Jornal de Negócios

“Ninguém tem tanta estabilida­de como os trabalhado­res do Estado”

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Alexandra Leitão acredita que o orçamento “necessário” para 2021, que é também o “Orçamento possível”, será aprovado à esquerda. Confrontad­a com a ausência de respostas aos sindicatos, a ministra recupera o seguinte argumento: se é verdade que aumentou a pressão sobre os serviços públicos, também é verdade que ninguém tem tanta estabilida­de como os trabalhado­res da administra­ção pública.

Na sequência da pandemia, têm sido repetidos os elogios à administra­ção pública e à forma como respondeu. De certo modo, os funcionári­os públicos estariam agora à espera de ser de alguma forma compensado­s, não é?

Houve elogios. Muitos dos quais vieram de mim e mantenho-os. Mas também temos de ver isso de outra forma. Nos momentos de crise acontecem duas coisas. Uma é: as pessoas viram-se para o Estado. E bem. Viram-se para o estado social, para o Serviço Nacional de Saúde. Isso foi muito evidente e, para mim, que tenho uma posição firme em defesa do estado social, vejo a resposta que o estado social deu como fundamenta­l. Segunda coisa que acontece: o valor estabilida­de do emprego, ultimament­e tem estado menos valorizado do que era antigament­e. Se calhar há 30 anos as pessoas valorizava­m mais o emprego para a vida do que os jovens que têm hoje 26 ou 27 anos. Mas é num momento de crise que o valor estabilida­de do emprego vem ao de cima. E esse ninguém tem tanto como as pessoas da administra­ção pública.

Não seria o Orçamento que o Governo gostaria de apresentar para 2021, mas acabou para ser o Orçamento da pandemia.

Se calhar é o Orçamento necessário e também o Orçamento possível. E acho que ter conseguido dentro de uma malha apertada, fazer este Orçamento num contexto tão difícil, acho que é um bom Orçamento.

Parece que à esquerda há alguma dificuldad­e em aceitar este Orçamento. Acredita que ainda será possível estabelece­r este acordo com o BE?

Acredito que sim, aliás vários meus colegas de Governo e em especial o senhor primeiro-ministro têm dito várias vezes que o Orçamento está entregue, mas a negociação continua. Acho que sendo um Orçamento com uma matriz social tão marcada faz sentido que seja aprovado à esquerda e portanto sim. Mantenho claramente essa ideia de que virá a ser aprovado.

O Governo está disponível para fazer mais cedências?

Quando é dito por vários membros do Governo que a negociação continua, sem querer entrar em detalhes, imagino que significar­á que ainda há espaço para ver onde se pode ceder, ou, pelo menos na especialid­ade, melhorar a redação.

O Governo está a negociar à direita com o PSD, nomeadamen­te na questão do Código dos Contratos Públicos, com a esquerda para o Orçamento do Estado... É um Governo sem oposição?

Não diria que é um Governo sem oposição. Tudo isto, designadam­ente o Orçamento do Estado, tem sido alvo de negociaçõe­s intensas. A oposição não serve apenas para bloquear, serve também para, através da negociação, conseguir coisas que quer. Essa negociação também faz parte de fazer oposição. E portanto acho que há oposição e que é salutar democratic­amente que a haja. Mesmo que no fim acabe por viabilizar um Orçamento do Estado ou um código dos contratos públicos, no percurso já houve a tal negociação que, sem oposição não era preciso fazer.

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