Jornal de Negócios

As escolas não podem fechar

- MANUEL ESTEVES Editor executivo mesteves@negocios.pt

Não são só os hospitais que têm de permanecer abertos numa pandemia. O mesmo acontece com todos os serviços públicos essenciais. Mais, devem mesmo ser reforçados porque as pandemias vêm necessaria­mente acompanhad­as por crises económicas e sociais, que atingem de forma mais severa o povo, ou seja, a maioria da população, aquela que não consegue aceder a outros serviços que não os públicos. E se há serviço público que não pode falhar são as escolas porque aí estamos a falar de crianças. E sim, isto é um assunto de saúde pública.

O Governo – e já agora, os partidos políticos, os epidemiolo­gistas e os médicos de saúde pública – não percebeu isso quando decidiu, erradament­e, manter as escolas encerradas para lá de abril mas parecia ter acertado o passo no novo ano letivo. Parecia… O surpreende­nte encerramen­to dos estabeleci­mentos escolares nestas duas segundas-feiras gera perplexida­de.

Se as autoridade­s de saúde garantem, tal como a maioria dos especialis­tas, que as escolas não têm um papel relevante na propagação do vírus, então porquê encerrá-las por dois dias?

Se o Governo não quer que as pessoas circulem entre concelhos porque oficializa duas pontes de quatro dias incentivan­do, na prática, a que as pessoas se desloquem e se juntem? Os resultados foram aliás bem visíveis com as filas de trânsito em Lisboa e no Porto na sexta-feira à tarde antes que chegasse a limitação à circulação às 23h.

Claro que passear nas duas pontes é só para quem pode. Para quem teve direito aos dois dias de férias adicionais, para quem tem dinheiro para as deslocaçõe­s e claro para quem tem uma segunda casa ou dinheiro para arrendar alojamento.

Quem não pode, arrisca-se também a não conseguir ir trabalhar e segurar o seu salário. É que além de verem os filhos privados da escola, da aprendizag­em e dos cuidados e atenções de que aí beneficiam, os trabalhado­res do setor privado que não podem fazer teletrabal­ho – 80% segundo um inquérito do Ministério do Trabalho – não têm direito a subsídio de compensaçã­o caso tenham de faltar para tomar conta das crianças. Podem quando muito meter uns dias de férias, se ainda as tiverem. Ou seja, aos funcionári­os públicos, o Governo oferece dois dias de férias; ao setor privado, sugere dois dias de férias forçadas.

E se no Continente, as escolas fecham dois dias, nos Açores, de que pouco se fala, há dezenas de escolas que começaram a fechar há mais de duas semanas, deixando as crianças a cargo dos pais seja quais forem as condições em que estes se encontram. Quem as manda fechar, seja o governo regional seja o da República, não sabe o que está a fazer. Mas nem por isso merecem perdão.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal