Internet é ponte entre avós e netos
Miranda do Douro Projeto da Associação LEQUE pretende colocar em contacto idosos com familiares no estrangeiro através do Skype
Ansiedade é a melhor palavra para descrever o que sentem por estes dias Jacinto Ferreira e a mulher, Maria do Céu Bernardo, 74 e 70 anos, respetivamente, com a possibilidade de verem os rostos do filho, do neto, das cunhadas e cunhados emigrados em França, quando falarem com eles pelo Skype. Não interessa se estão familiarizados com a linguagem das redes sociais, da Internet ou da informática, a vontade é tamanha que supera qualquer obstáculo técnico. “Nunca andei com isso da informática”, atira Jacinto. À cautela, vai dizendo: “Se calhar, até me dou”.
“Vai ser melhor do que o telefone. A gente pode dizer: ‘estou bem, estou bem’, mas até está mal. Ao ver a cara já não se pode mentir”, confere Maria do Céu, que se baralha com o telemóvel, mas deposita fé no computador.
O casal, residente em Duas Igrejas, Miranda do Douro, foi dos primeiros a aderir a um projeto da LEQUE – Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais, que pretende aproximar os avós transmontanos em situação de isolamento nas aldeias daquele concelho aos familiares emigrados.
Os idosos falam com frequência com a família residente em países distantes por telefone, mas à voz acrescentar a imagem “é outra coisa”, admite Jacinto. O vizinho Herculano Trindade, 74 anos, anda a ponderar meter-se nisto do projeto. “Tenho 28 netos, muitos em Es- panha”, conta. Está tudo a postos para, nas festas de Natal, Páscoa e 10 de Junho (Dia da Amizade) fazer ligações pelo Skype e pôr as pessoas a falar com familiares residentes em cinco continentes. Espera-se grande emoção e lágrimas, pelo menos, na primeira vez.
A LEQUE vai iniciar o projeto em Miranda do Douro por ser um concelho “com uma comunidade emigrada muito expressiva”, dá conta Celmira Macedo, a presidente desta associação, onde 30% dos jovens emigraram.
Projeto premiado
O projeto ganhou um prémio de uma instituição bancária para pôr a iniciativa em marcha. Quem parte e deixa a terra natal fá-lo com um aperto no coração, pois “deixam para trás os velhos, cada vez mais sozinhos e isolados nas aldeias”, acrescentou a responsável.
Através do projeto pretende fazer-se uma intervenção biopsicossocial. Isto é: “os técnicos vêm fazer a reabilitação psicomotora dos idosos e ao mesmo tempo farão ligações via Skype com os filhos emigrados”, destaca. Caso exista fuso horário entre Portugal e o país recetor dos emigrantes, faz-se o convite aos familiares para que gravem vídeos e mensagens que posteriormente serão introduzidos numa página do Facebook.
“Serão os idosos depois de capacitados com estas ferramentas do computador capazes de colocar informação para partilhar”, refere Celmira Macedo, que deposita uma grande esperança nesta ação.