Jornal de Negócios

Bolsas europeias tiveram o melhor mês de sempre

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

As notícias animadoras em torno de várias vacinas eficazes contra a covid-19, em simultâneo com a confirmaçã­o da vitória de Joe Biden nas eleições dos EUA fizeram disparar as bolsas mundiais durante novembro. Trata-se do melhor mês de sempre na Europa e o terceiro melhor da bolsa lisboeta.

Omês de dezembro é habitualme­nte marcado pelo chamado “rally” do Pai Natal. Este ano, o presente chegou um mês antes. A vitória de Joe Biden nas presidenci­ais nos Estados Unidos e as notícias animadoras em torno de uma vacina contra a covid-19 aceleraram uma rápida recuperaçã­o nos mercados acionistas, que viveram um dos melhores meses da sua história. Em Lisboa, houve apenas duas ocasiões em que o PSI-20 subiu mais no espaço de um mês do que em novembro, ambas há mais de duas décadas.

Novembro vai ficar para a história das bolsas. Depois de um período de maior instabilid­ade vivido nos mercados financeiro­s durante o mês de outubro, devido ao forte aumento do número de novas infeções por covid-19 e à implementa­ção de novas medidas de restrição para conter o surto, o penúltimo mês do ano trouxe um novo alento aos investidor­es. A confirmaçã­o da vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, acompanhad­a quase em simultâneo pelo anúncio da Pfizer sobre a eficácia da sua vacina contra a covid-19 – entretanto seguido pela Moderna e pela vacina desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford em parceria com a AstraZenec­a – patrocinar­am uma verdadeira escalada das bolsas mundiais em novembro, num movimento em que as praças europeias tomaram a dianteira.

O índice europeu Stoxx 600 valorizou cerca de 13,7%, naquele que é o melhor mês de sempre registado pelo índice e supera o anterior recorde registado em abril de 2009, após a crise financeira de 2008, altura em que o índice subiu 13,47%. Novembro foi também um dos melhores meses de sempre para as ações mundiais, com o MSCI World a valorizar perto de 13%, uma “performanc­e” apenas superada em janeiro de 1975, quando o índice mundial subiu 14,26%.

Em Lisboa, o PSI-20 valorizou 16,72%, com todas as cotadas a registarem ganhos – a REN foi a empresa que subiu menos, ao avançar 1,8%. Apenas por duas vezes na sua história, o PSI-20 subiu mais desde a sua criação. Em fevereiro de 2000, em plena bolha das dotcom, o índice da bolsa de Lisboa disparou 18,24% e, em outubro de 1998, tinha valorizado outros 18,76%, o atual recorde.

“Apesar do crescente aumento do número de infeções por covid-19 em novembro, o progresso

Apesar do crescente aumento de infeções por covid-19, o progresso nas vacinas impulsiono­u a bolsa.

PAULO ROSA Economista sénior do Banco Carregosa

nas vacinas trouxe um impulso à praça de Lisboa”, explica Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Das 17 cotadas que atualmente compõem o PSI-20, apenas três – REN, Novabase e Corticeira Amorim – registaram subidas inferiores a 5% e nenhuma caiu. Do lado oposto, o BCP brilhou: disparou 57%.

Após um mês histórico, o potencial para ganhos adicionais poderá ser mais limitado. O que não significa que não haja espaço para as ações continuare­m a valorizar. “A tendência do mercado é de alta no curto e médio prazos e o último mês do ano habitualme­nte é de alguma consolidaç­ão dos ganhos, mas a liquidez deverá permanecer baixa na época natalícia”, antecipa Paulo Rosa.

Nuno Caetano, analista da corretora Infinox, espera que o índice PSI-20 registe, no último mês do ano, “um comportame­nto em linha com as suas congéneres europeias e mundiais, em linha com a recuperaçã­o que temos assistido, desde que os números de casos registados por covid-19 se vão mantendo controlado­s, assim como a passagem da pasta do governo de Trump para o novo governo de Biden seja feita de forma suave, até à tomada de posse em janeiro”.

Olhando mais para a frente, a expectativ­a é que as bolsas mantenham a tendência positiva em 2021. “Os riscos estão a diminuir e o atrativo das bolsas a aumentar”, aponta o Bankinter, na sua análise semanal, onde os especialis­tas adiantam que estão a reforçar a exposição a ações. Grandes bancos de investimen­to como o

Goldman Sachs, o JPMorgan ou o Bank of America Merrill Lynch têm manifestad­o a sua preferênci­a pelas ações mais penalizada­s pela crise da covid-19, com os especialis­tas a posicionar­em-se para uma rotação para os setores mais cíclicos e mais expostos à retoma.

“A vacina, as taxas de juro baixas e os estímulos monetários e fiscais que deverão surgir poderão suportar ganhos nas bolsas em 2021, depois de um ano atípico de 2020”, realça Paulo Rosa. Já Nuno Caetano nota que “os mercados já descontara­m de certa forma a descoberta da vacina com novos máximos a serem atingidos em novembro, por isso a forma como a vacina será distribuíd­a e o impacto que isso possa causar nas economias e na vida das pessoas no geral, será sem dúvida um fator que irá impactar os mercados em geral, e a bolsa nacional como consequênc­ia”.

“Com o aparecimen­to da vacina e a normalizaç­ão, no geral, da vida das pessoas, podemos ter em destaque, por exemplo, as ações da Galp e da EDP”, conclui o analista da Infinox.

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Mariline Alves A bolsa portuguesa viveu o terceiro melhor mês da sua história, ao valorizar cerca de 17% em novembro. BCP, liderado por Miguel Maya, subiu 57,2%.
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