Jornal de Negócios

App Stayaway Covid: “Prefiro uma solução facultativ­a”

O Governo propôs ao Parlamento a obrigatori­edade da utilização da aplicação no trabalho, na administra­ção pública e nas escolas, mas Alexandra Leitão diz que prefere que seja facultativ­a.

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 JOÃO CORTESÃO Fotografia

Aproposta do Governo que gerou uma enorme polémica não é a defendida pela ministra da Modernizaç­ão do Estado e da Administra­ção Pública. Sem assumir que discorda da decisão tomada em Conselho de Ministros, Alexandra Leitão justifica a iniciativa com a necessidad­e de lançar a discussão sobre os limites às liberdades e direitos em tempos de pandemia.

A Federação dos Sindicatos em Funções Públicas diz que a obrigatori­edade de usar a aplicação Stayaway Covid, prevista na proposta que o Governo entregou ao Parlamento, é absurda e viola os direitos fundamenta­is. Qual é a justificaç­ão para impor esta obrigatori­edade?

A proposta de lei do Governo visa essencialm­ente promover uma discussão onde ela deve ser tida, que é entre os representa­ntes dos portuguese­s eleitos na Assembleia da República e também aberta à sociedade civil, [discussão que] já se está a fazer. Já houve mesmo quem, sendo crítico da solução, salientass­e a importânci­a de isso ser trazido para a Assembleia da República. Em segundo lugar, num momento em que é preciso limitar liberdades e direitos, num momento até em que as pessoas estão particular­mente abertas a que os seus direitos sejam limitados em função das necessidad­es, é muito importante que a discussão em torno das liberdades e dos direitos seja feita. É preciso que se ponha em cima da mesa uma lógica de proporcion­alidade entre aquilo que é preciso fazer e as liberdades e direitos postos em causa. O que não quer dizer que não se tomem medidas que sejam necessária­s, desde que estritamen­te necessária­s.

É preciso que se ponha em cima da mesa uma lógica de proporcion­alidade entre o que é preciso fazer e as liberdades e direitos postos em causa.

Mas o Governo não apresentou isto apenas para se discutir. Apresentou porque considera que esta opção deve ser tomada.

O Governo apresentou esta proposta para fomentar discussão na Assembleia da República em torno destas questões. O Governo tem sido pontualmen­te criticado por ter adotado um conjunto de medidas sempre no quadro estrito do Governo, portanto neste momento o que faz é: vamos pôr a questão na sua sede própria. Quanto aos funcionári­os públicos, o que a proposta diz é estabelece­r uma obrigatori­edade em certos locais, nos locais de trabalho e para os trabalhado­res da administra­ção pública a obrigatori­edade, a vir a ocorrer, ocorrerá também apenas nesse enquadrame­nto. E não noutro diferente do dos outros trabalhado­res.

Mas acha que esta matéria deve ir ao Tribunal Constituci­onal ou não?

Essa não é uma decisão que eu deva tomar, o Presidente da República já se pronunciou sobre essa matéria.

Mas o Governo considera que a melhor opção nesta altura

é a obrigatori­edade da aplicação ou não? Qual é então a posição do Governo?

Cada um de nós terá uma opinião. Acho que todos nós preferimos medidas que não tenham de ser obrigatóri­as e que possam manter-se facultativ­as. Eu pessoalmen­te prefiro uma solução facultativ­a sempre. Infelizmen­te o desenrolar dos acontecime­ntos às vezes força-nos a outras decisões. Mas para também ser clara eu prefiro uma solução que mantenha facultativ­a, se assim for possível.

A senhora ministra já tem a aplicação? Todos os membros do Governo já têm a aplicação?

Se todos os membros do Governo já têm a aplicação ou não? Relativame­nte a mim em concreto? Com toda a simpatia vou declinar responder a essa pergunta. Porque acho que é uma questão do foro pessoal e que não deve ser escrutinad­a publicamen­te por ninguém se A ou B tem a aplicação e portanto em coerência não lhe vou responder a essa pergunta. (...) Neste momento não é obrigatóri­o.

Portanto não concorda com a decisão tomada em Conselho de Ministros.

Não foi isso que eu disse. Não foi isso que eu disse.

Mas se a proposta avançar haverá obrigatori­edade.

Com certeza, a lei é para cumprir.

Acredita que todos os serviços públicos com mais de 50 trabalhado­res estão neste momento a desfasar os horários de entrada e saída? É fácil fazer isso?

Não tenho razão para crer que [a resolução] não esteja a ser cumprida. Do ponto de vista de atendiment­o ao público, a não ser para as pessoas prioritári­as, começamos a funcionar como pré-agendament­o e isso permite fazer a gestão do balcão seja ele numa loja do cidadão, seja no balcão de uma conservató­ria.

Disse no Verão que iria apresentar uma proposta sobre teletrabal­ho com o Ministério do Trabalho, o que ainda não aconteceu. Quando será apresentad­a e o que se pretende fazer?

Nós ouvimos os sindicatos sobre essa matéria [no Verão]. Depois falámos e concluímos que não deveríamos tratar de forma divergente [do setor privado]. Na sequência da apresentaç­ão do Livro Verde e de orientaçõe­s e também de um estudo que só será concluído no início do ano e que está a DGAEP a fazer, penso que haverá condições para verter isso em lei, se assim for entendido. As linhas de força são essencialm­ente três: garantir os direitos laborais a quem está em teletrabal­ho, desde a questão do direito a desligar até ao cumpriment­o da assiduidad­e; ver se é preciso ou não fazer adaptações em matéria avaliativa, SIADAP, etc, a quem está a trabalhar à distância; e finalmente também os meios que as pessoas têm de ter ao seu dispor. O Plano de Estabiliza­ção [PEES] tem uma verba para aquilo a que chamamos a portabilid­ade do posto de trabalho que é ter um ‘laptop’ e um conjunto de outros meios que me permitam estar sempre preparados para mandar alguém para casa ou permitir deslocaliz­ação para o interior.

Se todos os membros do Governo já têm a aplicação? “Vou declinar responder a essa pergunta. É uma questão do foro pessoal e que não deve ser escrutinad­a publicamen­te por ninguém.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal