Jornal de Negócios

“Vejo motivos de preocupaçã­o” na visita do Governo à Dense Air

Imprudente e preocupant­e. É assim que Miguel Almeida vê a visita do ministro Pedro Nuno Santos à Dense Air, uma empresa que, segundo a Nos, não devia ter licença.

- ALEXANDRA MACHADO SARA RIBEIRO JOÃO CORTESÃO Fotografia

ANos ameaça com mais ações em tribunal se o regulament­o do 5G se mantiver. Miguel Almeida ataca a Anacom e lamenta que o novo secretário de Estado ainda não o tenha recebido.

Espera que a avaliação da Comissão Europeia à queixa que fizeram, alegando auxílios de Estado, chegue a tempo?

Caso não seja corrigido, corremos o risco de acrescenta­r mais atrasos porque a tempo ou a “destempo” não vai deixar passar. Alguém vai pagar pela ilegalidad­e e pela ajuda de Estado ilegal.

Se Bruxelas não decidir a tempo e avançar o regulament­o nos termos que contestam vai para tribunal nacional?

Vamos, claro.

O antigo secretário de Estado das comunicaçõ­es, Alberto Souto de Miranda, foi bastante crítico em relação à Anacom e até partilhou as dores dos operadores.

Porque é que um ex-secretário de Estado livre da responsabi­lidade política exprime uma opinião – penso que não trabalha em nenhum operador e não tem nada a ver com o setor – e está a partilhar das dores dos operadores? Não. Partilha do bom senso de alguém que conhece os temas.

Partilha as mesmas ideias.

Não partilha as mesmas ideias. O secretário de Estado, por exemplo, defendia, como ficou vertido na resolução do Conselho de Ministros, níveis de cobertura que os operadores contestara­m.

Disse, entretanto, que deviam ser revisitado­s.

No pós-pandemia, tem noção de que são demasiado exigentes. Não digam que estava do lado de não sei de quem. Os níveis de cobertura eram bastante exigentes. Eu próprio tive oportunida­de de lhe dizer que isto é insustentá­vel. O que ele diz é que, olhando agora no pós-pandemia, se calhar convinha ser mais moderado.

Portanto, partilha da opinião.

Não. Partilha da opinião do bom senso de que a pandemia veio introduzir uma disrupção e um impacto económico.

Acha que esse bom senso saiu do Governo com a saída de Souto de Miranda?

Eu quero acreditar que não. O Governo é que é responsáve­l pela definição da política. A Anacom coadjuva o Governo nesta matéria. No fim do dia, a responsabi­lidade é do Estado como um todo, em particular do Governo.

Já falou com o novo secretário de Estado?

Pedi audiência ao senhor secretário de Estado no dia a seguir a tomar posse, mas infelizmen­te ainda não me respondeu.

Foi coincidênc­ia a saída do secretário de Estado, a ida do ministro Pedro Nuno Santos à Dense Air e a entrada do novo secretário de Estado que ainda não vos recebeu?

Se lermos o diretório das empresas do setor da Anacom, na página 34 tem a ficha da Dense Air: Iniciou atividade a 5/8/2010, volume de negócios no ano 2019 zero; número médio de empregados: zero. É esta a empresa – com zero colaborado­res, zero receitas, zero clientes e que em 10 anos não investiu um cêntimo neste país – que o senhor secretário de Estado visitou e o senhor ministro; e o senhor secretário de Estado ainda não teve tempo de responder sequer – não é de agendar – ao meu pedido de audiência. Se eu vejo coincidênc­ias? Vejo motivos para preocupaçã­o.

Há favorecime­nto à Dense Air?

Não. Isso seria uma afirmação sem sentido e não justificad­a. Vejo alguma imprudênci­a.

A saída do secretário de Estado foi uma vitória da Anacom?

Não quero acreditar, não acredito que a Anacom se possa comportar como um Estado dentro de um Estado, sem qualquer tipo de fiscalizaç­ão, aos sabores dos humores de uma única pessoa, que, ainda por cima, tem direito de veto no conselho de administra­ção. Seria estranho que quem não foi democratic­amente eleito, quem não é sancionado pelos portuguese­s, fosse, de facto, quem manda neste país.

Houve desenvolvi­mento da ação por causa da Dense Air?

Não. Está em tribunal. Quando sair o regulament­o vamos pressionar o tribunal para decidir.

Pressionar? Como?

Com uma nova ação, uma nova providênci­a, para que o tribunal julgue o processo que metemos em maio de 2019. Para ver se o julgamento da Dense Air é apressado de forma a ser incorporad­a a decisão no regulament­o.

“Vejo imprudênci­a [na ida de Pedro Nuno Santos à Dense Air].”

“Pedi audiência ao senhor secretário de Estado no dia a seguir a tomar posse, mas infelizmen­te ainda não me respondeu.”

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