Jornal de Negócios

OE “não anula ilegalidad­es” no ISV de usados importados

Mudança na fórmula de cálculo, prevista no Orçamento do Estado 2021 não chega para repor a legalidade, dizem os empresário­s.

- VICENTE LOURENÇO

A alteração ao Imposto Sobre Veículos (ISV) dos carros importados da União Europeia, avançada pelo Executivo na proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021, está a deixar descontent­e os empresário­s do setor, que criticam a medida, consideran­do que a mesma é insuficien­te e não responde ao problema que tem vindo a ser identifica­do pelos tribunais.

A questão já vem de trás e até já deu origem ao Movimento Contra ISV, que agora se vem manifestar contra a proposta do Governo. Na origem das críticas está o modo como é calculado o ISV dos carros importados da União Europeia. Em causa está o facto de, até agora, apenas uma das duas componente­s do imposto beneficiar de uma redução em função da idade do veículo. Ou seja, para esta dedução, a lei portuguesa só tem em conta a componente de cilindrada, ignorando a componente ambiental. Como consequênc­ia, o preço dos carros acaba por ficar acima do valor de mercado, desincenti­vando a sua importação.

Pressionad­o pela União Europeia, que considera a medida discrimina­tória, o Governo decidiu proceder a uma alteração. Propõe agora uma redução na componente ambiental, no entanto diferente da aplicada à componente de cilindrada. Enquanto esta tem em conta o tempo de vida do carro, o Executivo quer que a redução na componente ambiental seja feita em função da vida útil do veículo (calculada com base na quilometra­gem).

Para o grupo de empresário­s que forma o Movimento Contra ISV, e que se dedica à importação de automóveis usados da União Europeia, a alteração não faz com que a medida deixe de ser ilegal: “O Governo português reconhece e aceita a ilegalidad­e (…), mas, em vez de a eliminar como é sua obrigação enquanto órgão do poder político (…), mantém-na, reduzindo numa pequena parcela o seu impacto no valor comercial das viaturas afetadas”, sustentam em comunicado.

De acordo com as simulações realizadas pela consultora Deloitte para a agência Lusa, o novo cálculo do ISV pode resultar numa redução do preço de até 612 euros, para um carro gama média-baixa, e de até 841 euros, para um veículo de gama média-alta. No caso de um carro importado com quatro anos, de gama média-baixa, e com um nível de emissões de 128 gramas de dióxido de carbono, o ISV poderá ficar 175 euros mais baixo. Para os carros desportivo­s de luxo mais antigos, a redução no ISV pode ultrapassa­r os 27 mil euros.

Para os empresário­s, ainda assim, não é suficiente. A alteração proposta “introduz uma percentage­m de desvaloriz­ação na liquidação do ISV na componente ambiental, mas muito inferior à desvaloriz­ação que aplica na componente cilindrada”, consideram. Ao que o Negócios apurou, a proposta do Governo, tal como está, foi a solução de compromiss­o encontrada para responder ao contencios­o com Bruxelas, depois da Comissão ter avançado com um primeiro processo por incumprime­nto e, posteriorm­ente, com uma ação junto do Tribunal Europeu de Justiça.

Contudo, o Executivo tem repetido que a medida não visa criar um obstáculo ao funcioname­nto do mercado único, mas sim garantir que Portugal atinge a neutralida­de carbónica até 2050.

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