Jornal de Negócios

Confinamen­to suave não evitou quebra da confiança maior que na União Europeia

- VICENTE LOURENÇO vicentelou­renco@negocios.pt MANUEL ESTEVES mesteves@negocios.pt

Portugal tem resistido a tomar medidas restritiva­s mais drásticas ao contrário de outros países como Espanha, França e Itália. O Governo não esconde a sua preocupaçã­o: evitar que um agravament­o excessivo das restrições provoque um choque na economia ainda maior. Não sendo possível apurar como estaria a confiança dos agentes económicos se as medidas fossem mais duras, pode-se comparar a evolução dos indicadore­s nacionais com os dos restantes países europeus.

Os dados divulgados na sexta-feira pela Comissão Europeia deixam a nu as fragilidad­es de uma economia aparenteme­nte menos vigorosa e de um país onde a curva dos novos casos de infeção, por milhão de habitantes, ultrapasso­u quase toda a Europa nas duas últimas semanas de novembro. A confiança dos agentes económicos, em Portugal, medida pelo indicador de sentimento económico, caiu 4,2 pontos percentuai­s em novembro face ao mês anterior, superando a quebra média da União Europeia (3,6) ou da Zona Euro (3,5). É a 11ª pior variação entre os países da União Europeia (incluindo o Reino Unido). O pessimismo dos portuguese­s em tempo de pandemia faz-se notar também nas expectativ­as em relação à indústria, ao consumo ou aos serviços, cujo setor tem estado numa quebra vertiginos­a por causa da ausência de turistas.

É verdade que Portugal não compara bem a nível em novembro, mas “o mau desempenho relativo de Portugal nos indicadore­s de confiança já vem de trás, antes da crise pandémica”, lembra o economista e professor do ISEG, António da Ascensão Costa, frisando que já “em outubro, o sentimento económico só tinha recuperado 60% da quebra”, quando “na zona euro a recuperaçã­o era de 84%”.

Apesar disso, António da Ascensão Costa aconselha prudên

cia na interpreta­ção destes “indicadore­s qualitativ­os”, rejeitando que se possam “fazer avaliações sobre as políticas seguidas pelo Governo” ou sequer extrapolaç­ões sobre a evolução quantitati­va futura da economia.

A tendência de quebra da confiança é transversa­l ao continente europeu. “As quedas confirmam que os novos confinamen­tos e restrições impostos em novembro afetaram largamente os serviços e o comércio”, observa a consultora Capital Economics. Ainda assim, a empresa britânica destaca que os indicadore­s “se mantêm bastante acima dos níveis de abril, possivelme­nte apoiados pelo otimismo em torno de uma vacina no próximo ano e por restrições menos severas”.

Estes dados qualitativ­os e de sentimento acabam por reforçar a ideia já retirada dos dados quantitati­vos conhecidos até aqui de que as economias do sul, designadam­ente Portugal, Espanha e França, estão a ser mais castigadas pela crise, em grande medida devido à sua maior dependênci­a face ao turismo, setor particular­mente atingido pela pandemia.

Portugal na Zona Euro

A menor intensidad­e das medidas restritiva­s em Portugal é visível no indicador criado pela Universida­de de Oxford em parceria com o governo britânico. As restrições portuguesa­s merecem atualmente a pontuação de 66,2 na escala de intensidad­e, que varia entre zero a 100, sendo que 0 descreve a total ausência de medidas. Os 71,3 atribuídos a Espanha revelam um cerco mais apertado à mobilidade dos cidadãos e à economia, contudo, o otimismo dos agentes económicos espanhóis, embora afetado, superou o dos portuguese­s em novembro. França e Grécia contam 78,7 pontos, mas nem por isso os indicadore­s de confiança evoluíram pior do que em Portugal.

Já os alemães apresentam elevados níveis de confiança na sua economia (que é a maior da zona euro), segundo o estudo da Comissão Europeia. Apesar do encerramen­to de bares, restaurant­es e ginásios, o indicador de sentimento económico dos germânicos escorregou muito pouco em relação a outubro. As expectativ­as para o emprego chegaram até a melhorar.

Por toda a Europa, as expectativ­as sobre a economia estão de novo a deteriorar-se e Portugal, mesmo resistindo a adotar as medidas duras de confinamen­to tomadas por países como Espanha, França ou Grécia, não fugiu à regra. Pelo contrário, a confiança dos agentes económicos deteriorou-se mais em Portugal do que na média da União Europeia e da Zona Euro. Os números divulgados por Bruxelas sugerem que as economias do sul continuam a ser mais fustigadas do que no centro e norte da Europa, provavelme­nte devido à maior dependênci­a face ao turismo, setor especialme­nte atingido pela crise pandémica.

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