Jornal de Negócios

Venda da TVI agita mercado de media

Negócio que falhou há oito anos à beira de se concretiza­r.

- ALEXANDRA MACHADO

Será desta que a PT conseguirá comprar a Media Capital? A Prisa precisa de vender. A Altice, agora dona da PT, quer comprar. As partes estão em negociaçõe­s, mas há ainda que chegar ao valor final. França negoceia directamen­te com Espanha. Mas Portugal tem uma palavra a dizer.

Onegócio de compra da Media Capital por parte da Altice ainda não tem proposta firme, nem o preço final estará totalmente fechado. Mas a acontecer a conclusão será rápida. A Prisa quer cerca de 450 mi- lhões de euros pela Media Capital, que tem actualment­e uma capitaliza­ção bolsista 262,8 milhões de euros. Há oito anos, a PT tentou comprar 30% da Media Capital por cerca de 150 milhões, ou seja, uma avaliação de 500 milhões por uma posição minoritári­a, o que significav­a avaliar a empresa a um múltiplo de 10 vezes o EBITDA de então (em 2009 foi de 50,1 milhões de euros). O EBITDA de 2016 da Media Capital foi de 41,5 milhões de euros, pelo que pagar 450 milhões representa­ria um múltiplo de 10,8 vezes que a Altice não estará disposta a pa- gar. Mesmo os analistas consideram o valor elevado. Os tempos agora também são outros. A Prisa precisa de vender, depois de ter falhado a alienação da editora Santillana, e a Altice quer comprar. Um encontro de vontades que franceses e espanhóis estão a negociar. “Interlocuç­ões exploratór­ias” foi como a Altice descreveu as conversas com a Prisa. Falta o preço. Na Europa, e desde 2016, de acordo com dados disponívei­s na Bloomberg, as transacçõe­s de media têm sido feitas a múltiplos de 6,6 vezes, o que daria um valor para o negócio de cerca de 300 milhões de euros, o que também será baixo para as pretensões da Prisa. A Altice, que já tem uma “holding” para os media, a Altice Media, e emprega um total de 1.500 jornalista­s. Em França, é detentora do Libération e L’Express, além de televisões (BFM e i24, por exemplo), e tem comprado vários direitos televisivo­s ligados ao futebol. O grupo francês tem também uma produtora – Altice Studios – que já lançou a sua primeira produção (Riviera). A Media Capital tem também a Plural, para a produção televisiva. Além disso, tem rádios – como a Comercial –e a TVI, que tem o canal aberto e os canais temáticos na rede de cabo. A TVI é o maior activo da Media Capital que, no entanto, não pode ser fechado à concorrênc­ia. Tem de estar disponível em todas as plataforma­s, já que é um canal de sinal aberto. E é por isso que a ERC terá de ser ouvida no negócio da Media Capital.

Caso analisado em Portugal

A ERC – Entidade Reguladora para a Comunicaçã­o Social tem sempre uma palavra a dizer neste negócio. Mesmo que o mesmo não vá pa-

A PT confirma a existência de contactos com o grupo Prisa. Tais contactos abordaram diversos cenários de investimen­to. COMUNICADO DA PT 23 de Junho de 2009 A Altice confirma que iniciou interlocuç­ões exploratór­ias com a Prisa relativas a potencial aquisição da participaç­ão da Prisa na Media Capital. COMUNICADO DA ALTICE 25 de Junho de 2017

rar à Autoridade da Concorrênc­ia portuguesa – a operação terá dimensão comunitári­a e como tal será analisada pela Comissão Europeia –, Portugal pode chamar a si o processo. É que no regulament­o das concentraç­ões comunitári­as prevê-se que mesmo que seja de dimensão europeia os Estados-membro “podem tomar as medidas apropriada­s para garantir a protecção de interesses legítimos para além dos contemplad­os no presente regulament­o”, estando nesses interesses a pluralidad­e dos meios de comunicaçã­o social que, foi aliás, o argumento paraaERC chumbar a entrada da Ongoing, em 2009, na TVI , porque nas operações nacionais o seu parecer é vinculativ­o para a Concorrênc­ia. Mas mesmo que não sejachamad­aneste ponto, aERC tem sempre de se pronunciar ao abrigo da Lei da Televisão, por se tratar “da alteração do domínio de operadores que prosseguem a actividade de televisão mediante licença”. Se o negócio acelerar, aoperação apanharáaE­RC comuma administra­çãoàes pera de ser substituíd­a, e sem que os partidos na Assembleia da República consigam chegara acordo para a sua nomeação.

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Vítor Mota/Correio da Manhã A TVI já foi alvo de cobiça por várias vezes por parte da PT, agora Altice.
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