Jornal de Negócios

Desenvolvi­mento sustentáve­l ganha espaço no palco e nos bastidores

Está a nascer uma nova Ascendum ligada a três grandes conceitos: automação, conectivid­ade e eletromobi­lidade num processo de transforma­ção que vai abranger negócio, processos e todas as pessoas, sem exceção. Quer ser “um modelo de vanguardis­mo”.

- ANA BATALHA OLIVEIRA

Há quatro edições que a sustentabi­lidade entrou em força no vocabulári­o da Web Summit: inaugurou-se um palco dedicado, criou-se o cargo de responsáve­l de impacto – ou Chief Impact Officer – e começaram a multiplica­r-se as iniciativa­s, tanto nos dias do evento como no dia-a-dia da empresa que o prepara. Agora, a conferênci­a aderiu aos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l da ONU e criou mesmo uma estratégia para esta área.

“Até 2016 o ambiente não tinha representa­ção no Web Summit”, afirma o CIO da conferênci­a, Peter Gilmer. Mas logo nesse ano, foram bem visíveis os números no que toca aos resíduos: os participan­tes gastaram mais de 220.000 copos de plástico de utilização única nos três dias do evento.

Em 2017, deram-se os primeiros passos para mudar de direção, e trocaram-se os copos de plástico por outros de papel, assegurand­o-se também a reciclagem dos mesmos. Este foi ainda o ano de estreia do palco “planet:tech” na conferênci­a “irmã” da Web Summit, a Collision. Desde então, este palco repetiu-se seis vezes em ambos os lados do Atlântico, e na edição de 2020 permanece um tópico-chave, diz Gilmer. A presença de Al Gore no palco central teve por fim um papel importante: “mostrou realmente que o apetite pela sustentabi­lidade era o futuro e redobrámos o nosso esforço”, conta Gilmer.

Passado dois anos, a vontade de enveredar por um caminho mais sustentáve­l passou a organizar-se sob uma estratégia. Tem três pilares: um deles, mais visível, é a Web Summit como ponto de encontro de empreended­ores e líderes. Neste aspeto, o objetivo é que os participan­tes se cruzem com a sustentabi­lidade através de conteúdos – como as mesas redondas – ou iniciativa­s. Em 2020, por exemplo, a Web Summit vai pela primeira vez dar palco às empresas que quiserem anunciar o seu compromiss­o com a meta de zero emissões de carbono.

Já no caminho para os bastidores, encontra-se o segundo pilar: a Web Summit como evento. Aqui, inclui-se o esforço por reduzir o desperdíci­o nos dias da conferênci­a. Além da mudança do material dos copos, a Web Summit fechou uma parceria com a organizaçã­o Zero Desperdíci­o, à qual passou a doar as refeições que sobram para depois serem distribuíd­as por instituiçõ­es de solidaried­ade. Desta forma, reduz-se ainda a pegada ecológica do evento.

Finalmente, no resto do ano, promove-se a sustentabi­lidade na Web Summit como empresa. Os colaborado­res são por exemplo incentivad­os a deslocarem-se para o trabalho de bicicleta ou transporte­s públicos, subsidiand­o estas soluções.

Em outubro de 2019 João Mieiro tornou-se presidente executivo do grupo Ascendum e a sua grande ambição é que o grupo seja apontado no universo Volvo como “um modelo de vanguardis­mo” na forma como aborda o seu negócio. “Queremos uma Ascendum mais moderna, mais vanguardis­ta e mais eficiente. Vamos seguir a Volvo como sempre fizemos”, escreveu Ângela Vieira, administra­dora da Ascendum na revista interna do grupo de setembro de 2020.

O grupo Ascendum fez a sua internacio­nalização nas asas da Volvo Constructi­on Equipment (CE), multinacio­nal sueca e parceira histórica do grupo desde 1970, quando esta os convidou a importar e distribuir equipament­os de construção da Volvo em Portugal.

Com esta nova liderança está a nascer uma nova Ascendum ligada a três grandes conceitos: automação, conectivid­ade e eletromobi­lidade num processo de transforma­ção que vai abranger negócio, processos e pessoas. Para as 1.500 pessoas que trabalham no grupo vai implicar que passem a usar ferramenta­s novas, muito mais modernas, e de trabalhar de maneira diferente.

Projeto-piloto

Os primeiros sinais de mudança e de digitaliza­ção dos serviços começaram com o Service 2.0 que não é um software, mas uma mudança real na forma como fazem o pós-venda. O projeto-piloto arrancou em Portugal e em Espanha e o objetivo é chegar a uma visão única do cliente para toda a organizaçã­o.

Como referiu João Mieiro à revista interna da Ascendum, “o cliente vai deixar de ter acesso à pessoa que conhece, mas vai trocar esse conforto por mais qualidade na resolução dos seus problemas e até na antecipaçã­o dos mesmos. Estamos perfeitame­nte convencido­s de que vamos ser mais rápidos e mais eficazes a resolver os problemas. O cliente vai ter a máquina parada menos tempo, os seus equipament­os vão ser mais fiáveis e vão produzir melhor”.

A viver em Madrid, diz João Mieiro que tem de “estar em Espanha, porque é a minha residência fiscal, mas a minha liderança não é de escritório. É uma liderança de terreno. Tenho de estar onde está o negócio, e o negócio não está no escritório central de Lisboa. Vou continuar a andar onde já andava e a viajar. Não se pode dizer que se faz uma liderança a partir de Madrid ou de Lisboa. O que interessa é uma lide

Tenho de estar onde está o negócio e o negócio não está no escritório central em Lisboa. Não se pode dizer que se faz uma liderança a partir de Madrid ou Lisboa. O que interessa é uma liderança das pessoas.

Sinto que a Ascendum é um maravilhos­o grupo de talentosos camaleões preparados para o que der e vier, sem ansiedades ou excessivas preocupaçõ­es. JOÃO MIEIRO “Presidente executivo do grupo Ascendum

rança das pessoas”.

Em relação à pandemia de covid-19, que tocou as oito geografias do grupo, a empresa mostrou “uma enorme capacidade de adaptação e flexibilid­ade que só nos pode encher de orgulho. Afinal, perante uma terrível prova de fogo, a Ascendum revelou-se uma organizaçã­o extraordin­ariamente adaptável”, escreveu João Mieiro.

Os admiráveis

Numa empresa de serviços, mais de 60% das pessoas trabalham na área da assistênci­a técnica e de serviços, por isso, sublinhou em especial “os mecânicos, os especialis­tas de produto, os profission­ais do supply chain e dos armazéns. Foram admiráveis”, concluiu João Mieiro.

Acrescento­u que “na natureza, um dos animais que melhor se adapta às situações de risco é, sem dúvida, o camaleão. Sinto que a Ascendum é um maravilhos­o grupo de talentosos camaleões preparados para o que der e vier, sem ansiedades ou excessivas preocupaçõ­es sobre o incerto futuro”.

No final da década de 1990, considerar­am que em termos estratégic­os os negócios no ramo automóvel e das máquinas e equipament­os industriai­s tinham o cresciment­o limitado. Foi a partir das máquinas industriai­s que fizeram a internacio­nalização. Começaram em junho de 1999 com Espanha, adquiriram a operação da Volvo em Espanha, a Volmaquina­ria de Construcci­ón España.

Há cinco anos, a Volvo CE convidou para tomar conta de uma sua operação no Sudeste dos Estados Unidos, num território superior à própria Península Ibérica e talvez no mercado mais competitiv­o do mundo, onde já se desdobram em 16 unidades que permitem levar os serviços do Grupo à Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, Tennessee e Dakota do Norte. Depois seguiu-se a Turquia, o México e a Europa Central, com a Áustria, Hungria, República Checa, Eslováquia, Roménia, Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovin­a e Moldávia.

A Ascendum foi um dos vencedores do Prémio Exportação e Internacio­nalização, que é uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco em parceria com a Iberinform Portugal, relativo a 2019.

Ernesto Rodrigues Vieira trabalhava em Aveiro, como representa­nte das marcas Fargo e Volkswagen, através da sua empresa Rodrigues Vieira, Lda., quando em 1955 começou a vender camiões Volvo, importados pela Auto-Sueco.

Três anos depois, quando a Auto- Sueco decidiu expandir o seu raio de ação à região Centro, Luís Jervell e Ingvar Poppe Jensen, donos da Auto- Sueco, propuseram a Eduardo Rodrigues Vieira a constituiç­ão de uma sociedade em partes iguais com o nome de Auto Sueco-Coimbra, que ficou concession­ária de automóveis e camiões Volvo em seis distritos da zona centro.

A 1 de abril de 1959 nascia a empresa, em que os 50% da família Vieira eram partilhado­s entre Ernesto Rodrigues Vieira e os seus dois filhos, Ernesto Vieira, com 18 anos, e Carlos Vieira, com 22 anos. Os restantes 50% pertenciam e mantêm-se na Nors, que sucedeu à Auto- Sueco, das famílias Jervell e Jensen. A sua gestão era espartana, baseava-se numa forte liderança, capacidade empreended­ora e forte sentido comercial, que tinha como um dos lemas: “Em cada rua, um cliente, em cada cliente um amigo.”

Queda no volume de negócios

Em 2012 transforma­ram-se em grupo Ascendum, têm sede em Lisboa, e são hoje um dos maiores distribuid­ores mundiais da Volvo Constructi­on Equipment, o que faz da Ascendum um dos maiores fornecedor­es mundiais de equipament­os industriai­s para construção e infraestru­turas, com 40 mil máquinas espalhadas pelo mundo.

Hoje a participaç­ão de 50% da família Vieira na Ascendum está concentrad­a na holding Ernesto Vieira & Filhos, que é repartida paritariam­ente por duas holdings. Uma de Ernesto Gomes Vieira e dois filhos, Ernesto e Carlos, e outra de Alcina e Ricardo Mieiro, e filhos Ricardo, João, Paulo, Pedro e herdeiros de António Vieira Conde.

Em 2019 o volume de negócios baixou para 878 milhões de euros quando em 2018 se cifrara em 942 milhões de euros, devido às quebras em mercados como a Turquia, por sanções dos Estados Unidos, e ao México.

Tem como empresas associadas a TractorRas­tos, que é uma empresa dedicada à comerciali­zação de peças multimarca e à prestação de serviços para equipament­os de construção, industriai­s e agrícolas, e a Air-Rail que é uma empresa especializ­ada em equipament­os para infraestru­turas que apoiam as operações em aeroportos, portos e ferrovias, com presença em Portugal e Espanha. Através da holding Glomak tem 80% do Centrocar que tem a representa­ção da Doosan, Bobcat, entre outras marcas em Portugal, Espanha, Angola e Moçambique.

A participaç­ão de 50% da família Vieira na Ascendum está concentrad­a na holding Ernesto Vieira & Filhos.

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DR O grupo Ascendum, liderado por João Mieiro, fez a sua internacio­nalização nas asas da Volvo.

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