Jornal de Negócios

QUAIS OS GRITOS DE MEDO MAIS TERRÍVEIS?

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Há o socorro imediato, urgente.

E há o socorro pedido ao longo do tempo, durante anos.

Pedido de socorro resistente, que não se cansa.

O grito em voz bem alta, durante uns instantes, mostra que o perigo está ali e é terrível e bravo.

O grito em voz bem baixa, mas que ecoa sem qualquer suspensão durante anos, mostra que o perigo está ali e é terrível e bravo e continua a estar ali e a ser terrível e bravo no dia seguinte e na semana seguinte e no mês seguinte e no ano seguinte.

Não se grita mais alto porque a voz não aguenta gritar muito alto durante anos. A diferença, então, não é existir ou não perigo. O grito de medo nasce sempre diante daquilo que nos ameaça. A diferença é o tipo de ameaça.

Há ameaças de vida e morte e ameaças de vida e vida.

Estas segundas não matam, mas destroem a vida no tempo.

Não é de estranhar, pois, que o número de pessoas com os gritos mais sussurrado­s durante muito tempo seja muito maior.

Não me matas, mas não me deixas viver – poderia dizer alguém habituado a sussurrar o grito a ponto de este ser confundido com um longuíssim­o e neutro silêncio.

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