Jornal de Negócios

Salários mais baixos do Estado vão subir

O Governo decidiu ir mais longe do que o anunciado e aumentos vão abranger ordenados até 693 euros. São 150 mil funcionári­os.

- MANUEL ESTEVES mesteves@negocios.pt CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt

OGoverno decidiu ir mais longe do que anunciou nos aumentos salariais para a Função Pública do próximo ano. Tal como aconteceu no orçamento para 2020, serão abrangidos não apenas os trabalhado­res que estão na base remunerató­ria (645, 07 euros), que seria sempre arrastada por causa do salário mínimo, mas também os que vão até ao nível remunerató­rio seguinte, ou seja, que ganham até 693,13 euros brutos, segundo apurou o Negócios junto de fonte governamen­tal.

O número de trabalhado­res abrangidos passa assim dos cerca de 100 mil anunciados em outubro para os cerca de 150 mil que, segundo dados oficiais, estavam no ano passado nestes níveis remunerató­rios. O número poderá ter sido ajustado devido às contrataçõ­es e saídas de funcionári­os para a reforma – mas continuará a ter pouco peso no universo de 700 mil trabalhado­res do Estado.

A ideia é ir além do que ficou definido com os sindicatos nas reuniões que precederam a viabilizaç­ão do orçamento do Estado para 2021, com o apoio do PCP, durante as quais o Executivo só garantiu aumentos para na base salarial, e apenas na medida em que subisse o salário mínimo.

No entanto, o Governo também pretende agora subir o salário mínimo além dos 23,75 euros inicialmen­te admitidos, para mais do que 648,75 euros em 2021. O valor do salário mínimo deverá ser decidido na próxima reunião de concertaçã­o social, provavelme­nte na próxima semana, o que tornará o ajustament­o dos níveis salariais seguintes da Função Pública mais premente, para atenuar a forte compressão da tabela remunerató­ria única.

Os valores concretos dos aumentos deverão ser avançados em novas reuniões de negociação com os sindicatos da Função Pública, que ainda não estão marcadas.

A promessa era de 1% para todos, mas com a crise orçamental gerada pela pandemia o Governo travou expectativ­as.

Está também por saber se o aumento reservado para o segundo nível remunerató­rio de 693,13 euros (que formalment­e é já o quinto da tabela remunerató­ria única, devido aos sucessivos aumentos do salário mínimo) estará de novo na ordem dos 10 euros euros brutos do OE 2020, então considerad­os então insuficien­tes pelos sindicatos, que têm referido que grande parte dos funcionári­os com salários mais baixos tem já décadas de carreira.

Com este alargament­o do alcance dos aumentos salariais – uma hipótese que a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, tinha já admitido, em entrevista à Lusa – passam a ser abrangidos assistente­s técnicos, além dos assistente­s operaciona­is.

Caiu a promessa de aumentos de 1% para todos

Quando decidiu os aumentos de 2020, o Governo anunciou que todos os funcionári­os públicos teriam um aumento salarial de pelo menos 1% em 2021.

A promessa foi feita porque mesmo antes da crise gerada pela pandemia, e ao contrário do que era habitual, o Governo resolveu basear a proposta de aumentos para 2020 na inflação registada em 2019 (mais baixa), em vez de se basear na inflação esperada para 2020 (que era na altura mais alta, de 1%).

“O Governo acompanhar­á se a inflação for superior e não reduzirá [o aumento] se a inflação for inferior a 1%”, disse António Costa, em janeiro, referindo-se a 2021. “A revisão anual é um princípio que veio para ficar”, garantia o primeiro-ministro.

Porém, na sequência da pandemia que compromete­u as metas orçamentai­s, o Executivo começou a baixar expectativ­as.

Assim, para os trabalhado­res do Estado que estão acima dos 683,13 euros não haverá aumentos nominais ou reais, o que acontece pela décima segunda vez em onze anos.

Convém sublinhar, no entanto, que o Governo iniciou em 2018 o processo de descongela­mento das progressõe­s, que são devidas por estarem legalmente previstas. Será cada vez maior a proporção de funcionári­os públicos que em três anos teve um salto salarial através das progressõe­s na carreira.

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João Miguel Rodrigues A proposta que o Governo apresentou aos sindicatos antes da votação final do orçamento do Estado, negociada com o PCP, ainda vai evoluir.
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