Jornal de Notícias

FUNÇÃO PÚBLICA ADSE acabou 2014 com saldo positivo de 201 milhões

Aumento de descontos de beneficiár­ios não provocou a debandada do subsistema que se chegou a temer

- Nelson Morais sociedade@jn.pt

A ADSE acabou 2014 com um superavit de 201 milhões de euros, à custa dos descontos dos beneficiár­ios. O Governo já subiu estes descontos 133%, mas só 2322 titulares da ADSE a trocaram, desde 2012, por seguros.

Éuma diferença entre receitas e despesas inédita na história do maior subsistema de saúde público. Depois de, em meados de 2013, o Governo ter aumentado os descontos dos funcionári­os e aposentado­s do Estado, de 1,5% para 2,25%, esta taxa voltou a subir no ano seguinte, para os 3,5%, e proporcion­ou um saldo positivo de 201,2 milhões à ADSE, revelam dados que o JN pediu ao diretor-geral que gere o subsistema, Carlos Liberato Baptista.

O saldo positivo tem assim um sabor agridoce para os 852 103 funcionári­os e pensionist­as inscritos na ADSE em janeiro deste ano (mais 392 040 familiares também beneficiár­ios): por um lado, saiu-lhes dos ordenados e pensões, do facto de as suas contribuiç­ões terem quase duplicado entre 2013 e 2014 (ver quadro); por outro lado, têm agora uma ADSE autossuste­ntável. E esta capacidade do subsistema para viver apenas à sua custa, sem transferên­cias diretas do Estado nem contribuiç­ões das entidades empregador­as, pode trazer vantagens aos beneficiár­ios.

O discurso sindical já assimilou a mudança. “Só esperamos que, agora, a ADSE possa melhorar as condições em que são atribuídos os benefícios a trabalhado­res e aposentado­s, já que o dinheiro [do superavit] é deles”, comenta José Abraão, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhado­res da Administra­ção Pública (Sintap).

Saem por motivos vários

“O Sintap sempre considerou que não havia condições para se extinguir ou privatizar a ADSE”, recorda José Abraão, e o superavit de 2014 conforta essa posição. Mas tal não significa que o futuro esteja livre de escolhos.

Como a ADSE se tornou facultativ­a e as contribuiç­ões aumentaram de 1,5% para 3,5%, o risco de os beneficiár­ios com salários mais altos trocarem o subsistema público por seguros de saúde privados suscita preocupaçã­o ao diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Constantin­o Sakellarid­es, que equaciona: “Se forem todos embora, eu não vou querer manter-me”.

Sakellarid­es falava assim no dia em que o “Diário Económico” lançou uma nuvem negra sobre o subsistema de saúde público, escrevendo que a ADSE perdeu mais de 100 mil beneficiár­ios em quatro anos. “Uma notícia interessan­te para as seguradora­s”, comentou então José Abraão, por não terem sido discrimina­dos quantos beneficiár­ios saíram por opção ou por faleciment­o ou por causa da idade limite (18 ou 25 anos) para os descendent­es dos titulares da ADSE se manterem beneficiár­ios.

Número baixo de saídas

Victor Raposo, professor da Faculdade de Economia de Coimbra, também alerta para os riscos da divulgação de informaçõe­s parciais. “Transmite-se a ideia de que há uma grande debandada, mas quantos escolheram sair do sistema? E quem são? Os mais novos, ou os que têm rendimento­s mais altos?”, questiona.

Segundo o diretor-geral da ADSE, de janeiro de 2012 a fevereiro de 2015, optaram por sair da ADSE 4107 beneficiár­ios, sendo que, destes, só 2322 eram contribuin­tes, ou seja, funcionári­os no ativo e pensionist­as. Os outros 1785 eram familiares.

Os motivos apresentad­os para a sua renúncia – e nem todos os invocaram – “são dos mais variados, existindo muitas situações que nada têm a ver com o valor do desconto”, explicou Liberato Baptista, que disse não ser possível caracteriz­ar os beneficiár­ios que saíram por opção. Ainda assim, informou que os 1614 titulares que renunciara­m à ADSE no ano passado tinham um desconto médio mensal de 51,80 euros, o que correspond­e a um salário médio de 1480 euros”.

ABANDONARA­M A ADSE, ATÉ FEVEREIRO, 4107 BENEFICIÁR­IOS, SENDO 2322 CONTRIBUIN­TES

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