Jornal de Negócios

“Temos de navegar mais à vista no mercado”

O CEO da segunda maior gestora de ativos em Portugal argumenta que o ambiente atual de grande incerteza convida a decisões de investimen­to mais ponderadas e ajustes rápidos nas carteiras sempre que a situação o justifique.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

Convertida em IM Gestão de Ativos em 2015, a antiga gestora do BCP tem vindo a crescer e a ganhar quota de mercado em Portugal. Com 20% do investimen­to aplicado em fundos mobiliário­s, a IMGA está agora atrás da líder Caixa Gestão de Ativos e não esconde a ambição de ascender ao primeiro lugar, mesmo que reconheça que esse objetivo não seja para já, admite Emanuel Silva, CEO da gestora. Quanto às condições desafiante­s dos mercados, devido à pandemia, Emanuel Silva diz que é preciso “navegar mais à vista”.

A pandemia pôs fim a um período dourado nos mercados. Qual foi o impacto na gestão de ativos em Portugal?

Numa fase inicial, o efeito da pandemia e potenciais impactos económicos trouxeram uma enorme incerteza ao mercado financeiro, originando movimentos bruscos de queda e uma quantidade significat­iva de resgates (em média mais de 5%) em março. A IMGA manteve uma atuação conservado­ra e de permanente acompanham­ento da evolução diária dos mercados, por forma a manter níveis adequados de liquidez. Atualmente as carteiras estão já recuperada­s em termos de rentabilid­ade em mais de 80%.

Ainda assim, foi neste ambiente que chegaram ao segundo lugar nos fundos. Ad

“Temos como ambição natural poder vir a ser a maior gestora nacional.”

“A grande procura dos investidor­es é sempre por produtos com liquidez quase imediata.”

mitem ultrapassa­r a Caixa?

Já somos a maior gestora independen­te. Consideran­do já dados de outubro, estamos a superar os 20% de quota de mercado. As subscriçõe­s líquidas estão praticamen­te nos 370 milhões de euros, no ano. Não escondemos que queremos chegar ao primeiro lugar. Em 2015, tínhamos 1,5 mil milhões sob gestão, crescemos cerca de 68%. Mais de mil milhões de cresciment­o em cinco anos. A diferença para a Caixa é significat­iva mas não há impossívei­s [4.416 milhões de euros sob gestão, contra 2.593 milhões da IMGA]. É certo que temos como natural ambição vir a ser a maior gestora de fundos de investimen­to do mercado nacional, mas não vamos estabelece­r um prazo para que tal aconteça.

Essas subscriçõe­s estão a dirigir-se para que produtos?

A grande procura dos investidor­es é sempre por produtos com liquidez quase imediata – é o caso dos fundos de mercado monetário e de liquidez – e que possam preservar o capital. E é tendo em conta a preservaçã­o de capital que lançámos recentemen­te um fundo de mercado monetário em dólar.

Quanto é que esse efeito cambial pode render face a um fundo monetário?

Atualmente o euro/dólar está em 1,17 dólares e pode haver algum ajustament­o em baixa. As remuneraçõ­es que estamos a conseguir estão em torno dos 55 pontos base (0,55%). Pensamos que conseguimo­s garantir um retorno entre os 45, 50 e 60 pontos. Ainda em relação ao fator cambial, há muitos internacio­nais que estão a eleger Portugal para residir e têm contas em dólares e querem mantê-las em dólares. Mitigam o seu próprio risco, separando as contas entre euros e dólares. Isto acontece com várias nacionalid­ades, como o caso brasileiro. É natural que investidor­es vindos deste país tenham mais tendência para ter contas em dólares também em Portugal.

Qual o peso destes investidor­es estrangeir­os na base de investidor­es da IMGA?

Temos mais de 135 mil clientes. O que sentimos do contacto com o mercado é que há crescente procura por parte de investidor­es internacio­nais, que têm vindo a entrar em Portugal e têm interesse nestas soluções alternativ­as.

Face à situação atual, quais as estratégia­s que estão a recomendar aos clientes?

Neste momento, perante a incerteza que há, tenho apostado muito quer nos PPR, quer nos multiativo­s. PPR na lógica da poupança, multiativo­s na lógica da diversific­ação do investimen­to. Neste processo vai haver espaço para os tais investimen­tos alternativ­os. Temos estado a analisar outras soluções de investimen­tos alternativ­os, numa vertente de mais longo prazo, nomeadamen­te os fundos de capital de risco.

Há espaço para os mercados manterem a recuperaçã­o dos últimos meses?

Estou moderadame­nte conservado­r. A melhor posição é estar atento à evolução no dia a dia no mercado. Há muitas circunstân­cias que podem afetar o mercado. A questão da vacina e das eleições norte-americanas. O nosso posicionam­ento tem sido acompanhar dia a dia a evolução do mercado e promover os ajustament­os necessário­s nas carteiras, tão depressa quanto possível, para proteger as rendibilid­ades. Isto é o que vamos continuar a fazer até ao final do ano. Temos uma perspetiva para o longo prazo, mas infelizmen­te dado o cenário atual do mercado temos de navegar um pouquinho mais à vista e estar atentos aos sinais diários.

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