“Contabilistas devem aumentar o preço das avenças”
PAULA FRANCO BASTONÁRIA DA ORDEM DOS CONTABILISTAS
PaulaFranco admite que a Ordem dos Contabilistas Certificados “é muito fechada”, ao ponto de dar aideia, parao exterior, de ser umaespécie de sociedade secreta. Um dos seus objectivos é trazer mais transparência, abrindo as contas atodos os membros e publicando informação interna. Disse na tomada de posse que este é o inicio de uma nova era. Qual é a sua grande prioridade? Aprioridade é garantir a qualidade de vida dos contabilistas. Isso tem a ver com uma forma de estar, com uma mudança geracional e com uma renovação interna. Como se materializa arenovação? Materializa-se também em pessoas. Renovação de departamentos, motivação. Temos umaequipamuito jovem, muito activa, que vai com certeza ter reflexos nesta renovação. Vai haver mudança de cadeiras? Sim, também. O Conselho Directivo só tem uma pessoa que já lá estava. Todos os outros são novos e só isso já representa alguma mudança. É muito importante nas organizações haver esta renovação. Este meu projecto é para oito anos e ao fim desse tempo é altura de virem outros. Porque quemvem, vemsempre fazer coisas diferentes. Isso terá efeitos ao nível dos custos? Vamos ter uma redução substancial de custos, quer anível de remunerações, ajudas de custo ou despesas. Umacrítica que havia e que era real, é o facto de alguns órgãos, que vêmàOrdempontualmente, terem remunerações. Isso não se justifica. Vão passar atersenhas de presençaatribuídas em função dos serviços que prestam. Logo aí já é uma grande diferença. Quanto vai ganhar a bastonária? Quem vai decidir isso é uma comissão da Assembleia da Representantes. Nós vamos propor uma redução de 30% das remunerações de base. Mas onde se vai fazer a grande redução de custos é nos encargos extra, como ajudas de custo, compensação, deslocações... Até agora eram seguidas muitas regras dafunção pública, mas o facto de termos órgãos espalhados por todo o país torna estes custos incomportáveis. As remunerações de que toda a gente fala eram muito elevadas, mas o maiorcusto está aqui. Durante a campanha disse-se que há muita gente a ganharmuito dinheiro àcusta daOrdem. Partilha esse diagnóstico? Em campanha às vezes fala-se sem saber. A Ordem tem um orçamento de 20 milhões e há muita gente a prestar serviços que são necessários. Aformação é algo emque aOCC jamais deixará de investir e que tem umcusto elevado. Se queremos ter os melhores, aformação tem de ser bem paga. Se isso significa sustentar muita gente, é relativo. Aquestão era se não haveria uma concentração sempre nas mesmas pessoas e se elas são as mais adequadas. Temos os melhores e eu tive a oportunidade e o privilégio de ter os melhores a apoiar-me. Todas as formações daOCC têm umaavaliação e nenhum formador que tenha abaixo de três ou três fica na Ordem. São os membros que decidem. Portanto, nos custos com a for- mação não vai mexer? É muito difícil. Pelo contrário, queremos chegaramuitos mais membros e direccionar a formação face às necessidades. Quanto espera poupar no orçamento da OCC com as mudanças que tem em curso, nomeadamente nas remunerações? Temos aesperançade poupar100 mil euros por mês com ajudas de custo, remunerações dos órgãos, e extinção de comissões. A OCC tem estado historicamente muito próxima dos poderes político-partidários. É para manter? Não temos nenhum político dentro daOCC nestes órgãos. Foi umadecisão que tomámos. Não queremos estarassociados anenhumpartido político. Querem marcar uma ruptura? Sem dúvida. Somos apartidários, estaremos bem com todos, seremos amigos de todos sem sermos amigos de ninguém. Temos de ter uma relação próxima, claro que sim, o poder político tem de estar associado, é natural, nós temos de propor alterações legislativas, temos de ter uma voz activa nos projectos legislativos. Mas sem haver promiscuidades. Ainda em relação aos vencimentos, houve umadenúncia, buscas, um inquérito. Qual é o ponto de situação? Foi umadenúnciade ummembro que foi ver as contas, não concordou com algumas coisas e fez uma queixa ao Ministério Público. Está em processo, não faço ideia do que está subjacente. O que sei é que houve uma compensação de uns valores para alguns órgãos e que está a ser avaliado. Está em condições de dizer que nãohaverámaissituaçõesdessas? Não haverá, não tenho dúvidas. Aliás, há uma incompatibilidade entre pensionistas em exercício de fun- ções e isso tudo estará aser salvaguardado. Temos alguns pensionistas nos órgãos, que vão ter de prescindir daremuneração, e vão trabalhar‘pro bono’. Queremos tudo do mais transparente e aberto. De três em três meses terei relatórios com todos os gastos, publicarei as actas do Conselho Directivo, algo que nunca foi feito. Até agoranão se acediaàs contas? Não era fácil. Só com o prazo legal e muito restritivo. Nunca concordei com isso no passado e portanto fariasempre essamudança. Tudo o que aqui está é dos membros. Do que diz parece que a OCC era quase uma sociedade secreta. Os membros queixam-se que sim. Não digo que fosse, mas é a ideia de muito do exterior. Estava cá, sabia o que se passava. Eueraassessora. Mas acho que [a OCC] era muito fechada. E esse é um dos pontos de viragem.
“O bastonário Domingues de Azevedo construiu isto há 20 anos, o modelo está esgotado. Vamos repensar tudo.” “A OCC era muito fechada. Esse é um dos pontos de viragem.” “A AT tem abertura para conversar connosco mas não para resolver os problemas.”
Os contabilistas prestam um bom serviço público? Acho que ainda têm de prestar ummelhor serviço público. Mas têm de ter melhores condições paraprestar melhor trabalho. As obrigações fiscais têm aumentado desmesuradamente, as partes administrativas do processo ocupam 95% do trabalho, só restam5% parao que é importante, a análise, o acompanhamento ao cliente. Isto é um paradigma que tem de mudar. Por outro lado, as avenças são muito baixas.
Como se resolve o problema das avenças muito baixas?
Os preços devem aumentar. Os contabilistas têm de perceber que têm uma profissão muito exigente e aqualidade no exercício daprofissão também está relacionada com isso. Para aexercerem de forma correcta, não podem praticar determinados preços. Têm de ter tempo, o que significa terem menos clientes. Para isso, têm de ter melhores avenças.
A concorrência é grande. Como podem subir os preços?
Não existe assim tanta concorrência. Não pode haver avenças de 50 euros. Não dá sequer para organizar papéis. As pessoas perdem dinheiro. Quase que falaríamos aqui em dumping em muitas situações. A OCC tem ensinar os contabilistas a calcularem os seus custos, principalmente aos jovens que chegam ao mercado. E por isso queremos fazer tabelas orientativas e um simulador de cálculo de honorários.
Há muitos contabilistas em insolvência ou dificuldades financeiras?
Dificuldades financeiras sim, em insolvência não me parece que existam muitos casos. Os contabilistas ganham muito pouco dinheiro para o know-howque têm, os trabalhados que desenvolvem e as necessidades. Haverá alterações ao nível do controlo de qualidade? Suspendemos todas as comissões e vamos avaliar tudo. Obastonário Domingues de Azevedo construiu isto há 20 anos, neste momento o modelo estáesgotado. Vamos repensar tudo. E eu vejo o controlo de qualidade como umacertificação de qualidade, mais pedagógica do que punitiva.
E como deve funcionar essa certificação?
Não é para já, mas quando avançar, temde sercomumplano emque em dois, três anos, todos os contabilistas sejam visitados. Não controlados. É diferente.
“Os contabilistas devem aumentar o preço das avenças”