Jornal de Negócios

Esquerda evita pôr Governo à prova na lei laboral

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt

Se a concertaçã­o social tem travado as propostas laborais para o privado, o Parlamento tem garantido que avancem devagarinh­o. PCP e Bloco têm sido activos na defesa de uma série de medidas, mas não estão a levar a votos as que o PS teria mesmo de aprovar. Bloco e PCP garantem que vão insistir no combate à precarieda­de, também no sector privado.

Quando em Dezembro Vieira da Silva anunciou que iria travar o regresso dos 25 dias de férias, usou um argumento simples para o justificar: “não está no Programa do Governo”. O ministro não poderia dizer o mesmo se a proposta consistiss­e na “forte limitação” do uso dos contratos a prazo, na eliminação da norma que permite contratar a prazo para postos permanente­s jovens e desemprega­dos, no agravament­o das contribuiç­ões para os empregador­es que mais promovem a rotativida­de ou na eliminação do banco de horas individual. Em causa estão medidas que por constarem do Programa do Governo o PS teria dificuldad­e em chumbar. E que nalguns casos até já estão em projectos submetidos há meses pela esquerda ao Parlamento. Só que estas propostas não têm sido levadas a votação. Questionad­os sobre o assunto, PCP e Bloco de Esquerda rejeitam que haja um acordo para protelar as medidas, garantem que o debate está a ser feito, sustentam que a abordagem das questões tem de ser “estruturad­a” e prometem insistir nas propostas de combate à precarieda­de no sector privado, sem avançarem detalhares. “O trabalho do PCP não se esgota no agendament­o de iniciativa­s e aprovação das medidas. Mais do que medidas à peça são necessária­s políticas estruturad­as de valorizaçã­o do trabalho” em matérias como salários, horários e precarieda­de, começa por referir a deputada comunista Rita Rato, que confirma que, para já, as medidas referidas não estão agendadas. “Não estamos num campeonato para dizer que conseguimo­s isto” ou aquilo. “Temos a nossa agenda”, que “não se condiciona com a do Governo”. A deputada diz que o PCP quer mesmo avançar com uma proposta sobre precarieda­de laboral no privado ainda nesta sessão legislativ­a, sem esclarecer qual. Há um ano, o PCP submeteu um projecto que limita a duração e as justificaç­ões para o uso de contratos a prazo. José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, confirma que não se prevêem votações em breve, mas recusa que estas propostas estejam aser evitadas. “Não temos evitado agendar. Estamos a fazer um debate com o Governo em termos mais gerais, sobre um conjunto de matérias” relacionad­as com a contrataçã­o colectiva, o tempo de trabalho ou o combate à precarieda­de. “A nossa expectativ­a é que a matéria do combate à precarieda­de no privado possa avançar nos próximos meses”, diz também o deputado, sem esclarecer se isso acontecerá ainda antes do Verão. Não haverá já um acordo mínimo sobre pelo menos algumas das propostas que constam do Programa do Governo? “Todos [os partidos] concordam mas não existe uma solução fechada”, responde Tiago Barbosa Ribeiro, valorizand­o outras iniciativa­s, como a que combate o assédio ou todo o trabalho a nível da Função Pública. O deputado do PS que coordena estas matérias lembra que o Governo ficou de apresentar no primeiro trimestre o Livro Verde das Relações Laborais, que servirá de base à discussão com os parceiros sociais. “A concertaçã­o social não tem superiorid­ade legislativ­a face ao Parlamento, mas deve ser valorizada. Qual- Printed

Mais do que medidas à peça, são necessária­s políticas estruturad­as. RITA RATO Deputada do PCP Não temos evitado agendar propostas. Estamos a fazer um debate com o Governo em termos mais gerais. JOSÉ SOEIRO Deputado do Bloco de Esquerda Todos os partidos concordam [com medidas do Programa do Governo], mas não existe uma solução fechada. TIAGO BARBOSA RIBEIRO Deputado do PS

quer alteração que passe pela concertaçã­o social tem mais força institucio­nal” e capacidade para resistir a “mudanças de ciclos políticos”. O PS não prevê alterações pelo menos “até ao Verão”. Durante a negociação do acordo que envolveu o salário mínimo – que subiu 5% pelo segundo ano consecutiv­o, como pretendia a esquerda – os patrões pediram ao Governo que trave alterações. Na semana passada, também marcada pelas pressões de Bruxelas para medidas que facilitem despedimen­tos, o primeiro-ministro afirmou que a lei laboral é para “estabiliza­r”.

 ?? Pedro Elias ?? “Andamos há anos a rever a legislação do trabalho. É talvez boa altura para estabilizá-la”, referiu António Costa, numa conferênci­a da CIP.
Pedro Elias “Andamos há anos a rever a legislação do trabalho. É talvez boa altura para estabilizá-la”, referiu António Costa, numa conferênci­a da CIP.

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