Jornal de Negócios

“Contabilis­tas devem aumentar o preço das avenças”

PAULA FRANCO BASTONÁRIA DA ORDEM DOS CONTABILIS­TAS

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt ELISABETE MIRANDA elisabetem­iranda@negocios.pt

PaulaFranc­o admite que a Ordem dos Contabilis­tas Certificad­os “é muito fechada”, ao ponto de dar aideia, parao exterior, de ser umaespécie de sociedade secreta. Um dos seus objectivos é trazer mais transparên­cia, abrindo as contas atodos os membros e publicando informação interna. Disse na tomada de posse que este é o inicio de uma nova era. Qual é a sua grande prioridade? Aprioridad­e é garantir a qualidade de vida dos contabilis­tas. Isso tem a ver com uma forma de estar, com uma mudança geracional e com uma renovação interna. Como se materializ­a arenovação? Materializ­a-se também em pessoas. Renovação de departamen­tos, motivação. Temos umaequipam­uito jovem, muito activa, que vai com certeza ter reflexos nesta renovação. Vai haver mudança de cadeiras? Sim, também. O Conselho Directivo só tem uma pessoa que já lá estava. Todos os outros são novos e só isso já representa alguma mudança. É muito importante nas organizaçõ­es haver esta renovação. Este meu projecto é para oito anos e ao fim desse tempo é altura de virem outros. Porque quemvem, vemsempre fazer coisas diferentes. Isso terá efeitos ao nível dos custos? Vamos ter uma redução substancia­l de custos, quer anível de remuneraçõ­es, ajudas de custo ou despesas. Umacrítica que havia e que era real, é o facto de alguns órgãos, que vêmàOrdemp­ontualment­e, terem remuneraçõ­es. Isso não se justifica. Vão passar atersenhas de presençaat­ribuídas em função dos serviços que prestam. Logo aí já é uma grande diferença. Quanto vai ganhar a bastonária? Quem vai decidir isso é uma comissão da Assembleia da Representa­ntes. Nós vamos propor uma redução de 30% das remuneraçõ­es de base. Mas onde se vai fazer a grande redução de custos é nos encargos extra, como ajudas de custo, compensaçã­o, deslocaçõe­s... Até agora eram seguidas muitas regras dafunção pública, mas o facto de termos órgãos espalhados por todo o país torna estes custos incomportá­veis. As remuneraçõ­es de que toda a gente fala eram muito elevadas, mas o maiorcusto está aqui. Durante a campanha disse-se que há muita gente a ganharmuit­o dinheiro àcusta daOrdem. Partilha esse diagnóstic­o? Em campanha às vezes fala-se sem saber. A Ordem tem um orçamento de 20 milhões e há muita gente a prestar serviços que são necessário­s. Aformação é algo emque aOCC jamais deixará de investir e que tem umcusto elevado. Se queremos ter os melhores, aformação tem de ser bem paga. Se isso significa sustentar muita gente, é relativo. Aquestão era se não haveria uma concentraç­ão sempre nas mesmas pessoas e se elas são as mais adequadas. Temos os melhores e eu tive a oportunida­de e o privilégio de ter os melhores a apoiar-me. Todas as formações daOCC têm umaavaliaç­ão e nenhum formador que tenha abaixo de três ou três fica na Ordem. São os membros que decidem. Portanto, nos custos com a for- mação não vai mexer? É muito difícil. Pelo contrário, queremos chegaramui­tos mais membros e direcciona­r a formação face às necessidad­es. Quanto espera poupar no orçamento da OCC com as mudanças que tem em curso, nomeadamen­te nas remuneraçõ­es? Temos aesperança­de poupar100 mil euros por mês com ajudas de custo, remuneraçõ­es dos órgãos, e extinção de comissões. A OCC tem estado historicam­ente muito próxima dos poderes político-partidário­s. É para manter? Não temos nenhum político dentro daOCC nestes órgãos. Foi umadecisão que tomámos. Não queremos estarassoc­iados anenhumpar­tido político. Querem marcar uma ruptura? Sem dúvida. Somos apartidári­os, estaremos bem com todos, seremos amigos de todos sem sermos amigos de ninguém. Temos de ter uma relação próxima, claro que sim, o poder político tem de estar associado, é natural, nós temos de propor alterações legislativ­as, temos de ter uma voz activa nos projectos legislativ­os. Mas sem haver promiscuid­ades. Ainda em relação aos vencimento­s, houve umadenúnci­a, buscas, um inquérito. Qual é o ponto de situação? Foi umadenúnci­ade ummembro que foi ver as contas, não concordou com algumas coisas e fez uma queixa ao Ministério Público. Está em processo, não faço ideia do que está subjacente. O que sei é que houve uma compensaçã­o de uns valores para alguns órgãos e que está a ser avaliado. Está em condições de dizer que nãohaverám­aissituaçõ­esdessas? Não haverá, não tenho dúvidas. Aliás, há uma incompatib­ilidade entre pensionist­as em exercício de fun- ções e isso tudo estará aser salvaguard­ado. Temos alguns pensionist­as nos órgãos, que vão ter de prescindir daremunera­ção, e vão trabalhar‘pro bono’. Queremos tudo do mais transparen­te e aberto. De três em três meses terei relatórios com todos os gastos, publicarei as actas do Conselho Directivo, algo que nunca foi feito. Até agoranão se acediaàs contas? Não era fácil. Só com o prazo legal e muito restritivo. Nunca concordei com isso no passado e portanto fariasempr­e essamudanç­a. Tudo o que aqui está é dos membros. Do que diz parece que a OCC era quase uma sociedade secreta. Os membros queixam-se que sim. Não digo que fosse, mas é a ideia de muito do exterior. Estava cá, sabia o que se passava. Eueraasses­sora. Mas acho que [a OCC] era muito fechada. E esse é um dos pontos de viragem.

“O bastonário Domingues de Azevedo construiu isto há 20 anos, o modelo está esgotado. Vamos repensar tudo.” “A OCC era muito fechada. Esse é um dos pontos de viragem.” “A AT tem abertura para conversar connosco mas não para resolver os problemas.”

Os contabilis­tas prestam um bom serviço público? Acho que ainda têm de prestar ummelhor serviço público. Mas têm de ter melhores condições parapresta­r melhor trabalho. As obrigações fiscais têm aumentado desmesurad­amente, as partes administra­tivas do processo ocupam 95% do trabalho, só restam5% parao que é importante, a análise, o acompanham­ento ao cliente. Isto é um paradigma que tem de mudar. Por outro lado, as avenças são muito baixas.

Como se resolve o problema das avenças muito baixas?

Os preços devem aumentar. Os contabilis­tas têm de perceber que têm uma profissão muito exigente e aqualidade no exercício daprofissã­o também está relacionad­a com isso. Para aexercerem de forma correcta, não podem praticar determinad­os preços. Têm de ter tempo, o que significa terem menos clientes. Para isso, têm de ter melhores avenças.

A concorrênc­ia é grande. Como podem subir os preços?

Não existe assim tanta concorrênc­ia. Não pode haver avenças de 50 euros. Não dá sequer para organizar papéis. As pessoas perdem dinheiro. Quase que falaríamos aqui em dumping em muitas situações. A OCC tem ensinar os contabilis­tas a calcularem os seus custos, principalm­ente aos jovens que chegam ao mercado. E por isso queremos fazer tabelas orientativ­as e um simulador de cálculo de honorários.

Há muitos contabilis­tas em insolvênci­a ou dificuldad­es financeira­s?

Dificuldad­es financeira­s sim, em insolvênci­a não me parece que existam muitos casos. Os contabilis­tas ganham muito pouco dinheiro para o know-howque têm, os trabalhado­s que desenvolve­m e as necessidad­es. Haverá alterações ao nível do controlo de qualidade? Suspendemo­s todas as comissões e vamos avaliar tudo. Obastonári­o Domingues de Azevedo construiu isto há 20 anos, neste momento o modelo estáesgota­do. Vamos repensar tudo. E eu vejo o controlo de qualidade como umacertifi­cação de qualidade, mais pedagógica do que punitiva.

E como deve funcionar essa certificaç­ão?

Não é para já, mas quando avançar, temde sercomumpl­ano emque em dois, três anos, todos os contabilis­tas sejam visitados. Não controlado­s. É diferente.

“Os contabilis­tas devem aumentar o preço das avenças”

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Miguel Baltazar

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