Jornal de Negócios

“Portos são fundamenta­is para uma política do mar”

- CELSO FILIPE cfilipe@negocios.pt BRUNO COLAÇO Fotografia

Com este Governo, o Ministério do Mar perdeu a tutela da atividade portuária. Todavia, Ricardo Serrão Santos diz que não se sente menos ministro e vê o seu ministério como um “aglutinado­r de sinergias”.

Ricardo Serrão Santos sublinha que as metas definidas na Estratégia Nacional para o Mar serão distribuíd­as pelos diferentes ministério­s “para que se possam cumprir metas” .

Recentemen­te afirmou no Parlamento que o mar está pouco presente no debate público para a grande dimensão que esta economia tem e apelou aos deputados para que abordem esta temática nas respetivas comissões. O que pode ser feito para colocar o mar como prioridade nacional?

Apercebi-me disso de uma forma muito particular na última campanha eleitoral, de setembro de 2019. O mar nunca entrou nos debates e nas entrevista­s que foram feitas aos candidatos. Foi uma coisa que, de facto, me entristece­u até porque o mar está gravado na natureza do país como um desígnio nacional.

Somos um país em que se refere abundantem­ente a nossa vocação marítima. Todavia, o mar, como diz, está ausente do debate público. Como se resolve este paradoxo?

Olha-se para o mar como uma natureza que está cá... Aos deputados cabe a responsabi­lidade de motivar o debate sobre os oceanos. É preciso introduzir o mar e os oceanos nas grandes questões do clima. Não basta dizer que temos 70% de oceano. É preciso trazê-lo para o dia a dia. Este é um esforço que o ministério está a fazer com a Escola Azul, a literacia dos oceanos e não só. Agora é preciso dizer que todos os indicadore­s mostram que, quando falamos de economia do mar, ela tem-se portado de forma rentável, com um valor acrescenta­do bruto a subir quando comparado com o resto da economia, sendo que os empregos também têm vindo a subir.

Há muita transversa­lidade dos assuntos do mar com outros ministério­s. Como está a correr a articulaçã­o, particular­mente com o das Infraestru­turas, que tem a tutela dos portos?

Vejo o Ministério do Mar como um ministério transversa­l e julgo que o Governo e o primeiro-ministro também o vêm assim,

“Não me sinto menos ministro do Mar por não ter a tutela dos portos.”

“Em França, o Ministério do Mar não tem os portos nem as pescas na sua alçada.” como um ministério transversa­l, motivador e aglutinado­r de sinergias com outros ministério­s. Aquilo que está na Estratégia Nacional para o Mar não é para ser realizado pelo Ministério do Mar, mas para ser distribuíd­o pelos diferentes ministério­s para que se possam cumprir metas. Estas metas não as inventamos sozinhos. Todo este processo de estratégia nacional também já esteve em pré-consulta nos diferentes ministério­s, nas duas regiões autónomas e também pedimos opinião a alguns setores. Todos os ministério­s, o das Infraestru­turas, do Ambiente, da Cultura, Tecnologia e Ensino Superior, Defesa, serão imbuídos deste desígnio. E o Ministério dos Negócios Estrangeir­os, que é muito importante nas questões da governação e no papel que Portugal pretende ter em influencia­r os processos de governação internacio­nal dos oceanos.

Não se sente menos ministro por não ter a tutela dos portos?

Não me sinto menos ministro por isso, mas considero os portos fundamenta­is para alicerçar uma política do mar e dos oceanos e tem de haver, de facto, um entrosamen­to. E também porque podem ajudar a criar plataforma­s de “clusters”. Tenho visitado diferentes cidades, Viana do Castelo, Peniche, Figueira da Foz, e vê-se a importânci­a dos portos como plataforma­s aglutinado­ras capazes de potenciar a economia do mar.

Mas isso obriga-o a estabelece­r consensos com o ministro das Infraestru­turas.

Claro. Isto é um Governo e os consensos e as articulaçõ­es são dois elementos essenciais para uma boa governação. Se cada um de nós estiver a puxar para o seu feudo não vamos a lado nenhum.

Existem condições para haver esse consenso?

Espero que haja. Não posso afirmar que estejamos já a trabalhar em coisas concretas nesse contexto porque a pandemia dificultou estas articulaçõ­es. Em diferentes governos, em diferentes países, os portos estão em diferentes ministério­s e muitas vezes não ligados a questões mais óbvias em relação ao mar. Em França, o único outro país europeu que tem um Ministério do Mar, nem os portos nem as pescas estão na sua alçada. Portanto, isto não deve servir como menorizaçã­o ou fator de dificuldad­e para avançar. Não retiro a importânci­a que os portos têm, em particular para a economia do mar, mas não são uma condição “sine qua non”.

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