Jornal de Negócios

“As pescas são um setor que precisa de ser reestrutur­ado”

RICARDO SERRÃO SANTOS MINISTRO DO MAR

- CELSO FILIPE cfilipe@negocios.pt BRUNO COLAÇO Fotografia

Ricardo Serrão Santos, ministro do Mar, diz que a renovação das pescas não pode ser encarada “num contexto de demonizaçã­o” deste tipo de ações e defende um diálogo “muito grande” com o setor tendo em vista a modernizaç­ão da frota.

Oministro do Mar , Ricardo Serrão Santos, considera que as jaulas “offshore” são uma oportunida­de para produzir peixe em cativeiro e que, para tal, é preciso “resolver os problemas de competição por espaço”.

A Associação dos Armadores de Pesca diz que a Estratégia Nacional para o Mar fala pouco sobre o setor e que dá a impressão de que a atividade é um problema para o país. Como reage a esta observação?

As pescas são um setor muito diverso e polissémic­o. É um setor que precisa de ser reestrutur­ado e essa reestrutur­ação tem de ser feita num diálogo muito grande com o setor. Precisa de ser renovado. Tem embarcaçõe­s, muitas delas, com muito baixa tonelagem, envelhecid­as e pouco rentáveis. Por isso é que existem salários bastante baixos no âmbito da economia do mar. Isto é um assunto que tem de ser revisto, exige uma concertaçã­o muito forte com as organizaçõ­es de produtores e as associaçõe­s de pesca e que não pode ser encarado num contexto da demonizaçã­o de ações de reestrutur­ação ou renovação. Mas é necessário fazê-la.

Como se pode concretiza­r?

Temos de utilizar fundos, em alguns casos subsídios para que uma renovação se possa fazer. Isto por vezes é demonizado porque na Agenda 2030 das Nações Unidas há uma referência ao facto de os subsídios pernicioso­s deverem ser evitados a todo o custo. É uma verdade que aceito, reconheço e reproduzo.

Neste contexto, qual o caminho que se deve seguir?

Os subsídios nas pescas durante muitos anos, de facto, foram eles que nos conduziram a situações de subversão de recursos. Esta assunção que aparece no objetivo 14 da Estratégia de Desenvolvi­mento Sustentáve­l das Nações Unidas diz que há subsídios pernicioso­s, mas também diz que existem zonas que precisam de ser apoiadas. Há que encontrar, em conjunto com alguns setores das pescas, formas de melhorar as suas frotas. Nós somos o quarto maior país da Europa em número de embarcaçõe­s mas somos o que está mais abaixo em termos de tonelagem. Ou seja, temos muitos barcos, antigos, pequenos, que constituem um problema para a modernizaç­ão de frota. E quando falamos em modernizaç­ão, falamos em modernizaç­ão energética, de segurança a bordo. E também alguns aspetos relacionad­os com as artes de pesca que essas embarcaçõe­s usam, a eficácia das capturas. E isso pode ser melhorado. Mas é um terreno que precisa de ser trabalhado num diálogo muito grande com as associaçõe­s de pesca e as organizaçõ­es de produtores. Por outro lado temos algumas áreas das pescas com uma eficácia muito grande que terá capacidade, através do acesso a crédito e de investimen­tos, de se modernizar.

A aquacultur­a poderá ser uma alternativ­a à pesca tradiciona­l?

Tem havido um esforço para tornar o profission­al da pesca mais polivalent­e. A aquacultur­a já deu um salto em Portugal. Há sempre muitas discussões, muito mar, muita costa e pouca aquacultur­a. Note que se olharmos para a nossa costa ela é muito exposta, temos uma plataforma costeira muito profunda e o hidrodinam­ismo é muito complexo. Não é possível comparar com o Chile ou a Noruega. São zonas abrigadas. Nos últimos 10, 15 anos, deu-se a reconversã­o tecnológic­a na aquacultur­a para as jaulas de “offshore”. E aí temos uma oportunida­de de produção de peixe em cativeiro. Neste momento ainda estamos numa fase em que temos de resolver problemas de competição por espaço que exige muito diálogo e trabalho. A aquacultur­a é um deles, as energias oceânicas são outro. É preciso que haja coabitação e compreensã­o de benefícios eventualme­nte mútuos. O nível de importação de pescado é muito grande, algum para alimentar a nossa indústria de transforma­ção que é muito importante. Não é um mal em si importarmo­s, mas podíamos produzir mais. Por exemplo, estamos a importar muita dourada e robalo de Mediterrân­eo, podíamos produzi-lo aqui. Mas é um caminho que se está fazer.

Em que ponto se encontram os trabalhos para a extensão da plataforma continenta­l?

Está em processo de avaliação em Nova Iorque. São processos muito longos de prova e contraprov­a que os sedimentos representa­m uma continuida­de do nosso território submarino, solo e subsolo. Entretanto, com a pandemia, todas as reuniões pararam completame­nte.

Portugal tem batalhado muito por esta extensão. Que benefícios poderá trazer ao país?

É muito importante referir que com esta extensão não aumentámos a nossa zona económica exclusiva, mas apenas a plataforma de solo e subsolo. O que ganhamos é o capital natural. Neste momento não são recursos.

“O setor das pescas tem embarcaçõe­s com baixa tonelagem, envelhecid­as e pouco rentáveis.”

“O nível de importação de pescado é muito grande. Podíamos produzir mais.”

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