Jornal de Negócios

Progressõe­s das carreiras gerais devem ser “um pouco mais rápidas”

Ministra da Administra­ção Pública defende aceleração a partir de 2022.

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 JOÃO CORTESÃO Fotografia

Os aumentos salariais da Função Pública para 2021 ainda podem evoluir, mas “é difícil”, neste contexto, defender aumentos transversa­is. Em entrevista ao Negócios e à Antena 1, a ministra da Modernizaç­ão Administra­tiva e da Administra­ção Pública, Alexandra Leitão, assume que não conseguirá cumprir a promessa que fez para 2021, mas fixa outro objetivo a concretiza­r, eventualme­nte, no orçamento de 2022: a revisão da tabela remunerató­ria única para acelerar “um pouco” as progressõe­s nas carreiras gerais, incluindo dos técnicos superiores.

Disse que este orçamento não traz congelamen­to, mas na verdade há muitos funcionári­os com salários congelados no próximo ano, os que não tiverem progressõe­s.

As carreiras desenvolve­r-se-ão normalment­e. Quem tiver que ter progressõe­s como já teria, terá, quem tiver que ter promoções como já teria, terá, quem estiver numa fase em que não tem, não terá. Isto não é um congelamen­to, pelo contrário.

No ano passado, ainda antes da pandemia, o Governo prometeu um aumento de 1% para 2021. Nas negociaçõe­s com os sindicatos, este mês, apenas garantiu a subida para quem está na base salarial e apenas na medida em que o salário mínimo sobe. No ano passado a questão só ficou fechada mais tarde. Este ano a questão está encerrada?

Vamos ver. O que aconteceu no ano passado foi que após um conjunto de negociaçõe­s na Assembleia da República, verificou-se que havia uma folga, tornámos a sentar-nos à mesa para definir como é que essa folga era utilizada. Este ano estamos numa posição, infelizmen­te, muito diferente. Naturalmen­te que é sempre possível que as coisas corram melhor durante a negociação ou no âmbito do orçamento. Foi isto que propusemos aos sindicatos, foi isso que já conversámo­s, cumprindo as regras de negociação prévia à entrega do orçamento. Neste momento não consigo adiantar mais.

Não está encerrado ainda?

Bom, foi inclusivam­ente agora pedida a negociação suplementa­r pelo menos por uma das centrais sindicais, portanto sentar-nos-emos novamente à mesa.

Acha que haveria margem para aumentar pelo menos um bocadinho, até ao segundo escalão dos 693 euros, como aconteceu no ano passado, ou vamos ter funcionári­os com 20 anos de serviço a receber o salário mínimo?

Dificilmen­te um funcionári­o com 20 anos de serviço recebe o salário mínimo, porque já passou para, salvo erro, a quinta posição.

Concorda com este congelamen­to de salários? Em sede de Conselho de Ministros, quando o orçamento foi discutido, e tendo a senhora ministra prometido daquele aumento de 1%, o que defendeu?

Respondo-lhe sem problema nenhum. Num contexto em que há pessoas a perder o emprego, em que o défice [se agrava], em que tivemos de confinar e portanto o PIB teve uma queda sem precedente­s, acho que do ponto de vista da própria solidaried­ade entre trabalhado­res, seria muito difícil defender um aumento transversa­l para os trabalhado­res da administra­ção pública. Contudo, bater-me-ei muito para que haja para o ano um início, pelo menos, de discussão em torno da tabela remunerató­ria única [TRU]. A TRU está muito comprimida, fruto dos aumentos na base...

E vai ficar mais.

Vai ficar eventualme­nte um pouco mais. Mas isso é algo estrutural, que tem de ser feito. Tal como me baterei por uma coisa que na minha opinião é ainda mais importante: garantir, ou mexer o suficiente no SIADAP para que as pessoas tenham uma perspetiva de progressão diferente. O que é que eu quero dizer com isso: um técnico superior até pode entrar na administra­ção pública com um salário que, comparativ­amente com o privado não compara mal. O problema é que corre o risco de daí a seis ou sete anos estar exatamente no mesmo sitio e isto é que é problemáti­co. Acho que na base não compara mal com o privado, sobretudo se tivermos em conta que a administra­ção publica permite aos jovens um conjunto de outras coisas que pelo menos em certo privado não têm: tempo para formação, para ao mesmo tempo fazerem o mestrado. O problema é que na evolução é uma evolução lenta demais na carreira geral. Isso é que é o grande problema.

Acha que as progressõe­s nas carreiras gerais deviam ser mais rápidas?

Um pouco mais rápidas, sim. Não sei ainda em que termos, obviamente fundadas em sistemas de avaliação [como já acontece] e não em sistemas de tempo, isto é fundamenta­l. Mas há muitos sistemas de avaliação e podem ser modelados.

É para concretiza­r quando?

Pelo menos lançar a discussão no próximo ano para ver se ela pode ter frutos no orçamento de 2022.

Em relação ao salário mínimo o Governo já disse que quer chegar aos 750 euros brutos mensais até 2023. Para a administra­ção publica não devia haver aqui também um compromiss­o?

Para a administra­ção pública esse efeito ocorrerá sempre na mesma. Mas não chega porque esse efeito de arrastamen­to vai pulverizar completame­nte a tabela remunerató­ria, porque ao puxar isso vamos ter outros níveis remunerató­rios completame­nte comidos. Esse trabalho de revisão mais estrutural da tabela remunerató­ria única tem de acontecer até por causa dessa medida. É uma tarefa bastante complexa porque vai arrastando por aí acima, mas acho que é quase inevitável. Neste momento a tabela remunerató­ria já começa no quarto nível porque os outros para trás já foram ultrapassa­dos.

Portanto, não sabendo ainda se se consegue mais alguma coisa para 2021 a nível, por exemplo, dos salários mais baixos, promete um trabalho mais complexo para 2022.

Desejavelm­ente, sim. Se não houver mais surpresas desagradáv­eis como as que tivemos este ano, sim. Esse trabalho estrutural tem de ser feito. Estou segura que haverá abertura dos sindicatos para fazer esse trabalho.

“Num contexto em que há pessoas a perder o emprego (...) seria muito difícil defender aumentos transversa­is para os trabalhado­res da administra­ção pública.”

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