Prémio de mandato nos CTT escapa a corte
Bónus será pago após 2019 e depende da evolução das acções e do dividendo.
Os cortes de 25% ou 15% irão vigorar durante todo o ano de 2018 e incidirão sobre as remunerações que vinham sendo auferidas em 2017. Os administradores abdicaram da remuneração variável o que não implica abdicarem do prémio de mandato. FONTE OFICIAL DOS CTT Em respostas escritas ao Negócios
Os administradores executivos dos CTT renunciaram às remunerações variáveis pelos exercícios de 2017 e 2018, mas não abdicaram do prémio pelo conjunto do mandato que se iniciou em 2017 e que termina em 2019, apurou o Negócios. Assim, se não vão receber pelos exercícios de 2017 e 2018 as remunerações variáveis anuais, o mesmo não se estende ao prémio de mandato que só será pago em 2020 e 2021. Fonte oficial dos CTT explica isso mesmo ao Negócios: “Os administradores abdicaram da remuneração variável o que não implica abdicarem do prémio de mandato.” De acordo com o plano de reestruturação dos Correios, os administradores executivos abdicaram, por dois anos, da remuneração variável anual. Além disso, o presidente dacomissão executiva – Francisco Lacerda– e o do conselho de administração – António Gomes da Mota – aceitaram um corte de 25% na componente fixa. Os restantes executivos vão ver o salário fixo reduzir-se em 15%. De acordo com fonte oficial da empresa, “os cortes de 25% ou 15% irão vigorar durante todo o ano de 2018 e incidirão sobre as remunerações que vinham sendo auferidas em 2017”. De acordo com o relatório do governo da sociedade que vai ser discutido na assembleia-geral marcada para 18 de Abril, Francisco Lacerda teve um salário fixo em 2017 de 620 mil euros, o que significa que o corte incide sobre este valor. O valor que receberá este ano será de 465 mil euros, menos 155 mil euros. Mas em 2017 a remuneração fixa teve um aumento face ao ano anterior, já que o valor que consta no relatório e contas de 2016 para esta componente fixa foi de 513,7 mil euros. Em 2017, Lacerda ainda recebeu de variável anual, por 2016, 411,6 mil euros.
Prémio em dinheiro
O mandato iniciou-se em 2017, tendo sido definida a política de remuneração variável a longo prazo para o triénio. E foi alterada face ao mandato anterior, o primeiro completo pós-privatização. Se antes, o prémio era pago em acções, agora será em dinheiro. E é uma remuneração que, além de ter em conta o desempenho anual – com uma avaliação em função da rentabilidade da empresa –, é também baseada na remuneração accionista. O método que a comissão de vencimentos – presididapor João Talone e que tem como vogais Rui Alpalhão e Manuel Alves Monteiro – escolheu para atribuir a remuneração de longo prazo foi o do “total sha- reholder return” (TSR), ou seja, o rendimento do accionista, decomposto em dividendos e valorização bolsista. Ora, os CTT propuseram para atribuição de dividendos este ano – relativamente ao exercício de 2017 – um pagamento por acção de 38 cêntimos, um “payout” (percentagem de lucros distribuída) de 208%. O TSRresulta da soma do ganho de capital e do ganho com dividendos. Se os dividendos beneficiam a remuneração dos administradores, a cotação dos CTT tem penalizado. As acções desvalorizam mais de 50% desde Janeiro de 2017. O prémio do mandato está, conforme se lê no relatório, “dependente do desempenho do TSR das acções CTT por comparação com o TSR médio ponderado de um ‘peer group’ [grupo de pares], bem como dos resultados daavaliação qualitativa anual durante todo o mandato (até 31 de Dezembro de 2019), bemcomo do investimento e retenção de parte da remuneração variável anual em acções CTT, sendo paga em numerário em duas tranches diferidas (uma em 2020 e outra em 2021)”. Os pares incluem oito empresas do sector (Bpost, Deutsche Post, DHL, La Poste, Poste Italiane, Post Nord, Royal Mail e TNT) e 12 nacionais (BPI, Brisa, EDP, EDPR, Galp, JM, BCP, Nos, Navigator, REN, Semapa e Sonae). Fonte oficial da empresa acrescenta que “as boas práticas de ‘governance’ apontam para a criação de uma ligação entre as remunerações variáveis dos executivos e a criação de valor sustentável, pelo que esta métrica e sobretudo quando aplicada num período mais longo como é o do mandato (três anos) está claramente alinhada com aquele objectivo, não surpreendendo, por isso, que figure nos modelos de determinação da remuneração variável dos executivos de muitas empresas portuguesas e de outros mercados”. Os CTT já registaram um gasto com pessoal em 2017 de 40 mil euros para este prémio do mandato.