Bolsas europeias tiveram o melhor mês de sempre
As notícias animadoras em torno de várias vacinas eficazes contra a covid-19, em simultâneo com a confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições dos EUA fizeram disparar as bolsas mundiais durante novembro. Trata-se do melhor mês de sempre na Europa e o terceiro melhor da bolsa lisboeta.
Omês de dezembro é habitualmente marcado pelo chamado “rally” do Pai Natal. Este ano, o presente chegou um mês antes. A vitória de Joe Biden nas presidenciais nos Estados Unidos e as notícias animadoras em torno de uma vacina contra a covid-19 aceleraram uma rápida recuperação nos mercados acionistas, que viveram um dos melhores meses da sua história. Em Lisboa, houve apenas duas ocasiões em que o PSI-20 subiu mais no espaço de um mês do que em novembro, ambas há mais de duas décadas.
Novembro vai ficar para a história das bolsas. Depois de um período de maior instabilidade vivido nos mercados financeiros durante o mês de outubro, devido ao forte aumento do número de novas infeções por covid-19 e à implementação de novas medidas de restrição para conter o surto, o penúltimo mês do ano trouxe um novo alento aos investidores. A confirmação da vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, acompanhada quase em simultâneo pelo anúncio da Pfizer sobre a eficácia da sua vacina contra a covid-19 – entretanto seguido pela Moderna e pela vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca – patrocinaram uma verdadeira escalada das bolsas mundiais em novembro, num movimento em que as praças europeias tomaram a dianteira.
O índice europeu Stoxx 600 valorizou cerca de 13,7%, naquele que é o melhor mês de sempre registado pelo índice e supera o anterior recorde registado em abril de 2009, após a crise financeira de 2008, altura em que o índice subiu 13,47%. Novembro foi também um dos melhores meses de sempre para as ações mundiais, com o MSCI World a valorizar perto de 13%, uma “performance” apenas superada em janeiro de 1975, quando o índice mundial subiu 14,26%.
Em Lisboa, o PSI-20 valorizou 16,72%, com todas as cotadas a registarem ganhos – a REN foi a empresa que subiu menos, ao avançar 1,8%. Apenas por duas vezes na sua história, o PSI-20 subiu mais desde a sua criação. Em fevereiro de 2000, em plena bolha das dotcom, o índice da bolsa de Lisboa disparou 18,24% e, em outubro de 1998, tinha valorizado outros 18,76%, o atual recorde.
“Apesar do crescente aumento do número de infeções por covid-19 em novembro, o progresso
Apesar do crescente aumento de infeções por covid-19, o progresso nas vacinas impulsionou a bolsa.
PAULO ROSA Economista sénior do Banco Carregosa
nas vacinas trouxe um impulso à praça de Lisboa”, explica Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Das 17 cotadas que atualmente compõem o PSI-20, apenas três – REN, Novabase e Corticeira Amorim – registaram subidas inferiores a 5% e nenhuma caiu. Do lado oposto, o BCP brilhou: disparou 57%.
Após um mês histórico, o potencial para ganhos adicionais poderá ser mais limitado. O que não significa que não haja espaço para as ações continuarem a valorizar. “A tendência do mercado é de alta no curto e médio prazos e o último mês do ano habitualmente é de alguma consolidação dos ganhos, mas a liquidez deverá permanecer baixa na época natalícia”, antecipa Paulo Rosa.
Nuno Caetano, analista da corretora Infinox, espera que o índice PSI-20 registe, no último mês do ano, “um comportamento em linha com as suas congéneres europeias e mundiais, em linha com a recuperação que temos assistido, desde que os números de casos registados por covid-19 se vão mantendo controlados, assim como a passagem da pasta do governo de Trump para o novo governo de Biden seja feita de forma suave, até à tomada de posse em janeiro”.
Olhando mais para a frente, a expectativa é que as bolsas mantenham a tendência positiva em 2021. “Os riscos estão a diminuir e o atrativo das bolsas a aumentar”, aponta o Bankinter, na sua análise semanal, onde os especialistas adiantam que estão a reforçar a exposição a ações. Grandes bancos de investimento como o
Goldman Sachs, o JPMorgan ou o Bank of America Merrill Lynch têm manifestado a sua preferência pelas ações mais penalizadas pela crise da covid-19, com os especialistas a posicionarem-se para uma rotação para os setores mais cíclicos e mais expostos à retoma.
“A vacina, as taxas de juro baixas e os estímulos monetários e fiscais que deverão surgir poderão suportar ganhos nas bolsas em 2021, depois de um ano atípico de 2020”, realça Paulo Rosa. Já Nuno Caetano nota que “os mercados já descontaram de certa forma a descoberta da vacina com novos máximos a serem atingidos em novembro, por isso a forma como a vacina será distribuída e o impacto que isso possa causar nas economias e na vida das pessoas no geral, será sem dúvida um fator que irá impactar os mercados em geral, e a bolsa nacional como consequência”.
“Com o aparecimento da vacina e a normalização, no geral, da vida das pessoas, podemos ter em destaque, por exemplo, as ações da Galp e da EDP”, conclui o analista da Infinox.