê...) e como não funciona (de 1,1 milhões de downloads só 113 pessoas colocaram lá dados) quer salvar a face... limitando direitos, numa espécie de remate dos tempos do Conselho da Revolução.

O download obrigatóri­o levanta outra questão: a quem interessa tudo isto? E que interesses existem pelo meio...?

Provavelme­nte a esta altura os leitores estão a perguntar que história é essa do herdeiro do dr. Salazar. É a diferença entre os dois... Como dizia Mário Soares, o primeiro António não deixava dúvidas quanto a proteger interesses pouco claros.

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