Jornal de Negócios

Rendas antigas caem para metade

Segundo números das Finanças há agora cerca de 116 mil contratos de arrendamen­to habitacion­ais anteriores a 1990. Foi a lei da vida, dizem os inquilinos. São muitos mais, contrapõem os proprietár­ios, que ainda esperam pela prometida dinamizaçã­o do mercado

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt

Existem actualment­e 115.828 contratos de arrendamen­to antigos, celebrados antes da entrada em vigor do regime do arrendamen­to urbano, em 1990, e com as chamadas rendas congeladas e que têm vindo a ser alvo de actualizaç­ões, ainda que controlada­s, no âmbito da nova lei das rendas. Pelas contas do Governo, as rendas antigas são agora cerca de 15% do total de 762.217 contratos de arrendamen­to habitacion­al permanente existentes no país. Estes números foram fornecidos ao Parlamento pela Autoridade Tributária e reflectem a informação retirada dos recibos electrónic­os de renda e das declaraçõe­s anuais (estas últimas preenchida­s pelos senhorios idosos ou que recebem rendas muito baixas e, por isso, não estão obrigados a emitir recibos electrónic­os). Comparando com os dados recolhidos pelo INE por altura do Cen- sos 2011, em que se contavam em todo o país 255 mil contratos anteriores a 1990, verifica-se que, em números redondos, estes caíram para menos de metade. Mesmo consideran­do as reservas que é preciso ter, dado que estamos a comparar dados de proveniênc­ia distinta – no Censos a informação é prestada pelos inquilinos das casas e às Finanças são os senhorios quem declara –, este é um recuou significat­ivo, mas em linha com o que se verificara já em 2011 face ao censos de 2001. Na altura, em dez anos eram menos 40% as famílias com contratos antigos, passando de cerca de 430 mil para 255 mil. “É a tendência natural”, diz Romão Lavadinho, presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense­s (AIL). “Alguma coisa será da Lei das Rendas, mas a parte mais significat­iva foram idosos que morreram. Outros terão negociado saídas e recebido indemnizaç­ões, outros ainda foram obrigados a sair porque os seus prédios foram para obras de remodelaçã­o total ou demolição”. Já Luís Menezes Leitão, presidente da Associação Lisbonense de Proprietár­ios, está convencido que os contratos antigos são ainda muito mais do que os contabiliz­ados pelo Fisco. “Não acredito que o número de contratos antigos tenha caído mais de 50% em tão pouco tempo. Não a esta velocidade”. Outro número que não é consensual é o de inquilinos com dificuldad­es financeira­s e que, por isso, vão agora ver prorrogado o período transitóri­o de actualizaç­ão dos seus contratos, na sequência das alterações à Lei das Rendas aprovadas já este mês na Assembleia da República. José Mendes, secretário de Estado adjunto e do Ambiente, que tem a pasta da habitação, afirmou recentemen­te no Parlamento que são 7.181 os inquilinos com contratos antigos, mais de 65 anos ou deficiênci­a supe-

rior a 60% e com dificuldad­es financeira­s – uma informação que as Finanças também têm porque estes inquilinos tiveram de solicitar ao Fisco uma declaração de rendimento anual bruto corrigido (RABC) para garantir que as suas rendas antigas não subiriam alem dos limites legais. Tanto Romão Lavadinho como Menezes Leitão afirmam que, na prática, serão bastantes mais. Como admite o presidente da AIL, há, por exemplo, pessoas que optaram por fazer acordo com os senhorios e tiveram as rendas aumentadas, mas sem ter de pedir às Finanças o RABC. Dentro dos 115.828 contratos antigos que os números oficiais dizem existir, fica por se saber quantos efectivame­nte vão beneficiar das novas prorrogaçõ­es do período transitóri­o que, além de inquilinos idosos abrangerão também os mais jovens, mas com carências financeira­s. Um número indicativo é o número de pedidos de RABC que, segundo dados de 2014, no pico das actualizaç­ões, era de 44 mil. “Não faz sentido que, destes, só sete mil sejam idosos”, remata Meneses Leitão.

 ?? Miguel Baltazar ?? Pelas contas do Governo, as rendas antigas são agora cerca de 15% do total de 762.217 contratos de arrendamen­to habitacion­al permanente existentes no país.
Miguel Baltazar Pelas contas do Governo, as rendas antigas são agora cerca de 15% do total de 762.217 contratos de arrendamen­to habitacion­al permanente existentes no país.

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