Doce Alentejo
Há uma década que a fábrica artesanal Chocolates de Beatriz se instalou em Odemira. Atraiu portugueses e estrangeiros apaixonados por este “ouro negro”.
Quando vivia na sua terra natal, Beatriz Bonacalza esteve sempre ligada às atividades de montanha e praticava, além do esqui, o “andinismo”. A palavra quase não é usada em Portugal, mas, como o nome indica, Beatriz praticava alpinismo na cordilheira dos Andes, junto à terra onde cresceu, Bariloche, na Patagónia argentina junto ao Chile.
Anos passaram desde que ingressou em Agronomia, em La Plata, perto de Buenos Aires, e estagiou no Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária. Mas foi o esqui que a trouxe às montanhas em Andorra, onde trabalhou para ajudar a pagar as férias na Europa, que incluíram Espanha e Portugal.
“Talvez o acaso, talvez a falta de oportunidades na Argentina e talvez o facto de me sentir bem em Portugal, me tenham feito tentar organizar a minha vida neste país”, recorda Beatriz.
Viveu em Faro, encontrou um companheiro na área da agricultura, onde ambos trabalhavam, mas foi em Odemira que escolheu viver, numa altura em que tinha deixado de trabalhar. Não queria procurar mais empregos “se não fosse para melhor” e, durante um tempo, escolheu ser livre para pensar e desenvolver ideias.
O casal descobriu que a casa onde viria a instalar a chocolataria estava à venda e decidiu que seria um local especial para desenvolver qualquer coisa, “mas nessa altura não sabíamos muito bem o quê, nem como”.
A fábrica artesanal que abriu as portas em 2010 surgiu da necessidade de Beatriz procurar aquilo de que mais gostava. Resolveu montar um projeto próprio, porque se considera “bastante criativa” e por gostar “de fazer coisas com as mãos”. O chocolate apareceu da memória de Bariloche, “onde existem muitíssimas fábricas de chocolate artesanal”, o que a levou a pensar que podia fazer algo desse género “sem um grande investimento”.
Na fábrica, parte de seleções de diferentes tipos. O chocolate negro que utiliza é do Equador, “derretido a temperaturas adequadas para manter as suas características e para ser utilizado na produção”. Na confeção, adiciona “diferentes produtos e recheios” e descreve-os com “sabores mais clássicos, como as amêndoas ou figos, mais exóticos, como o gengibre, arandos ou pimenta-rosa, e outros cremosos, como a framboesa”.
No espaço Chocolates de Beatriz, as pessoas podem assistir a todo o processo – uma experiência que a argentina considera ser “uma vivência marcante, pois nela estão incluídos os cheiros, as pequenas máquinas a trabalhar e algum chocolate ou bolo a ser produzido”.
Por outro lado, acrescenta, “no exterior há um espaço muito agradável, com vista para o rio Mira, que compensa bem o tempo que se vive”.
Beatriz Bonacalza compra a matéria-prima nos países do Norte da Europa, “onde provavelmente estarão os principais fabricantes/fornecedores de chocolate para o propósito da fábrica”. Prova-o de várias origens, mas reconhece que os melhores “provêm do cacaueiro Crioulo, que representam apenas 1% da produção mundial”.
Beatriz e o companheiro abriram, em 2017, uma loja em Faro, local onde viveu e tem amigos. Considera que esta é “uma cidade com características de vila” e lembra que, na primeira fase, os clientes foram sobretudo os turistas, mas “lentamente começam a chegar pessoas que habitam na região”.
O confinamento durante o período da Páscoa – que, junto com o Natal e o verão, são os períodos mais fortes do negócio – levou a que fizesse fortes descontos pela necessidade de escoar o produto pela validade relativamente curta. Porém, Beatriz revela que “o verão em Odemira foi bom”, o que a deixou mais otimista.
Vai continuar a dividir a vida entre Faro e Odemira – uma pequena localidade alentejana onde “todos se conhecem e todos são primos uns dos outros”. Recorda que “a chegada de alguém de fora altera o equilíbrio e as rotinas”, mas sente que o seu negócio “é motivo de orgulho para os habitantes locais”.