As escolas não podem fechar
Não são só os hospitais que têm de permanecer abertos numa pandemia. O mesmo acontece com todos os serviços públicos essenciais. Mais, devem mesmo ser reforçados porque as pandemias vêm necessariamente acompanhadas por crises económicas e sociais, que atingem de forma mais severa o povo, ou seja, a maioria da população, aquela que não consegue aceder a outros serviços que não os públicos. E se há serviço público que não pode falhar são as escolas porque aí estamos a falar de crianças. E sim, isto é um assunto de saúde pública.
O Governo – e já agora, os partidos políticos, os epidemiologistas e os médicos de saúde pública – não percebeu isso quando decidiu, erradamente, manter as escolas encerradas para lá de abril mas parecia ter acertado o passo no novo ano letivo. Parecia… O surpreendente encerramento dos estabelecimentos escolares nestas duas segundas-feiras gera perplexidade.
Se as autoridades de saúde garantem, tal como a maioria dos especialistas, que as escolas não têm um papel relevante na propagação do vírus, então porquê encerrá-las por dois dias?
Se o Governo não quer que as pessoas circulem entre concelhos porque oficializa duas pontes de quatro dias incentivando, na prática, a que as pessoas se desloquem e se juntem? Os resultados foram aliás bem visíveis com as filas de trânsito em Lisboa e no Porto na sexta-feira à tarde antes que chegasse a limitação à circulação às 23h.
Claro que passear nas duas pontes é só para quem pode. Para quem teve direito aos dois dias de férias adicionais, para quem tem dinheiro para as deslocações e claro para quem tem uma segunda casa ou dinheiro para arrendar alojamento.
Quem não pode, arrisca-se também a não conseguir ir trabalhar e segurar o seu salário. É que além de verem os filhos privados da escola, da aprendizagem e dos cuidados e atenções de que aí beneficiam, os trabalhadores do setor privado que não podem fazer teletrabalho – 80% segundo um inquérito do Ministério do Trabalho – não têm direito a subsídio de compensação caso tenham de faltar para tomar conta das crianças. Podem quando muito meter uns dias de férias, se ainda as tiverem. Ou seja, aos funcionários públicos, o Governo oferece dois dias de férias; ao setor privado, sugere dois dias de férias forçadas.
E se no Continente, as escolas fecham dois dias, nos Açores, de que pouco se fala, há dezenas de escolas que começaram a fechar há mais de duas semanas, deixando as crianças a cargo dos pais seja quais forem as condições em que estes se encontram. Quem as manda fechar, seja o governo regional seja o da República, não sabe o que está a fazer. Mas nem por isso merecem perdão.