Venda da TVI agita mercado de media
Negócio que falhou há oito anos à beira de se concretizar.
Será desta que a PT conseguirá comprar a Media Capital? A Prisa precisa de vender. A Altice, agora dona da PT, quer comprar. As partes estão em negociações, mas há ainda que chegar ao valor final. França negoceia directamente com Espanha. Mas Portugal tem uma palavra a dizer.
Onegócio de compra da Media Capital por parte da Altice ainda não tem proposta firme, nem o preço final estará totalmente fechado. Mas a acontecer a conclusão será rápida. A Prisa quer cerca de 450 mi- lhões de euros pela Media Capital, que tem actualmente uma capitalização bolsista 262,8 milhões de euros. Há oito anos, a PT tentou comprar 30% da Media Capital por cerca de 150 milhões, ou seja, uma avaliação de 500 milhões por uma posição minoritária, o que significava avaliar a empresa a um múltiplo de 10 vezes o EBITDA de então (em 2009 foi de 50,1 milhões de euros). O EBITDA de 2016 da Media Capital foi de 41,5 milhões de euros, pelo que pagar 450 milhões representaria um múltiplo de 10,8 vezes que a Altice não estará disposta a pa- gar. Mesmo os analistas consideram o valor elevado. Os tempos agora também são outros. A Prisa precisa de vender, depois de ter falhado a alienação da editora Santillana, e a Altice quer comprar. Um encontro de vontades que franceses e espanhóis estão a negociar. “Interlocuções exploratórias” foi como a Altice descreveu as conversas com a Prisa. Falta o preço. Na Europa, e desde 2016, de acordo com dados disponíveis na Bloomberg, as transacções de media têm sido feitas a múltiplos de 6,6 vezes, o que daria um valor para o negócio de cerca de 300 milhões de euros, o que também será baixo para as pretensões da Prisa. A Altice, que já tem uma “holding” para os media, a Altice Media, e emprega um total de 1.500 jornalistas. Em França, é detentora do Libération e L’Express, além de televisões (BFM e i24, por exemplo), e tem comprado vários direitos televisivos ligados ao futebol. O grupo francês tem também uma produtora – Altice Studios – que já lançou a sua primeira produção (Riviera). A Media Capital tem também a Plural, para a produção televisiva. Além disso, tem rádios – como a Comercial –e a TVI, que tem o canal aberto e os canais temáticos na rede de cabo. A TVI é o maior activo da Media Capital que, no entanto, não pode ser fechado à concorrência. Tem de estar disponível em todas as plataformas, já que é um canal de sinal aberto. E é por isso que a ERC terá de ser ouvida no negócio da Media Capital.
Caso analisado em Portugal
A ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social tem sempre uma palavra a dizer neste negócio. Mesmo que o mesmo não vá pa-
A PT confirma a existência de contactos com o grupo Prisa. Tais contactos abordaram diversos cenários de investimento. COMUNICADO DA PT 23 de Junho de 2009 A Altice confirma que iniciou interlocuções exploratórias com a Prisa relativas a potencial aquisição da participação da Prisa na Media Capital. COMUNICADO DA ALTICE 25 de Junho de 2017
rar à Autoridade da Concorrência portuguesa – a operação terá dimensão comunitária e como tal será analisada pela Comissão Europeia –, Portugal pode chamar a si o processo. É que no regulamento das concentrações comunitárias prevê-se que mesmo que seja de dimensão europeia os Estados-membro “podem tomar as medidas apropriadas para garantir a protecção de interesses legítimos para além dos contemplados no presente regulamento”, estando nesses interesses a pluralidade dos meios de comunicação social que, foi aliás, o argumento paraaERC chumbar a entrada da Ongoing, em 2009, na TVI , porque nas operações nacionais o seu parecer é vinculativo para a Concorrência. Mas mesmo que não sejachamadaneste ponto, aERC tem sempre de se pronunciar ao abrigo da Lei da Televisão, por se tratar “da alteração do domínio de operadores que prosseguem a actividade de televisão mediante licença”. Se o negócio acelerar, aoperação apanharáaERC comuma administraçãoàes pera de ser substituída, e sem que os partidos na Assembleia da República consigam chegara acordo para a sua nomeação.