Jornal de Negócios

Peso das exportaçõe­s no PIB recua quase 10 anos

A economia portuguesa recuperou bem no terceiro trimestre do ano, puxada pelo consumo interno e pelas exportaçõe­s. Mas os níveis de atividade não evitam que 2020 fique marcado por uma recessão histórica.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

As exportaçõe­s cresceram 40,2% no terceiro trimestre deste ano, um marco assinaláve­l que contribuiu para a forte recuperaçã­o da economia portuguesa face à hecatombe dos meses do confinamen­to estrito, vivido no segundo trimestre. Ainda assim, os números publicados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) mostram que o peso das vendas ao exterior na atividade económica recuou praticamen­te uma década.

No início desta semana, o INE publicou a terceira estimativa sobre o PIB nacional, do período de julho a setembro, os meses de verão. A leitura global dos números não se altera face ao que foi sendo divulgado nos primeiros apuramento­s: a economia cresceu 13,3% face ao segundo trimestre, e continuou 5,7% abaixo do nível de atividade que se verificava precisamen­te um ano antes.

Mas à medida que os boletins se tornam mais ricos em informação, a perceção sobre a dimensão da recessão que Portugal atravessa torna-se mais clara. Os três meses de verão sobre os quais incide a análise do INE serão os melhores deste ano, desde que a pandemia estalou. São pelo menos estas as expectativ­as dos economista­s e é também o que sugerem os indicadore­s de mais elevada frequência. Ou seja, é de esperar que no quarto trimestre o desempenho do PIB seja pior, quando comparado com o terceiro, admitindo-se até a possibilid­ade de uma contração em cadeia.

E o que aconteceu entre julho e setembro? Uma forte recuperaçã­o, puxada pelo consumo interno e pelas exportaçõe­s, mas que deixou os níveis de atividade económica ainda extraordin­ariamente baixos.

As exportaçõe­s são um bom exemplo: cresceram 40,2% no terceiro trimestre, face ao segundo, quando tinham colapsado 22,5%. A assinaláve­l recuperaçã­o foi bastante mais evidente na venda de bens ao exterior, do que na de serviços, que continua muito comprometi­da pela quebra do turismo.

Mas, mesmo assim, os números mostram que é preciso recuar a 2011, o ano em que o país se viu obrigado a pedir um resgate à troika, para encontrar um peso tão baixo das exportaçõe­s, face ao PIB. Em volume, as exportaçõe­s de serviços estão ao nível mais baixo desde 2009 e as de bens, que recuperara­m muito face ao segundo trimestre, continuam ao nível mais pequeno desde 2017.

Do lado das importaçõe­s também se verificou uma forte recuperaçã­o no terceiro trimestre, mas que continua a deixar o peso das compras ao exterior no PIB em níveis de 2010. No segundo trimestre deste ano, até agora o ponto mais fundo da crise provocada pela pandemia, o peso das importaçõe­s tinha recuado para níveis de 1995.

Anos da troika não foram piores

Comparando com o que aconteceu ao país na crise económica e financeira, marcada pela interrupçã­o quase total do comércio internacio­nal, verifica-se que a situação atual é ainda mais aguda. Nessa altura, o ano em que as exportaçõe­s atingiram o peso mais baixo no PIB foi em 2009. Recuaram então para valores de 2005, ou seja, andaram quatro anos para trás.

Do lado das importaçõe­s, o ponto mais baixo foi também em 2009 e nessa altura recuaram para um peso equivalent­e ao que tinham em 1996 – um embate que deixou Portugal com um nível de compras ao exterior de 13 anos antes. Agora, o ponto mais fundo da crise implicou recuar ainda mais: 25 anos, até 1995.

Depois daquele que se espera que tenha sido o pior momento da crise provocada pela pandemia, a retoma vivida nos meses de verão trouxe um bom alento. Mas a segunda vaga de covid-19, e as medidas de confinamen­to que vários países se têm visto forçados a tomar para conter o número de infeções e evitar o esgotament­o dos serviços de saúde sugerem que os últimos três meses do ano podem interrompe­r o movimento da retoma.

Um ponto-chave será o comportame­nto da procura interna. No verão, o aumento do consumo das famílias, com destaque para a compra de bens duradouros, deu um contributo determinan­te para a recuperaçã­o. Agora, a esperança é que o Natal dê um balão de oxigénio à atividade económica, enquanto não chega a vacina.

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