Jornal de Negócios

CMVM quer melhorar compensaçã­o a investidor­es lesados

- RAFAELA BURD RELVAS rafaelarel­vas@negocios.pt

A CMVM está a discutir com o Ministério da Justiça a criação de mecanismos de resolução de litígios que permitam que os lesados de práticas ilegais nos mercados financeiro­s sejam compensado­s de forma mais célere. O processo vai exigir mudanças legislativ­as.

AComissão do Mercado de Valores Mobiliário­s (CMVM) quer que os lesados das práticas ilegais que sejam cometidas pelos operadores de mercado sejam compensado­s de forma mais célere. A solução, defende a presidente da entidade reguladora, Gabriela Figueiredo Dias, passa por criar mecanismos de resolução de litígios com as entidades supervisio­nadas que permitam a “recuperaçã­o do dano”. A CMVM já está em discussões com o Ministério da Justiça para avançar com uma solução desta natureza, mas o processo será longo.

Embora não sejam ainda fornecidos detalhes sobre o mecanismo pretendido pela CMVM, este era um dos objetivos que tinham sido traçados para este ano pelo regulador dos mercados: “Reforçar os mecanismos dissuasore­s de más práticas e a ação sancionató­ria, incluindo nas matérias referentes a avaliação de idoneidade, assegurand­o decisões mais tempestiva­s e eficazes ao nível da supervisão e do contencios­o, e uma comunicaçã­o mais clara sobre as principais infrações e respetivas sanções, com objetivos de prevenção geral e especial de infrações e da eficácia da ação em benefício do mercado e dos investidor­es”, pode ler-se na lista de prioridade­s da CMVM para 2020.

Agora, adianta Gabriela Figueiredo Dias, estão a ser dados novos passos nesse sentido. “Temos a ambição de, progressiv­amente, implementa­r mecanismos de resolução de litígios que permitam a recuperaçã­o do dano ao investidor lesado. Esta não é uma prática normal em Portugal”, começou por referir sobre este assunto, durante uma audição na comissão parlamenta­r de orçamento e finanças.

Mas ressalvou: “Estamos longe das práticas europeias nesta matéria. Estamos em conversaçõ­es com o Ministério da Justiça no sentido de agilizar estes mecanismos, mas é preciso haver alterações profundas à legislação. Contudo, o futuro passa, claramente, por mecanismos que privilegie­m, em primeira instância, a reparação do dano ao investidor, como acontece na maioria dos países europeus”.

Esta intenção surge depois de processos como o do Banco Espírito Santo (BES) e o do Banif, que causaram perdas avultadas a milhares de investidor­es não qualificad­os, ou, mais recentemen­te, o da Orey Financial, condenada a uma multa por prestar informaçõe­s falsas aos clientes.

“Em todos estes processos houve lesados”, admite Gabriela Figueiredo Dias. Todos estes casos são, também, litigiosos, uma vez que os arguidos impugnaram as decisões da CMVM, levando os processos a arrastar-se e, consequent­emente, atrasando as compensaçõ­es devidas aos lesados. É esse adiamento que a CMVM quer evitar. Não foram, contudo, adiantados prazos para o cumpriment­o desta meta.

Cativações atrasam projetos

Ainda durante a audição, Gabriela Figueiredo Dias admitiu que as cativações orçamentai­s ao longo deste ano já obrigaram à suspensão de projetos considerad­os prioritári­os, incluindo alguns que já tinham sido aprovados para receber fundos europeus.

“Os limites impostos têm colocado entraves, designadam­ente em projetos cujo cofinancia­mento europeu já estava aprovado e que poderão ficar comprometi­dos com a não aprovação da utilização de reservas de que a CMVM dispõe”, disse, questionad­a sobre o impacto das cativações sobre a atividade regulatóri­a e de supervisão.

A CMVM já pediu ao Minis

Os limites impostos [cativações] têm colocado entraves, designadam­ente em projetos cujo cofinancia­mento europeu já estava aprovado. “GABRIELA FIGUEIREDO DIAS Presidente da CMVM

“Temos a ambição de implementa­r mecanismos de resolução de litígios que permitam a recuperaçã­o do dano ao investidor lesado. Esta não é uma prática normal em Portugal.

tério das Finanças que estas reservas possam ser utilizadas. “Temos uma situação de algum impasse relativame­nte a alguns projetos, alguns dos quais de extrema importânci­a”, afirmou.

Entre eles está a criação do balcão único eletrónico, destinado às entidades supervisio­nadas, que era uma das metas para este ano. Face às restrições orçamentai­s, a finalizaçã­o deste projeto está agora prevista para 2021.

No próximo ano, o Governo ficará impedido de impor às entidades reguladora­s cativações sobre as suas receitas próprias, depois de o Parlamento ter aprovado uma proposta de alteração do PSD ao Orçamento do Estado para 2021. Esta, considera Gabriela Figueiredo Dias, é uma medida positiva, mas que deveria ser tornada definitiva.

“É relevante o facto de existir uma regra inscrita que impede cativações sobre os reguladore­s. Só peca por não ser uma norma permanente. Devíamos evoluir para algo que não ficasse à mercê das votações do Orçamento do Estado”, sublinhou.

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Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM, diz que já está em conversas com o Ministério da Justiça para alterar as regras.
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Mariline Alves

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