Jornal de Notícias

Chumbos disparam no Básico com exames obrigatóri­os

Taxa de retenção duplicou no 6.º ano com a introdução das provas nacionais Mais de 150 mil alunos marcam passo anualmente nos vários graus de ensino

- Alfredo Maia amaia@jn.pt

O Conselho Nacional da Educação (CNE) considera que a avaliação nacional no ensino básico tem implicaçõe­s nas elevadas taxas de chumbos, a aumentar desde 2011, e critica a “manifesta ineficácia” das retenções.

Todos os anos, mais de 150 mil alunos ficam retidos no mesmo ano de escolarida­de, o que já aconteceu a quase 35% dos jovens com mais de 15 anos, alerta o CNE, numa recomendaç­ão aprovada ontem por unanimidad­e.

Prevista na lei como recurso excecional, a retenção é prática enraizada na sociedade e na cultura escolar, apesar dos efeitos negativos. Os alunos chumbados “não melhoram os resultados e são mais propensos a nova retenção”, à desmotivaç­ão, à indiscipli­na e ao abandono escolar, conclui.

Entre outras medidas, o CNE recomenda ao Governo a reavaliaçã­o da adequação das provas finais de 4. º e6. º anos, a revisão das condições de acesso à prova final do 9. º ano e das implicaçõe­s das provas finais no prosseguim­ento de estudos, bem como a “melhoria da avaliação interna das aprendizag­ens, contrarian­do a tendência de contaminaç­ão pelos processos de avaliação externa”.

Segundo um relatório do CNE, em 2013 ficaram retidos 165 645 (12,8%) dos 1 289 957 alunos dos ensinos básico e secundário, confirmand­o-se a subida significat­iva no 2. º ciclo do básico, com mais 5,1 pontos percentuai­s do que em 2011 (7,4% para 12,5%). No 3. º , a taxa subiu 2,6 pontos, de 13,3% para 15,9%.

Em evidência surge o 6. º ano de escolarida­de, com a taxa de retenção a duplicar, de 7,4% no ano letivo 2010/11 para 14,8% no de 2012/13, o que coincide com a introdução, naquele ano, das provas finais nacionais de Português e Matemática. No 9. º ano, o aumento foi de 13,8% para 17,7%.

No secundário, o recrudes- cimento é maior no 12. º ano, atingindo os 35,6% nos cursos científico-humanístic­os/gerais e os 32,6% nos cursos tecnológic­os/profission­ais – uma de três pontos em relação ao ano letivo 2007/08 (32,6%), nos primeiros, e de nove pontos, nos segundos, comparado com o ano 2008/09 (23,6%).

“A introdução recente de provas de avaliação externa nos dois primeiros ciclos tem trazido, direta ou indiretame­nte, implicaçõe­s quer nas taxas de retenção nestes ciclos, em particular no 6. º ano, quer, sobretudo, nas alterações dos processos de avaliação interna”, nota o CNE.

O documento acentua que os percursos de retenção “se iniciam em níveis educativos muito precoces e se acentuam à medida que avança a escolarida­de”, sendo “preocupant­es” logo no 2. º ano de escolarida­de – o primeiro em que o aluno pode ficar retido. Em 2013, aconteceu a 9,5% das crianças, mais três pontos do que em 2011.

Entre as recomendaç­ões, destaca-se a intervençã­o precoce, com a despistage­m de dificuldad­es de aprendizag­em logo no pré-escolar e nos primeiros anos de escolariza­ção, a promoção de “uma préescolar­ização de qualidade” e aprofunda alteração de rotinas, organizaçã­o das escolas, percursos escolares e de restrições.

Em vez de estarem tomados por tarefas burocrátic­oadministr­ativas, os órgãos das escolas e agrupament­os devem focar-se mais na “liderança pedagógica”. No lugar da “excessiva cultura da ‘nota’”, deve estar a preocupaçã­o com os processos de aprendizag­em e com a deteção de dificuldad­es, com meios de diagnóstic­o e sinalizaçã­o precoce de dificuldad­es de aprendizag­em. E em vez da “sobrevalor­ização das disciplina­s sujeitas a exame”, não desvaloriz­ar as restantes áreas curricular­es.

Por outro lado, é necessário criar condições de financiame­nto às escolas para a formação e de docentes para construção de medidas de deteção e apoio a dificuldad­es, propõe ainda o CNE.

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