“Temos de navegar mais à vista no mercado”
O CEO da segunda maior gestora de ativos em Portugal argumenta que o ambiente atual de grande incerteza convida a decisões de investimento mais ponderadas e ajustes rápidos nas carteiras sempre que a situação o justifique.
Convertida em IM Gestão de Ativos em 2015, a antiga gestora do BCP tem vindo a crescer e a ganhar quota de mercado em Portugal. Com 20% do investimento aplicado em fundos mobiliários, a IMGA está agora atrás da líder Caixa Gestão de Ativos e não esconde a ambição de ascender ao primeiro lugar, mesmo que reconheça que esse objetivo não seja para já, admite Emanuel Silva, CEO da gestora. Quanto às condições desafiantes dos mercados, devido à pandemia, Emanuel Silva diz que é preciso “navegar mais à vista”.
A pandemia pôs fim a um período dourado nos mercados. Qual foi o impacto na gestão de ativos em Portugal?
Numa fase inicial, o efeito da pandemia e potenciais impactos económicos trouxeram uma enorme incerteza ao mercado financeiro, originando movimentos bruscos de queda e uma quantidade significativa de resgates (em média mais de 5%) em março. A IMGA manteve uma atuação conservadora e de permanente acompanhamento da evolução diária dos mercados, por forma a manter níveis adequados de liquidez. Atualmente as carteiras estão já recuperadas em termos de rentabilidade em mais de 80%.
Ainda assim, foi neste ambiente que chegaram ao segundo lugar nos fundos. Ad
“Temos como ambição natural poder vir a ser a maior gestora nacional.”
“A grande procura dos investidores é sempre por produtos com liquidez quase imediata.”
mitem ultrapassar a Caixa?
Já somos a maior gestora independente. Considerando já dados de outubro, estamos a superar os 20% de quota de mercado. As subscrições líquidas estão praticamente nos 370 milhões de euros, no ano. Não escondemos que queremos chegar ao primeiro lugar. Em 2015, tínhamos 1,5 mil milhões sob gestão, crescemos cerca de 68%. Mais de mil milhões de crescimento em cinco anos. A diferença para a Caixa é significativa mas não há impossíveis [4.416 milhões de euros sob gestão, contra 2.593 milhões da IMGA]. É certo que temos como natural ambição vir a ser a maior gestora de fundos de investimento do mercado nacional, mas não vamos estabelecer um prazo para que tal aconteça.
Essas subscrições estão a dirigir-se para que produtos?
A grande procura dos investidores é sempre por produtos com liquidez quase imediata – é o caso dos fundos de mercado monetário e de liquidez – e que possam preservar o capital. E é tendo em conta a preservação de capital que lançámos recentemente um fundo de mercado monetário em dólar.
Quanto é que esse efeito cambial pode render face a um fundo monetário?
Atualmente o euro/dólar está em 1,17 dólares e pode haver algum ajustamento em baixa. As remunerações que estamos a conseguir estão em torno dos 55 pontos base (0,55%). Pensamos que conseguimos garantir um retorno entre os 45, 50 e 60 pontos. Ainda em relação ao fator cambial, há muitos internacionais que estão a eleger Portugal para residir e têm contas em dólares e querem mantê-las em dólares. Mitigam o seu próprio risco, separando as contas entre euros e dólares. Isto acontece com várias nacionalidades, como o caso brasileiro. É natural que investidores vindos deste país tenham mais tendência para ter contas em dólares também em Portugal.
Qual o peso destes investidores estrangeiros na base de investidores da IMGA?
Temos mais de 135 mil clientes. O que sentimos do contacto com o mercado é que há crescente procura por parte de investidores internacionais, que têm vindo a entrar em Portugal e têm interesse nestas soluções alternativas.
Face à situação atual, quais as estratégias que estão a recomendar aos clientes?
Neste momento, perante a incerteza que há, tenho apostado muito quer nos PPR, quer nos multiativos. PPR na lógica da poupança, multiativos na lógica da diversificação do investimento. Neste processo vai haver espaço para os tais investimentos alternativos. Temos estado a analisar outras soluções de investimentos alternativos, numa vertente de mais longo prazo, nomeadamente os fundos de capital de risco.
Há espaço para os mercados manterem a recuperação dos últimos meses?
Estou moderadamente conservador. A melhor posição é estar atento à evolução no dia a dia no mercado. Há muitas circunstâncias que podem afetar o mercado. A questão da vacina e das eleições norte-americanas. O nosso posicionamento tem sido acompanhar dia a dia a evolução do mercado e promover os ajustamentos necessários nas carteiras, tão depressa quanto possível, para proteger as rendibilidades. Isto é o que vamos continuar a fazer até ao final do ano. Temos uma perspetiva para o longo prazo, mas infelizmente dado o cenário atual do mercado temos de navegar um pouquinho mais à vista e estar atentos aos sinais diários.