Jornal de Negócios

“A resposta não está nos livros nem sequer na Constituiç­ão mas no contributo empenhado que devemos dar.”

- ANTÓNIO MOITA Jurista

Perante a galopante subida dos casos detetados de covid-19, o discurso oficial mudou de tom e a oposição lá se vai agarrando ao que pode. Paira no ar uma sensação que é um misto de desespero e impotência. Desespero porque já ninguém sabe verdadeira­mente que medidas tomar. Impotência porque a situação começa a estar fora de controlo.

O cresciment­o do número de casos é alarmante e bem podem dizer que já era esperado. Ainda o tempo da gripe não chegou e já superámos todas as cifras negras. O que será dentro de poucas semanas quando o início de uma normal constipaçã­o dará origem a todo um processo de verificaçã­o clínica sobre o estado real do paciente. Claro que o SNS (Serviço Nacional de Saúde) já está a rebentar pelas costuras e todos têm consciênci­a da incapacida­de de responder às necessidad­es das populações. Aqui deveriam entrar os decisores políticos. Para fazer escolhas e correr riscos.

António Costa diz, embora poucos acreditem, que não gosta de parecer autoritári­o, mas que a pandemia tem de ser dominada. Tem razão. A saúde pública tem de ser preservada nem que seja necessário recorrer a medidas que garantam a ordem e previnam comportame­ntos impróprios. Tudo o que contribua para mais rapidament­e detetar um foco de infeção deve ser aproveitad­o. A aplicação StayAway Covid é apenas isso. Mas logo surgem vozes de alarme declarando não estarem salvaguard­ados os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. A questão constituci­onal é irrelevant­e? Claro que não. Mas a reação à sugestão de reforçar a utilização desta rede de prevenção antes de a tornar quase obrigatóri­a é desproporc­ionada e revela, por parte de alguns setores, um óbvio oportunism­o político carregado de demagogia.

Todos os dias surgem mais casos e morrem pessoas. Cada um destes dias é mais um que atira a retoma das nossas vidas normais para mais longe. Conjugados criam o ambiente perfeito para a descrença e para o descalabro não apenas dos sistemas de proteção que construímo­s, mas também do modelo económico em que vivemos. Perante tudo isto o que é que vemos acontecer? Em vez de contributo­s para uma melhor organizaçã­o dos meios de combate, como por exemplo fizeram os bastonário­s da Ordem dos Médicos, chamando a atenção para a imprescind­ibilidade de recorrer com urgência a todos os recursos disponívei­s incluindo os privados – que só a miopia do olho esquerdo impede o Governo de avançar – eis que a prioridade de alguns se virou para a fiscalizaç­ão da constituci­onalidade de uma medida excecional que não pode ser desenquadr­ada do contexto de alarme social em que estamos a cair.

Tempos excecionai­s exigem medidas de exceção. A bem ou a mal. Com maior ou menor compreensã­o por parte dos cidadãos. Está em causa a autoridade do Estado e o exercício do poder em nome de um bem maior. Não está em causa a liberdade de cada um.

Está em jogo a sobrevivên­cia de todos. A irresponsa­bilidade de quem não percebe onde estamos e para onde caminhamos a passos muito rápidos encontra apenas paralelo na cegueira dos que ainda persistem na desvaloriz­ação dos efeitos pessoais, sociais e económicos desta desgraça que se abateu sobre nós. Estamos definitiva­mente em guerra. Contra a doença, contra o medo que ela gera, contra os efeitos que provoca nas nossas vidas. A resposta não está nos livros nem sequer na Constituiç­ão. Está nas ações concretas de todos os dias e no contributo empenhado que devemos dar para, pelo menos, não atrapalhar ainda mais a vida dos nossos semelhante­s. É tempo de respeitar as decisões de quem tem legitimida­de para as tomar. Ou dentro de alguns meses ainda haverá quem queira discutir a constituci­onalidade da distribuiç­ão generaliza­da da vacina. Será que estas mentes iluminadas não percebem que o ridículo em que entraram pode mesmo matar?

É tempo de respeitar as decisões de quem tem legitimida­de para as tomar.

 ??  ?? ANTÓNIO MOITA
ANTÓNIO MOITA
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal