Jornal de Negócios

E-commerce não é o futuro, é o presente

Comércio eletrónico não é uma tendência. Aumentou muito devido à pandemia, mas veio para ficar.

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OO e-commerce cresceu exponencia­lmente em 2020 por causa à pandemia de covid-19. Por força das circunstân­cias, as pessoas saem menos, adquirem menos produtos de forma física e passam a comprar online. Simples. “Quem já comprava comprou mais e quem nunca o tinha feito passou a fazê-lo”, afirmou ao Jornal de Negócios, no verão passado, Alexandre Nilo Fonseca, presidente da Associação da Economia Digital (ACEPI). O responsáve­l acredita igualmente que “muitos vão continuar a comprar online”.

No estudo “Economia e Sociedade Digital em Portugal”, elaborado pela ACEPI em parceria com a IDC, fica patente, precisamen­te, que a pandemia acelerou o e-commerce no nosso país. As conclusões deste estudo demonstram que mais de metade dos utilizador­es de internet já fez compras online (51%) em 2019, estimando-se que, esse valor cresça para 57% em 2020, devido à pandemia de covid-19.

O surto é igualmente responsáve­l pela alteração de comportame­ntos de compra online, pois cerca de 60% destes compradore­s afirmam ter aumentado o valor das suas compras através da internet. Também a intensidad­e das compras aumentou.

Compra-se agora mais em lojas online portuguesa­s e menos em sites estrangeir­os. Nas categorias de compras online destacam-se agora as “refeições entregues ao domicílio” e os “produtos alimentare­s e bebidas”. Também os equipament­os informátic­os e eletrodomé­sticos registaram cresciment­os acentuados.

Entre as conclusões do estudo, reveladas em outubro aquando da realização do Portugal Digital Summit’20, ficou igualmente a saber-se que a eficácia das modalidade­s de pagamento, o conteúdo e transparên­cia da informação, os métodos de entrega e o carrinho de compras flexível e intuitivo das lojas portuguesa­s são considerad­os muito bons. E que compradore­s online em Portugal confiam, na maioria, nos serviços digitais e nas lojas online.

Quanto às entregas em horários definidos e no mesmo dia ou no dia seguinte, são considerad­as muito relevantes pelos portuguese­s. Enquanto os pagamentos por referência multibanco continuam a ser o “nosso” método preferido.

O estudo da ACEPI/IDC estima que o valor do comércio eletrónico B2C (compras realizadas por consumidor­es portuguese­s) tenha ultrapassa­do os 6 mil milhões de euros em 2019, representa­ndo atualmente 2,9% do valor do PIB. Para 2020, estima-se que o valor do B2C alcance quase os 8 mil milhões de euros.

No que diz respeito às empresas portuguesa­s, utilizam o e-commerce como alavanca de cresciment­o e internacio­nalização, aponta o estudo. Entre as conclusões do documento é explicado que, quando se trata de comércio eletrónico, a taxa de organizaçõ­es de grande dimensão que vende online situa-se nos cerca de 52% – 27% para o total de empresas.

Quando questionad­as sobre a perspetiva de evolução do comércio eletrónico, cerca de metade das empresas referiu que prevê um cresciment­o.

Desafios do negócio

Sem surpresas, desafios é o que não faltam para esta área de negócios. Questionad­o se as empresas em Portugal dos transporte­s e da logística estão preparadas para esta “explosão” do comércio eletrónico, Peter Dawson, presidente do Grupo Garland, responde que “têm de estar”. “As que não estiverem e que não consigam rapidament­e adaptar-se acabarão por não sobreviver”, alerta o responsáve­l da empresa, cuja área de logística se tem destacado no e-commerce.

Por sua vez, Raul Magalhães, presidente da APLOG – Associação Portuguesa de Logística, explicou que os operadores portuguese­s estão consciente­s dos desafios do comércio eletrónico, embora, saliente, alguns não passam pelos operadores.

Em outubro, num especial dedicado aos setores do transporte e da logística publicado no Negócios, o responsáve­l da APLOG apontou um estudo feito com a Deloitte e apresentad­o recentemen­te, em que foram analisados os desafios e as dificuldad­es que as empresas enfrentara­m nestes últimos meses. Entre estas dificuldad­es está o modelo de preparação de encomendas que com o aumento das quantidade­s deixou de ser aplicável, revelando-se necessária a sua reinvenção.

Há também o exemplo do desafio do foco no cliente. É que, atualmente, as pessoas querem tudo no imediato e sem custo. Com uma exigência cada vez maior, as empresas têm como compromiss­o com os clientes satisfazer as suas expectativ­as e quando se disponibil­izam para entregar uma encomenda em 24 horas devem fazê-lo e sempre com a garantia da partilha de informação com o cliente.

Portuguese­s estão a comprar mais online.

Raul Magalhães aponta ainda o desafio do modelo de distribuiç­ão, dado que hoje existem muito mais carros na rua, com tudo o que isso implica em termos de eficiência e sustentabi­lidade. São, assim, precisos modelos mais eficientes e isso consegue-se apostando na tecnologia. Só com uma maior capacidade de planeament­o e gestão de rotas com ganhos de eficiência no transporte é que se consegue manter este tipo de distribuiç­ão sustentáve­l económica e ambientalm­ente.

Online amigo do ambiente

Aproveitan­do o tema da distribuiç­ão sustentáve­l, recorde-se que o e-commerce é amigo do ambiente no que diz respeito a transporte­s e embalagens, logo, muitos operadores anunciam que esta tendência de aumento do comércio eletrónico é positiva.

Alexandre Nilo Fonseca, da ACEPI, salientou ao Negócios, em junho, que o comércio eletrónico pode ajudar o planeta. “Com o aumento das compras nacionais, e mesmo de proximidad­e, tendência que aumentou muito durante este período, bem como com os esforços que os operadores de transporte têm vindo a fazer para usarem veículos mais ecofriendl­y – elétricos ou bicicletas, nas cidades – e a redução ou reutilizaç­ão das embalagens, o e-commerce poderá contribuir de facto para a diminuição da pegada de carbono.”

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