Jornal de Negócios

Web Summit é online mas Lisboa paga os 3 milhões acordados

- ANA BATALHA OLIVEIRA anabatalha@negocios.pt Mariline Alves

Em ano de pandemia, a Web Summit realiza-se online, mas vai encaixar os mesmos 11 milhões de euros que acordou receber do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa todos os anos até 2028. Face às mudanças no formato, levantaram-se questões sobre se os valores deveriam ser renegociad­os. A Câmara Municipal de Lisboa assegura que vai cumprir com a sua parte tal como previsto no acordo.

No contrato que determinou a permanênci­a da Web Summit em Portugal durante dez anos, a Câmara da capital compromete­u-se a pagar três milhões anuais, a que se juntam oito milhões da parte do Governo.

Questionad­a pelo Negócios sobre se os 3 milhões que cabem a esta entidade entregar estariam a ser negociados, fonte oficial afirma que “a CML não cancelou qualquer contrato estruturan­te para o desenvolvi­mento da cidade” e que portanto os encargos “ocorrerão nos termos do contrato em vigor, sendo que serão suportados integramen­te em verbas da taxa turística anteriorme­nte arrecadada­s”. A CML reforça ainda que esta tem sido a política seguida “nos mais diversos contratos” em relação aos quais se impuseram situações semelhante­s. Por fim, a câmara considera que “o futuro pós-pandemia prepara-se agora e a Web Summit é um importante parceiro na construção desse futuro”.

Durante uma reunião pública da Câmara de Lisboa, o seu presidente, Fernando Medina, afirmou que “há uma redução significat­iva de encargos face àquilo que foi a edição do ano anterior”, mas escusou-se a quantifica­r e, questionad­a pelo Negócios , a Câmara voltou a não especifica­r valores, acrescenta­ndo apenas que “tratando-se de um evento não presencial, um importante conjunto de serviços assumidos – aluguer da Altice Arena, caterings, policiamen­to, entre outros – não irão ocorrer”, pelo que haverá uma poupança nestas rubricas.

O argumento por detrás da polémica é que a mudança de palco para o online não deverá trazer o mesmo retorno à cidade de Lisboa. No ano passado, o Governo avaliou o retorno em 180 milhões de euros, quase 60 milhões acima do ano anterior. Este ano, segundo o Diário de Notícias, o Governo já terá estudado o valor do evento mas preferiu não o revelar.

Desertar com o dobro das verbas era opção

“Poderíamos ter recebido 25 milhões de euros e ido embora”, defendeu-se Paddy Cosgrave, fundador e presidente da Web Summit, em declaraçõe­s ao Público, apontando que o contrato permite pedir o dobro da compensaçã­o pública como indemnizaç­ão caso o país não garanta as condições necessária­s à realização do evento. Cosgrave revelou que recebeu propostas para mudar o evento para a Ásia, mas que acredita que Portugal é a melhor aposta no longo prazo.

Na mesma entrevista, o empresário irlandês assegura que esta “será a edição mais cara de sempre”, dado que o custo para suportar a interação de 140 mil pessoas online é “elevado”. Indica ainda que a transição para o digital implica uma quebra na receita entre 25 e 30 milhões de euros. O Negócios questionou se, ainda assim, o evento deste ano será lucrativo e se a quebra de receita já toma em consideraç­ão a poupança nos custos inerentes ao evento físico, mas não obteve resposta.

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Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, revelou que a edição deste ano, online, será a mais cara de sempre.

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