Crimes e acidentes perturbam as crianças
Telejornais Miúdos gostam de notícias sobre animais e revelam total desinteresse por política e economia
Se as crianças fizessem um jornal a seu gosto, dariam mais páginas a notícias relacionadas com o meio ambiente, animais e tecnologia. Afinal, são as suas notícias preferidas. Patrícia Silveira, autora da tese de doutoramento “Crianças e notícias: construindo sentidos sobre a atualidade do Mundo”, apresentada na Universidade do Minho, revela ainda que são as notícias de acidentes e crimes as que mais impacto têm sobre os mais pequenos e que a política e a economia são domínios que não os cativam. “Não é com elas. Não lhes interessa”.
As notícias que mais agradam às crianças “relacionam-se com natureza, ambiente, animais e novas tecnologias”. As conclusões partem da análise de uma amostra de 685 crianças, com média de idades de nove anos, alunos do 4.º ano, residentes no concelho de Paredes.
“De uma forma geral, as crianças mostravam conhecimento sobre as temáticas principais, vão acompanhando as notícias. Das notícias de Economia e Política notava-se um grande afastamento, como se não lhes dissessem respeito”.
O que mais pesa nesse impacto da informação, descobriu Patrícia Silveira, é sobretudo a identificação. Quando os protagonistas são mulheres e crianças, “a criança co- loca-se na pele dos intervenientes da notícia, e acha que pode passar por experiências semelhantes.”
Por coincidência, Patrícia Silveira ouviu miúdos durante o período em que os jornais multiplicavam notícias sobre o duplo homicídio perpetrado por Manuel Palito e deparou-se com os medos e preocupações que as notícias suscitaram.
“Havia o receio de que pudesse acontecer-lhes. As crianças viveram intensamente esse episódio. Sabiam os pormenores da história”, diz. “Por género, as raparigas expressavam facilmente as suas emoções sobre as notícias; e os rapazes chegavam a ridicularizar a situação. As raparigas mencionaram um maior número de casos que envolveram crianças no papel de vítimas. Apesar de a notícia ser antiga (2007), houve quem se lembrasse do desaparecimento da Maddie”, refere a investigadora.
De qualquer modo, e apesar de ficarem perturbados com os acidentes, crimes, catástrofes, as crianças não são uma mera esponja, defende a investigadora. E aqui o papel da família, da escola e do grupo de pares é muito relevante. Recomenda-se a explicação do caráter excecional de alguns acontecimentos, recorrendo à utilização de linguagem adequada à idade e maturidade, e dando sempre espaço às questões colocadas pelos miúdos.